Desnudo

Ausentando-me da realidade encontro fuga nas memórias que tenho em minha essência. Aquela casinha pequena e suja, porém cheia de felicidade. É incrível como uma separação pode nos trazer tantas conseqüências. Devia ter a beijado mais vezes. Ah, como eram doces os seus lábios. Era toda doce, ainda a sinto ao meu lado. Sentimentos de segurança e paz me invadem. São tão boas as figuras que me tomam a mente. Como ousei um dia recusar teus abraços? Não me conformo com minha estupidez. Abraços, carícias imensuráveis. Sim, imensurável é uma boa definição para tanta alegria. Ela é bela, veja só como ela anda! Seus passos são a melodia que embalam o dia de todos, posso sentir que todos a veneram. Estou embasbacado com tanta formosura. Como és miúda e bela! Cabes na palma de minha mão.

E como um leve borrão, as pessoas passam por mim. Como se o mundo diminuísse sua velocidade, a vi caminhar em minha direção. Tento afastar essas imagens de felicidade que me invadem os pensamentos, mas não consigo. São de momentos de tamanha fortuna que me vejo incapaz de não pensar nela. Teu sorriso é tão belo, tuas têmporas são levemente rosadas e ganham certo destaque em seu pálido rosto. Teus braços são longos e finos, me lembro de quando os tocava com as pontas dos meus dedos e fazia você sentir leves rebuliços. Mas são esses que te causam certo deleite. Tua face ainda tem ares de menina moça, mas tens traços de malícia já usufruídos. Tua mobilidade surda é maviosa, acompanha o ritmo da cidade, ou será ela que te acompanha?

Lembro como a dor que senti já me era usual, e ela volta me atingindo como um raio certeiro. E ainda dizem que raios não atingem o mesmo lugar duas vezes. As pessoas esbarram em mim, mas não me incomodo pois sou inatingível ao lado dela. Ela é minha, e só minha. Nem mesmo a penumbra da noite pode roubá-la de mim. Teus cabelos morenos brincam com o vento, vão de um lado para o outro com uma inocência pura. És tu, tenho certeza. Para ti meu amor, nunca mais recusarei uma só palavra. Quero gritar para o mundo “eu te amo”! Não tenho medo de dizer tais palavras, pois essas sim são reais, são verdadeiras. Estou extasiado! Abro minha boca, as palavras estão prestes a brotar dela. Tu estás a menos de dois passos de mim. Posso te alcançar, posso te sentir em sua grandeza. Deixe-me sussurrar ao pé do teu ouvido “eu te amo”. Permita-me ser seu novamente, quero apenas ser.

E enquanto você finca pé ante pé no chão, teus olhos acidentalmente cruzam com os meus. Meu corpo inteiro se arrepia com um leve espírito de verdade que me cruza o caminho. És tu, tenho certeza. E ainda vejo aquele sorriso no canto esquerdo dos lábios. Ah, como és bela. Ouso pronunciar as três tão clamadas palavras enquanto esbarro casualmente em ti: eu te amo. E em um segundo, tudo volta ao seu ritmo normal, com direito a buzinas e tudo. Acabou, o momento se acabou, assim como você. Tua imagem se perde na multidão, e não hesito em segui-la. Eu sei o caminha que irás percorrer, tu irás para onde não ouso voltar, não voltarei nunca mais a tão sujo lugar. Tudo volta ao que era antes e as crianças não haveriam porque deixar de gritar. O dia está tão claro que consigo ver as partículas de sujeira a flutuarem pelos ares da cidade. As pessoas continuam a esbarrar em mim e isso me irrita profundamente. Saiam do caminho! Pode deixar que eu mesmo saio. Me dirijo para o centro da rua movido por um impulso: vê-la uma última vez. Um táxi quase me atropela e grita comigo. Eu vejo que ele está muito bravo pois vejo sua expressão facial, mas não escuto uma só palavra do que ele diz. Eu consigo notar toda a movimentação ao meu redor, mas não escuto um só som, apenas aquela música que não me abandona os pensamentos. Quando a verdade é, eu sinto sua falta...

Stephanie Correia
Enviado por Stephanie Correia em 08/08/2006
Código do texto: T212026