O Viciado - Um caso real e sua cronologia.

Começou ainda novo. Antes mesmo dos dez verões completos, já tinha lá o seu registro. Sinistro! - diria alguns. Já se foi dito que a diferença entre remédio e droga é, nada mais, que a dose. Há de se saber...

Em vida, estranho. Em sonho, mil vidas. Unidas! Munidas, cada uma, de suas peculiaridades imperceptíveis e indesvendáveis a quem estava ao teu redor durante este período fértil da vida. Atravessara dos dez aos quinze anos submerso a fantasias que jamais teria coragem ou, sequer, capacidade de descrevê-los. Já tinha, correndo nas veias, a vontade cada vez maior. Nascia o vício. Impreciso. Imprevisto. Se comportava silenciosamente agitado. A mente, o peito, o corpo agitado. A voz, calma, leve. Exceto nos momentos de explosão - creio, então, não haver relação da mesma com o teu vício. Explodira-se em processos nervosos não muitas vezes, porém todas elas, memoráveis. Tinha amigos.

Se revelou por volta dos dezesseis. Nunca fora o orgulho da família, porém tinha - vez ou outra reconhecido - o seu talento. Já não tinha muito controle sobre si. Guardava escondido em teu quarto os utensílios necessários. O computador, como não podia ser diferente, uma fonte de informações, contatos e tudo o mais que precisava para continuar. Nisso, sempre se deu bem: fazer com que ninguém criasse suspeita acerca dos teus atos. Família, amigos, ninguém. Ninguém, jamais, parou para dar uma brecha a fim de que se soltasse o grito ali preso a anos. Isso deixou marcas. Aprendera desde cedo da pior forma – relacionando com amigos e família – sobre falta de oportunidade.

Passava noites em claro. Vezes sorrindo, se divertindo, vezes balbuciando prantos. Aprendera a ser silencioso desde antes mesmo de entrar pra essa vida. Não tinha noção – ou, quando tinha, não se dava conta – do que o vício acarretaria em tua vida.

Veio a juventude e, como não poderia ser diferente, com ela, a revolta. Quis mudar o mundo. A mesma incógnita de sempre: em um minuto se via capaz de tal feito, n’outro não se via capaz de dialogar com quem era presença diária em tua vida. Se culpava, culpava-os, culpa, culpa. Cresceu com dedos apontados. Aprendeu a apontar dedos (ato que, felizmente, aprendeu não ser eficaz de forma alguma – mesmo continuando convivendo com isso quase que diariamente). O grito, ainda preso.

Certo dia, não se agüentou. Assumiu-se de fato aos amigos e, o que mais temia, à família. Aos amigos, tudo bem. Muitos nem deram atenção, outros se impressionaram mas não passaram disso. Absorveram a idéia e guardaram em algum canto pela amizade. Era um rapaz de boa convivência. Não foi assim com a família. Treinou por dias, semanas, meses. Era essa a hora de assumir... a vida lhe apertava, o suor frio lhe descia a cada dia em que não alimentava seu vício. Era preciso soltar o grito que lhe tirava o fôlego e, vez ou outra, o sono.

Veio a oportunidade. Não poderia deixar escapar. Virou para a família e disse (com as mãos trêmulas, o peito emanava tensão), com voz calma e aliviada: sou poeta.

A partir de então, alimenta seu vício de forma aliviada... cada um sabe da tua alma, do que se alimenta e quais serão as conseqüências. Mas ele ainda se diverte... Pode mostrar a quem quisesse ver o seu pseudônimo que carregaria por toda a vida. Em decorrência do nome do pai em documento, herdou o Júnior. Da família, da honra e do mais real sentido do significado, herdou o Leal.

Assim se faz, alimentando, ainda hoje, seu vício. Aqui.