O momento de Marie

Marie abriu os olhos naquele instante. Estava deitada em um sono suave no tapete da sala. Mexeu as mãos com calma, levantou a cabeça devagar e observou a sala quieta. Pensou: Normalmente não é assim.

Fez uma força e o impulso fez seu corpo levantar. Suspirou em um respiro intenso e deslizou os pés no tapete, enquanto as pontas dos dedos tocavam o encosto do sofá. Marie caminhava como quem deixa o futuro lá fora batendo na porta e abraça o passado como sendo seu melhor amigo. Marie fazia as mãos dançarem no ar e sem esperar mais nada naquele dia, sentou-se por um instante na poltrona preta, do melhor couro já visto.

Encostou-se e deitou a face de lado, olhando os retratos na mesa, ergueu os olhos para o teto e começou a pensar em que dia poderia limpar as teias de aranha que já começavam a fazer moradia.

Marie estava precisando de uma história nova. Virar a página, abrir seu próprio livro e esquecer mais um dia ruim da vida.

Fechou os olhos, uma lágrima quase seca desceu o rosto, desenhando uma dor incontrolável na pele pálida.

Colocou-se em pé novamente e um ar entrou pelos pulmões enquanto levava seu corpo cansado escada acima.

Passo a passo, Marie estava tentando se entender no meio de todo o furacão.

Passou por duas portas, que decidiu não abrir. Na terceira, entrou.

Parou por alguns segundos observando o quarto e um prato correu pela alma.

Não era o primeiro nem o ultimo choro, não era a primeira pontada de dor e nem a ultima lástima dela.

Mas era o momento em que ela se dava conta que estava de fato acabado.

Não era um romance.

Não era uma esperança.

Não era uma prece.

Nem mesmo era um sonho.

Era uma vida.

A vida de alguém que Marie se importava muito... E que com certeza se importava muito com ela.

E no fundo, ela sabia...

A dor iria passar.

Mas aquele aroma inquietante... Ah sim...

Aquele aroma iria ser eterno.

... For you, Dad, takes care of me wherever you are ...