Enigma (II)

E assim, a vida continua. Dissimulados e hipócritas lares felizes.

F I M

Ana Paula salvou e imediatamente encaminhou para Antônio. Tinha pressa, era quarta-feira, o dia da semana que Alberto chega em casa mais cedo. Ele jamais poderia ler sequer uma linha do que Ana Paula acabara de escrever, enlouqueceria.

Então ela desligou o computador, ajeitou a escrivaninha – odiava as coisas fora do lugar – fechou a porta do escritório e foi até a cozinha. Precisava de café. Café quente, esse era seu combustível.

Este trabalho será fatídico. As editoras que sondara estavam excitadíssimas. Uma revelação bombástica e histórica, a consagração de sua carreira, entretanto, lhe custará muito caro, provavelmente irá lhe custar inclusive o casamento.

Ana Paula ama o marido mas também tem um enorme senso de justiça. E, se ele a amar realmente, terá que entende-la e apóia-la.

Ao chegar em casa Alberto beijou suavemente a esposa. Hálito de café.

- Você tomou café, Ana. O que aconteceu?

- Nada, querido – retrucou sem saber disfarçar o nervosismo – Deu vontade, está frio.

- Ana, você sabe que não pode tomar café! Está nervosa? O que houve?

- Apenas senti vontade, estou ótima, fique tranqüilo!

- Você tomou café a madrugada inteira diante do seu computador. Eu te conheço e sei o que te faz procurar cafeína... Terminou o livro?

- Não! – respondeu, muito rapidamente. – Apaguei tudo, devo iniciar novamente esta noite, estava horrível!

- Apagou tudo? – Alberto entendia cada vez menos, havia sim algo de muito estranho acontecendo. – Você só foi perceber que estava ruim no último capítulo? Desculpe querida, mas tenho certeza que você está me escondendo alguma coisa. Tem algo para me mostrar?

Ela desconversou:

- Não tem nada errado, amor... Eu só estou agitada porque preciso começar novamente e estou completamente sem inspiração. Isso passa. Vou ao supermercado, nossa despensa está vazia! Quer algo?

- Não, obrigado. Só o que quero agora é tomar um banho demorado. Volte logo!

Ela bateu a porta.

Ao ouvir o ronco do carro saindo da garagem, Alberto foi ao escritório e ligou o computador da esposa. Sentia-se péssimo em espionar o trabalho de Ana Paula, mas sentia que era necessário.

Ao acessar os documentos recentes, logo avistou: “ Enigma”. Último acesso, vinte e seis de julho, 14:02. “Isto fora há uma hora atrás!”. Clicou duas vezes, abriu-se uma janelinha: “Press your password” Usavam sempre a mesma senha para tudo. Ele digitou: HU8223897. OK. Senha correta. Abriu.

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- Alberto, espero que esteja com fome. Veja que delícia! Eu trouxe uns past...

Lá estava ele, de pé em sua frente, com todas as páginas do Enigma nas mãos.

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Continua...

Catia Schneider
Enviado por Catia Schneider em 12/07/2006
Reeditado em 12/07/2006
Código do texto: T192596