Confissões de um café quente

Logo pela manhã, foi ouvido em toda a região um baita estrondo.

Não sabia Rufino que sua manhã seria uma daquelas.

Chuva, chuva e mais chuva.

- Puta que pariu... logo agora, tenho que sair cai essa chuva !

Terminou de arrumar-se, pegou sua pasta, os planos das reuniões e bateu a porta em seguida.

Desceu de seu apartamento para a recepção do prédio e logo viu-se no trânsito caótico da cidade.

O taxista comentou que havia um caminho alternativo para o destino de Rufino.

Que alternativa...Ficou mais preso no trânsito que nos outros dias. Parecia que todo resto da cidade havia descoberto aquele trajeto. Durou mais de uma hora até chegar ao trabalho. - Sorte do expediente começar mais tarde.

Enfim, despejou suas coisas na mesa de trabalho, pendurou o paletó no encosto da cadeira e dirigiu-se à máquina de café.

Puxou algumas moedas do bolso da calça, escolheu café expresso duplo.

Depois de retirar o copo com sua bebida preferida, voltou para seu canto. Bem no canto.

Olhou pela janela, viu o céu encoberto, nuvens carregadas e as luzes da cidade ainda acesas por causa da escuridão.

Primeiro gole de café, tornou seu olhar para o monitor e lá estava... - ah saudade! Por que não tivemos mais tempo? Por que você me deixou? Não fui bom o suficiente?

Rufino fincou os olhos naquela foto que permanecia em seu descanso de tela o tempo bastante para admirar a mulher que um dia o deixara. Lembrou-se das conversas, risadas e do último dia em que ele parou no hospital de tanta embriaguês pela maldita despedida.

Enfim, deu umas duas piscadas para retornar à realidade. Suspirou, olhou para fora da janela novamente. O céu não estava tão escurou, uma ponta de azul e sol surgia lá no fundo e já não chovia.

Mais alguns goles de café, encostou-se na cadeira, quase que deitando.

- É mais um dia pra eu viver.