Analfabeta Saudade
Manoel, estava decidido a mudar sua vida, tornar realidade o projeto "contacto", ou seja, escrever -que forma antiga!- à todas as
suas "ex namoradas," e olha, eram muitas. Há quem jura tratar-se
de uma leva que daria para lotar auditório de 200 lugares.
Eram cinco da matina e ele o Dom Juan, já se encontrava aflito para
ir até a Papelaria mais próxima, comprar todo o material pertinente ao
projeto. Não dormira. Finalmente lá pelas 10 horas, já se encontrava
de volta e só aí se apercebeu das imensas dificuldades para levar a
cabo a ideia louca. Ele mesmo reconhecia ser -como na linguagem dos
jovens- uma parada pra lá de indigesta. Primeiramente, ele nunca fora
de escrever, aliás, na verdade ele detestava escrever. Por absoluta
incapacidade mesmo. O máximo que ele escrevia era uma aposta de
jogo. As cartas por certo, se afogariam em erros e na pobreza de
ideias. Um desastre! E os endereços? A outra questão era se todas
elas ainda estariam livres.Eis aí outro complicador. Mas afinal, livres
pra quê? (Uma boa pergunta!). Onde queria ele chegar com tal absurdidade? Foi aconselhado por amigos a desistir de tão esdrúxula
ideia.
Bem, o Dom Juan, popularmente conhecido por Noca, fora
caminhoneiro por certo tempo entre São Paulo e a Região Nordeste
no transporte de grãos. Isso, nos últimos dez anos. Noca, agora já
aposentado, teve esse surto de "iletrada saudade" e levou à diante
essa louca psicose. Então, contratou os serviços de um escritório e
executou o projeto. Inseguro e tenso, achou melhor reduzir o
contingente de 39 contactos para apenas 17. Ufa!
Após o envio das cartas, Noca passou por alguns dias de tensão e
insônia. As vezes que dormia era assaltado por terriveis pesadelos.
Certa tarde, o carteiro lhe entregou nove cartas. Sob tensa e
visível ansiedade, foi abrindo uma a uma e começou a perceeber
decepcionado que o conteúdo delas, na maioria, era de questões e
problemas sobre os quais, em momento algum da vida, ele havia
cogitado. Três dessas correspondências configuravam uma tremenda
"saia justa". Pois, através do juizado de Família da Comarca de Maceió,
três de suas "ex", reclamavam o benefício de Pensão Alimentícia,
reivindicando a paternidade de Noca para seus rebentos. A solicitação
de comparecimento estipulava o prazo de 10 dias. Em outras
duas, o conteúdo era assemelhado às primeiras com uma diferença;
nos Municípios de Pacatuba e de Euzébio, no Ceará, haviam sido
expedidos dois mandados de prisão, um por abuso e exploração de menor, e o outro sobre convocação para efetuar exames de DNA, a fim
de atestar paternidade, ou não. Em caso afirmativo deverá ser enquadrado na Forma da Lei por fuga e omissão de responsabilidades
em todos os graus, para com a infância. E agora?
Noca, despencou no sofá com cara de "João Bobo", pois ao remeter
as correspondências, escancarara sua folha negra conténdo os delitos
e .excessos cometidos no passado. Que tolo! Agora, só lhe restava
pensar numa saída. E a única e mais viável de todas, era decidir por
uma estratégica fuga, já!
Durante horas pensando, traçou o esquema visando desaparecer do
mapa sem deixar rastros. Ligou para seu ex parceiro de estrada,
Carlão, o único amigo de confiança total e com ele viajar no dia seguinte
de madrugada. Queimou as correspondências e documentos os quais
pudessem comprometê-lo. Levaria uma pequena maleta com algumas
roupas. Quanto aos bens domésticos, deixaria tudo. O imóvel era
de aluguel com obrigações contratuais em dia. Levaria as economias de
alguns anos e que daria para iniciar vida nova num lugar distante, e de
preferência na zona rural. Tratou até de bolar um disfarce e à meia
noite acomodou-se no sofá para um cochilo até às 4 horas.
Porém, mal se acomodou, sentiu-se apavorado com sirenes escandalosas de viaturas policiais que chegavam velozes e com faróis altos promovendo afrontosa intimidação.
Os agentes policiais anunciavam que ele estava preso e que não resistisse a prisão pois a casa estava cercada.
Fim da linha para Noca, o Dom Juan nordestino. Ele fora vítima em
potencial, de sua analfabeta e imbecíl saudade.
