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Vinte e três. Nunca foi meu número preferido, mas não sei porque, eu quando moleque, ou melhor dizendo, quando criança (porque moleque ainda sou), sempre que pensava em algum fato importante na minha vida, estabelecia a idade certa como vinte e três anos. Eu ia me formar na faculdade aos vinte e três. Eu ia fazer aquela sonhada viagem aos vinte e três. Até mesmo meu casamento, seria quando eu completasse os vinte e três. Vinte e três. Muito mais de vinte e três vezes caindo e me levantando. Muito mais de vinte e três vezes depois tendo que dar minha cara à tapas. Muito mais de vinte e três ilusões que se travestiram de amores depois, cá estou eu. Não contei quantos goles do conhaque, nem quantos cigarros, mas se passaram exageradamente dos vinte e três. As perfurações em meu corpo também se excederam aos vinte e três. Vinte e três filho da puta que tanto me atormentava, atormentou e me atormenta, que não sai da minha cabeça. Minha luta agora é para tentar chegar aos vinte e três. Depois disso eu deito numa grama qualquer, olho a lua, bebo o conhaque e penso o que fazer. Mas até lá, a luta ainda há muito de me ferir...