UM CARNAVAL E OS DESCAMINHOS...

É carnaval... Tá chegando a hora...

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Deteve-se se olhando no espelho e pensou que não vislumbrava nenhum amanhã, nenhuma estrela no céu. Ao redor, um fogo cruzado... nenhum ladrão, apenas se depara com um cara cansado da vida de beberrão.

Foi olhando pró passado, tentando pegar o fio da meada:

- Como começara o DEScaminho?

- Onde ficou o caminho "certo" agora sem volta?

- Como chegou à fase da sua rebelde revolta?

De mão em mão foi saindo de garoto para rapaz, crescendo num "ringue" familiar, entre repressão e agressão de pai violento e os gritos desanimados da mãe, tida por juízo mole de "beldade alienada" e que acabou seus infortunados dias num hospício, por paixão proibida numa desnuda madrugada.

Quase adulto, inconsequente e inconsciente, levou a sua incerteza para a mesa dos bares. Se sentia como um a visita de "mais de três dias" na casa do próprio pai.

E lembrava que a mãe lhe dizia: - 'Não fica muito tempo... O hóspede e o peixe, ao fim de três dias aborrece...'

Mesmo assim, teve uma educação esmerada e imposições rígidas como se fosse "UM" da casa.

Como se fosse... Mas não era.

Tomando pé da situação, tornou-se rebelde, espírito de porco e de maus fígados, repudiando tudo e todos. Daí que o que conseguiu foi apenas companhias algo duvidosas e negócios bem obscuros e, do dia prá noite, se viu de copo na mão: de Whisky a vinho, de cerveja a cachaça... tanto fazia.

Quem sempre fora ninguém, se sentia agora o senhor do seu destino...(!!!)

Ontem, chorou por um pedaço de carinho. Hoje, chora as marcas do passado. Parou na sua contramão, ávido da vida que lhe era devida. Com insensatez, cogitou descer até ao suicídio. O vício era tão pesado quanto a sua nostalgia.

Com alguma facilidade geme saudades. Depois suspira desespero. Se o acaso o tenta, simula desprezo e indiferença. Ou mesmo impiedade. Remorso não tem... e como devia!

Agora se esforça para dedilhar imagens empilhadas no espelho opaco e rebusca as trilhas dos erros que não aceita e abala a alma possuída pelo desejo de seduzir a todos, dificilmente consegue explicar o que não tem explicação.

De súbito um espelho reflete a sua imagem nua caminhando pelas ruas... A semi-inconsciência de nudez também foi repentina e o constrangimento, terrível... Se sentia como um fantasma de alguém que ainda não morreu, talvez fosse a ideia menos absurda...

Depois, permaneceu de cócoras durante horas, sem se mexer, sem saber o que fazer.

Enfim, uma resignação desesperada arde no semblante quando levanta novamente o olhar e se sente vagueando por entre as pessoas, as quais continuavam a ignorá-lo.

Não sentia frio, pois um sol só 'seu' soprava os raios sobre si, embora um vento frio coberto de nuvens, escurecesse o seu caminho... No entanto, o constrangimento era cada vez maior. Experimentando um desejo louco ao se vestir da sua embriaguez.

Na sua mente as assombrações sobrepõem-se ao seu sóbrio desassossego.

Os sentimentos de inferioridade, indecência e indignidade, voltavam.

E sentiu vergonha. Uma vergonha da sua sóbria inconsciência.

A vergonha que sentia dos outros, se ampliou e passou a esmagá-lo sob a forma de uma dolorida vergonha de si mesmo.

O constrangimento se transformou em medo, desamparo, amargura e abandono. Nenhum indício de motivação, alento ou desejo de mudar... Uma nuvem escura confundia-lhe as ideias. Restava apenas um oceano vazio onde afogava mágoas cobertas por uma tempestade de desesperança.

Continuava a sua busca incessante, caminhando às cegas, sem que desaparecessem os suplícios... o sofrimento era cada vez maior. O jeito era encarar tudo ao redor, observando os lugares onde poderia ser encontrado: bares, restaurantes, açougues de carne humana, cinemas, parques de diversões e... "nos matadouros de sonhos".

Como o detetive que apresenta o seu relatório, diz isso mesmo: Quando aparecem vestígios de vícios terríficos...uma pessoa não assumida, é quase certo que utiliza toda a energia e capacidade mental para atingir uma única finalidade: esconder-se de si mesma... por entre os descaminhos!

No carnaval de complexos sentimentos, cada um procura se fantasiar de cada qual. É como a desconfiança quando se "traveste" de amizade, buscando incessantemente pela clarividência da realidade inconstante...

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É carnaval... Tá chegando a hora... é carnaval... tá chegando.....

By@

Anna D'Castro

Anna DCastro
Enviado por Anna DCastro em 02/10/2006
Reeditado em 10/07/2013
Código do texto: T254204
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