Manoel, estava decidido a mudar sua vida, tornar realidade o projeto "contacto", ou seja, escrever -que forma antiga!- à todas as
suas "ex namoradas," e olha, eram muitas. Há quem jura tratar-se
de uma leva que daria para lotar auditório de 200 lugares.
Eram cinco da matina e ele o Dom Juan, já se encontrava aflito para
ir até a Papelaria mais próxima, comprar todo o material pertinente ao
projeto. Não dormira. Finalmente lá pelas 10 horas, já se encontrava
de volta e só aí se apercebeu das imensas dificuldades para levar a
cabo a ideia louca. Ele mesmo reconhecia ser -como na linguagem dos
jovens- uma parada pra lá de indigesta. Primeiramente, ele nunca fora
de escrever, aliás, na verdade ele detestava escrever. Por absoluta
incapacidade mesmo. O máximo que ele escrevia era uma aposta de
jogo. As cartas por certo, se afogariam em erros e na pobreza de
ideias. Um desastre! E os endereços? A outra questão era se todas
elas ainda estariam livres.Eis aí outro complicador. Mas afinal, livres
pra quê? (Uma boa pergunta!). Onde queria ele chegar com tal absurdidade? Foi aconselhado por amigos a desistir de tão esdrúxula
ideia.
Bem, o Dom Juan, popularmente conhecido por Noca, fora
caminhoneiro por certo tempo entre São Paulo e a Região Nordeste
no transporte de grãos. Isso, nos últimos dez anos. Noca, agora já
aposentado, teve esse surto de "iletrada saudade" e levou à diante
essa louca psicose. Então, contratou os serviços de um escritório e
executou o projeto. Inseguro e tenso, achou melhor reduzir o
contingente de 39 contactos para apenas 17. Ufa!
Após o envio das cartas, Noca passou por alguns dias de tensão e
insônia. As vezes que dormia era assaltado por terriveis pesadelos.
Certa tarde, o carteiro lhe entregou nove cartas. Sob tensa e
visível ansiedade, foi abrindo uma a uma e começou a perceeber
decepcionado que o conteúdo delas, na maioria, era de questões e
problemas sobre os quais, em momento algum da vida, ele havia
cogitado. Três dessas correspondências configuravam uma tremenda
"saia justa". Pois, através do juizado de Família da Comarca de Maceió,
três de suas "ex", reclamavam o benefício de Pensão Alimentícia,
reivindicando a paternidade de Noca para seus rebentos. A solicitação
de comparecimento estipulava o prazo de 10 dias. Em outras
duas, o conteúdo era assemelhado às primeiras com uma diferença;
nos Municípios de Pacatuba e de Euzébio, no Ceará, haviam sido
expedidos dois mandados de prisão, um por abuso e exploração de menor, e o outro sobre convocação para efetuar exames de DNA, a fim
de atestar paternidade, ou não. Em caso afirmativo deverá ser enquadrado na Forma da Lei por fuga e omissão de responsabilidades
em todos os graus, para com a infância. E agora?
Noca, despencou no sofá com cara de "João Bobo", pois ao remeter
as correspondências, escancarara sua folha negra conténdo os delitos
e .excessos cometidos no passado. Que tolo! Agora, só lhe restava
pensar numa saída. E a única e mais viável de todas, era decidir por
uma estratégica fuga, já!
Durante horas pensando, traçou o esquema visando desaparecer do
mapa sem deixar rastros. Ligou para seu ex parceiro de estrada,
Carlão, o único amigo de confiança total e com ele viajar no dia seguinte
de madrugada. Queimou as correspondências e documentos os quais
pudessem comprometê-lo. Levaria uma pequena maleta com algumas
roupas. Quanto aos bens domésticos, deixaria tudo. O imóvel era
de aluguel com obrigações contratuais em dia. Levaria as economias de
alguns anos e que daria para iniciar vida nova num lugar distante, e de
preferência na zona rural. Tratou até de bolar um disfarce e à meia
noite acomodou-se no sofá para um cochilo até às 4 horas.
Porém, mal se acomodou, sentiu-se apavorado com sirenes escandalosas de viaturas policiais que chegavam velozes e com faróis altos promovendo afrontosa intimidação.
Os agentes policiais anunciavam que ele estava preso e que não resistisse a prisão pois a casa estava cercada.
Fim da linha para Noca, o Dom Juan nordestino. Ele fora vítima em
potencial, de sua analfabeta e imbecíl saudade.