Mente sã (sua), corpo são (seu)

O sol ardia deliciosamente naquela manhã de outono, em que resolvi caminhar contornando o lago.

Era cedinho, pouco mais de sete horas, já havia tomado o café da manhã, vesti a legging mais confortável e o meu tênis mais apropriado, abusei do protetor solar e parti, com cuidado para que ninguém da casa acordasse, pois as minhas caminhadas gosto de realizar sozinha. Não falo nem ouço ninguém. A respiração é nasal, ritmada e renovadora.

Saí do condomínio, caminhei uns trezentos metros e lá estava ele, o lago, com toda a sua imponência, especialmente lindo com o refletir do sol. O contorno do lago deve estender-se em aproximadamente seis quilômetros, mais ou menos uma hora de caminhada no meu ritmo habitual.

Mesmo não acreditando que ele estivesse ali, o procurei discretamente, por baixo dos meus óculos escuros.

Convidei-o despretensiosamente, em outra ocasião, para ir até ali, e é claro, ele fez que não entendeu. Sempre faz isso quando não sabe o que responder ou talvez, apenas quer ser gentil. “Óbvio que ele não está aqui, vamos lá, acorda menina!”.

Comecei então minha caminhada em ritmo acelerado, postura ereta, boca fechada e um pingo de decepção.

Só queria ver, olhar nos olhos dele, perceber a real existência, para deixar de ser um mito, como ele mesmo diz. Ter uma longa conversa com ele deve ser incrível, à pesar que certamente eu não saberei o que falar, talvez, nem precise.

Casais idosos também caminhavam, lentos, mãos dadas, alguns falantes e sorridentes, outros pareciam nem lembrar que o outro estava ao lado, como se fossem um só. Havia também algumas mulheres em pequenos grupos e uns dois ou três rapazes correndo.

Eu já tinha completado mais da metade do percurso e continuava a caminhar absorta em pensamentos vãos, distantes e certos de que jamais iriam acontecer. Percebo que sou muito diferente do que ele me vê, e assim, deve ser ele também. Gostaria de desvendar o que há por trás daquela carranca fechada e erudita. Tanta cultura o tornaram incrédulo. No que será ele crê?

Os passarinhos ciscavam as sementinhas que caíam das árvores, uma suave brisa tocava em minha face.

Estava quase completando a caminhada, faltavam uns quinhentos metros. Uma lágrima teimou em cair, eu a enxuguei rapidamente. “Nem pense nisso!”. Ergo a cabeça. Ele não veio, nunca virá! São vidas e rumos completamente distintos. Seria maravilhoso se ele viesse...

Fui para casa, estava com sede. Com raiva e com sede!

Olhei para o céu, estava absurdamente azul! Seguro e continuamente azul.

Catia Schneider
Enviado por Catia Schneider em 09/06/2006
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