Saíram de casa sós...

Saíram de casa sós. Ninguém sabia de nada. O mundo era só deles. Cada esquina, cada quarteirão... Poderiam ir até onde suas pernas e seus bolsos agüentassem. A liberdade estava no ar, no asfalto e nos sapatos gastos, mas era como uma moeda; tinha dois sempre lados.

Não podiam continuar vivendo da mesma maneira, afinal suas ações soariam como versos de um poema decorado e vomitado; agoa tinham a condição de livres. Tinham de dançar com o mundo e fazer o mundo dançar com eles. Sentir muito vento na cara.

Podia tanto ser o fim como um recomeço. Dependia tanto deles quanto dos outros. Era uma situação relativamente difícil escolher um primeiro destino. Cada coisa tinha que ser cuidadosamente pesada. É muito complicado pensar quando não se tem para onde ir ou ir para algum lugar quando não se consegue pensar. Uma pausa para descanso e meditação.

Sentaram-se num banco da praça e apreciavam o céu, quando decidiram partir de lá assim que a noite caísse, pois o por-do-sol estava bonito demais para ser deixado por eles e, além do mais, era gratuito, coisa importante para alguém tão abonado quanto os dois.

Liberdade é um artigo tão raro que não tem preço. O que é ser livre? Será que é estar solto no mundo como eles dois? Liberdade talvez seja uma criança bem pequena, sonhadora e ingênua... Ou então quando um país rico bombardeia e invade um pobre... Liberdade é disciplina? É responsabilidade? Liberdade é liberdade..!

Um passo atrás do outro e lá iam eles pela imensidão do mundo. Sim, porque agora não andam mais nas ruas ou na cidade, estão vagando pelo mundo, coisa muito diferente. Os seus destinos eram muito maiores.

A liberdade era muito diferente do que eles pensavam ser. Era muito maior que tudo. Eles talvez estejam se cegando com as luzes do lado de fora da caverna. Talvez sejam platônicos...

A liberdade parecia até tediosa... Talvez fosse mais fácil ou mais divertido ser enganado. Sentiam muita falta do poder, do status. Não havia ambição na liberdade, pois nela tudo funciona como histórias para educar crianças. O ser livre não sente necessidade disso e eles tinham vontade de sentí-la. Eram preto no branco...

Resolveram então voltar atrás. Meia-volta volver! E pronto? Tudo ia se desfazer como num passe de mágica? Tão fácil assim? É, as flores murcharam...

E então os dois voltaram de saco cheio da liberdade. Eles também gostavam de violar normas... o homem livre não tem normas, ele é ilimitado. Será que alguém já foi livre? Gandhi, Jesus... Algum desses era livre? Nem os garotos devem saber, afinal eles resolveram voltar para casa. Pra mim, a liberdade só funciona como palavra mesmo...

Os garotos pularam o muro de casa, brincaram um pouco com os cachorros, subiram uma árvore e por um galho dela entraram em seu quarto pela janela. Tomaram um banho, beijaram seus pais e foram dormir.

Vermelho
Enviado por Vermelho em 25/01/2005
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