" Nenhum poço de queixumes"
 

Estava mais tranquilo do que nunca. Havia alcançado a aposentadoria há muito sonhada. Agora, era tocar a vida, casado já há algum tempo. A rotina parecia-lhe confortável... Por outro lado, sua mulher estaria inclusa nesta rotina e não era nenhum poço de queixumes.

Sentir falta do uniforme de trabalho?...Não jamais... Sentia-se mais afoito em poder usar diariamente suas roupas, então guardadas para fins de semana... Olhava o espelho agora mais convencido que o grisalho de seus cabelos, que o preocupara tantas vezes, tornara-o mais seguro de um certo charme. Seria este o motivo do largo sorriso a ele dirigido pela menina do caixa no supermercado?

Era encorajador este pensamento, então não custaria nada contribuir (duplamente)... a esposa ficaria grata pela ajuda e alguma promessa evoluiria entre ele e a moça do caixa.

Com um certo ar prazeroso, trazia o pão quentinho ainda para o café da manhã, e deslizava o carrinho carregado de compras pelos corredores do supermercado, era uma delícia. Estava um tanto destreinado e ir diretamente ao ponto poderia sair caro, decepcioná-lo... A moça não era uma desconhecida, e para facilitar ela teria que passar no caminho de sua casa, quando retornasse do trabalho.

Traçaria um plano, queria agradá-la (seria um bom começo) numa conversa informal. Um certo dia ela dissera a ele ser uma apaixonada por caquis. Que sorte! O caquizeiro do seu quintal estava carregado. Agora era questão de tempo e combinar. Assim foi feito. Deixaria um ou dois caquis no muro diariamente e a moça do caixa os apanharia quando voltasse do trabalho. Dois ou três dias, funcionou perfeitamente. Agora, tudo ou nada, pensou. Entrou em ação no dia seguinte.

Escreveu-lhe um recado amoroso e deixou no muro sob os caquis (exultava, prevendo o resultado). Mas quem nunca fora um poço de queixumes, observava silenciosamente cada movimento, como um jogo de xadrez, neste tabuleiro de sedução... Chegada a hora, xeque mate!

Os caquis e o bilhetinho amoroso foram servidos como almoço ao charmoso conquistador... Mas a coisa foi mais além. Amigos e vizinhos ficaram sabendo do feito. E o pior de tudo foi ter ganhado o apelido, e com testemunho,... Seu Caqui.

27/07/2010

IZA SOSNOWSKI
Enviado por IZA SOSNOWSKI em 27/07/2010
Código do texto: T2402406
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