O PEQUENO TONHO

Era um menino franzino que vivia solto pelas ruas e jardins daquela cidade. Sua vida se resumia em pedir esmolas e brincar correndo entre as árvores, rolando pela grama.

A mãe, uma mulher que mostrava em seus traços ter sido um dia bonita e que não deveria muita idade apesar das marcas no rosto, passava o dia sentada embaixo de uma árvore quase sempre embriagada.

O dinheiro que o pequeno conseguia esmolando era destinado em sua maioria na compra de bebidas.

Mas ela, à sua maneira, o amava e o considerava o único motivo que ainda a mantinha viva.

Em uma tarde de inverno a mãe meio cambaleante segura a mãozinha de seu filho e tenta atravessar a rua para conseguir algo para comer na padaria que ao lado de um posto de gasolina. Já estavam quase alcançando o passeio quando um carro em alta velocidade desliza na película de água formada pela fina chuva atropelando os dois. As pessoas agrupam-se procurando saber o que aconteceu parando i transito. Chega a ambulância e os leva para um hospital próximo.

Os médicos logo detectaram que a mulher já está sem vida, mas a criança precisa de cuidados urgentes.

Todos se compadeciam daquele corpinho tão desnutrido. Na sala de cirurgia é decidida a amputação da perna direita.

Os dias passam e a vida consegue vencer as dificuldades surgidas estabilizando o quadro daquela pequena criança. Dois meses depois Tonho, pois este era o nome que era conhecido, já está quase bom, mas em seu rosto existe uma tristeza imensa, porque a saudade da mãezinha era dolorida de mais, e ele sentia-se muito só.

Quando chega o dia da sua saída do hospital, ele segue acompanhado da assistente social do hospital para um lar de acolhimento infantil mantido pelo estado. Lá chegando é levado para um grande quarto com muitas caminhas, onde a sua está ao lado de uma que tem outro menino deitado. Este seria seu lar até quando só Deus o saberia. Desconfiado ele olha para aquelas pessoas desconhecidas e chora com receio do que pode lhe acontecer.

O menino da caminha ao lado diz a ele chamar-se Nico, e levantando com certa dificuldade, aproxima-se dele. Era um garoto muito pálido com grandes olhos castanhos e que se sustenta em uma muleta improvisada devido ter somente uma parte da perna esquerda.

Tonho o olha curioso, pois imaginava que somente ele estaria somente com uma perna. Olham-se analisando-se mutuamente, e naquele momento nasce uma grande amizade.

Nico pergunta-lhe o que houve, e depois lhe conta também sua história. Tonho diz que levaram sua perninha para consertar e nunca mais devolveram. Nico lhe diz que não fique triste, pois terá nele um amigo e que o ajudará a conseguir voltar a andar.

Vários meses passaram. Os dois meninos não se desgrudam. Nico arranjou uma muleta pequena, feita com um cabo de vassoura, para seu amiguinho, lhe ensinado a equilibrar-se para andar, mas Tonho gostava mesmo é de sair pulando feito um pequeno Saci.

Um dia imaginam que se os dois ficassem com as mãos um no ombro do outro, talvez conseguissem andar, só precisariam treinar bastante. Foram muitas quedas e muitas risadas que fizeram com seus dias ficassem mais alegres.

Certo dia Nico não quis levantar, sendo levado pelos “homens de branco”. Nunca mais voltou. Contaram a Tonho que Nico havia se tornado uma estrela.

O pequeno Tonho perdeu a vontade de brincar, já não sorria, andava sozinho e volta e meia lágrimas escorriam pelo seu rostinho.

Um dia em que a saudade e a solidão estavam machucando seu coraçãozinho, ele pegou uma florzinha e colocou nos pés da imagem de Nossa Senhora que havia no pátio. Fechando os olhos pediu à santa para que o levasse também para junto da sua mãe e do Nico. Sentiu então que alguém havia chegado, e virando-se viu Nico sorrindo para ele, e imagina só, com as duas pernas direitinhas. Nico disse, então, que não mais chorasse, que tivesse fé em Jesus e esperança que sua vida ainda ficaria mais alegre. Disse-lhe, também, que ele não desapareceu, apenas estava vivendo em outro lugar, que estava muito feliz, mas que estaria sempre ao lado dele toda vez que ele estivesse triste para conversarem. E aos poucos foi desaparecendo. Deste dia em diante Tonho voltou a brincar e a sorrir, e todos acreditavam estar brincando com um amiguinho imaginário.

“Imaginário”!!! Ele agora, já adulto, ria pensando em como as pessoas são bobas em não darem crédito ao que contam as crianças sobre seus amigos que ninguém vê. Todos nós, acredita Tonho, temos sim um amigo “imaginário” que nos ajuda a suportar as duras provas da vida ou que se alegra com nossa alegria, basta que acreditemos e jamais percamos a fé.

Rosinha Barroso

16/05/2010