As Fases do Sol - III

Fase 3

(Cinco anos depois)

Marcos estava num corredor branco. Andava de um lado para outro, aflito, angustiado. Ainda estava usando o terno do trabalho, o que significava que estava em horário de expediente, e que alguma coisa tinha acontecido para que corresse desprevenido até o hospital.

Foi então que ouviu o som. O som que jamais esqueceu até o fim de sua vida. Os aparelhos gritavam a verdade dolorida: “Ele morreu, Marcos.”

- Não! – gritou e entrou no quarto

- Não pode passar, senhor. – disse a enfermeira

- Não! Não! Não! – ele se ajoelhou – sua esposa Ana apareceu e o levantou. Ela também estava chorando, ele percebeu.

- Venha... calma, está tudo bem... Vai ficar tudo bem... Vou buscar um copo d’água.

Ele abandonou o corredor e seguiu para longe. Odiava que o vissem chorando, principalmente Ana. Por isso sempre buscava lugares isolados para chorar sozinho. E lá estava ele. Num banco em frente a uma janela solitária, num corredor deserto daquele hospital. O sol, como de costume, chegando onde não foi convidado.

Por que será que o sol sempre insistia em fazer uma visita nos piores momentos? Ficou ali tentando achar uma resposta, enquanto a dor lhe corroia por dentro.

Foi nesse exato momento que alguém apareceu no final do corredor, e caminhou até onde ele estava. Era um menino pequeno, aparentando ter uns cinco anos de idade. Tinha cabelos loiros e olhos com traços amendoados que, junto ao sol, brilhavam quase dourados. Em seu pescoço havia um sinal exatamente como o de Marcos.

O pequeno se aproximou em silêncio até chegar do seu lado.

- Posso me sentar? – sussurrou

E Marcos o abraçou, sorrindo. Sorrindo na hora sombria. Como podia ser tão otimista? A verdade é que o avô se fora, mas lhe deixara esse dom.

Então a resposta surgiu clara em sua mente. Por que o sol sempre aparecia nos piores momentos? Seja num porto, numa capela ou na janela do hospital. Ele surgia para lhe lembrar que a vida continua brilhando. Que, por mais que nos pregue peças, ela sempre oferece um novo dia. Por que deveríamos chorar se agora é uma hora sombria? Pois apenas com a chegada do amanhã é que o sol poderá brilhar mais forte. Mais forte do que jamais brilhou um dia.

Fim

“Eu fecho meus olhos

Apenas por um momento. E o momento se foi.

Todos os meus sonhos passam...

Poeira no vento. Tudo o que eles são é poeira no vento.”

(Dust in the Wind – Kansas)

[Para Mariana, minha amiga de dietas solares]

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 18/12/2010
Reeditado em 18/12/2010
Código do texto: T2679583
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