Zilla pouco imaginava os sentimentos que de longa data inspirava ao seu amigo de faculdade. Sempre com ele estava nos momentos bons ou ruins, fazendo de seu ombro um refúgio de paz, sem no entanto haver nada mais que isso entre eles.
Ela sempre foi avessa a contatos onde tivesse que abrir realmente o coração e seu espírito pouco aventureiro a fazia seguir pela vida, apenas arrastando a rotina necessária para poder cumprir as horas de seus dias. Já não buscava mais ninguém e nem sonhos de amor nutria.
Foi por isso  que com imensa surpresa  recebeu as flores que o fidalgo amigo lhe enviou numa tarde e ao ler o bilhete escrito romanticamente não conseguiu disfarçar um riso de contentamento e pensar em como ele era tímido e a respeitava, pois fizera das flores a mensageira de sua declaração.
Ele fôra um perfeito cavalheiro,  sabendo agir como ela sempre sonhara, seduzindo-a , sem investidas diretas e sim com galanteios, enaltecendo-lhe a beleza e mostrando que a apreciava.
Há algum tempo notava que ele queria dizer-lhe algo mais profundo ou percebia um olhar mais carinhoso, mas não deixou nenhuma brecha para uma aproximação maior e além disso ela sabia que tempos atrás o rapaz havia sofrido grande decepção amorosa, passando então a ser arisco com coisas do coração. Comovida,  resolveu então dar-se um presente e ficar com ele, revelando sua afeição assim que voltasse da pequena viagem que fazia.
Porém os dias passavam, a emoção acalmou e restou apenas um leve perfume das flores esquecidas no vaso, já quase secas.
Ela não mais entrara em contato com ele, não sabia por onde andava e nem telefone tinha. Pouco se preocupava, era totalmente desligada em matéria de comunicação, aliás ficava dias sem sair de casa ou saber notícias de seus próprios familiares.
Naquela noite, Zilla sonhou que algo ruim havia acontecido, não lembrava o que e deu de ombros, pois sonhava muito com várias coisas. Acordou entontecida, sem graça, sentiu o coração fremente por alguns minutos, depois acalmou-se e voltou à sua rotina de todas as manhãs.
O ramo de flores que ganhara dele estava já quase todo seco e ela pegou-o para jogar no lixo quando percebeu ali entre as folhas um papel bem dobrado. Julgou romantica a maneira de seu amigo mandar recado e culpou-se por não ter percebido logo. Abriu delicadamente o bilhete e leu:
"Se as flores murcharem
e não me responder,
saiba que foi meu único amor
se com você não posso viver
quero morrer..."
Ela leu o recado sorrindo pelo exagero do conteúdo, sabia que ele era bem metódico em suas decisões, mas nesse caso era e só podia ser brincadeira. Sua fisionomia mostrava ansiedade quando atendeu o telefone, minutos depois e recebeu a notícia ...
Zilla então compreendeu que tivera o amor ao seu lado,  o tempo todo sem o reconhecer, que ele a via com tanto respeito e carinho que em  sua timidez afastou-se, para então se declarar. Ela na sua haaitual calma e fechada demais a contatos não dera demonstração de que havia gostado e a cena final, foi passada no pequeno cemitério da cidade, numa tarde nublada e fria de outono, quando pessoas passaram e comentaram o porque de um rapaz tão paciente ter imprimido tanta velocidade ao carro  naquela curva tão fechada.

 

                 Em algum lugar, simples cantinho,
                 está a flor que mingua já sem carinho,
                 no jardim, onde antes admirada,
                 amou sem saber
                 e também foi muito amada

            

                 

   24/11/09      **Marilda** (lavienrose)

Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 25/11/2009
Reeditado em 01/07/2014
Código do texto: T1943029
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