No elevador, um homem, uma mulher 

     Décimo quinto andar. Ela espera o elevador. Olha o mostrador. 21º. Tocou o botão. Uma, duas, três vezes... Como demora! Estava atrasada para o encontro com seu filho. Iam ao shopping comprar o presente de aniversário dele. Olhou de novo o mostrador: 19º, 18º, 17º, 16º... 
     Enfim... A porta do elevador abriu. Ela entrou. Estranho, havia apenas um homem. Examinou-o de soslaio. Moreno, cabelos lisos, terno e gravata, pasta James Bond... Olhar fixo, distante... Teve vontade de falar algo. Sem querer murmurou: “como será sua voz?” Ele virou-se para ela: 
     - A senhora disse algo? 
     Ela ficou encabulada. Linda voz. Sempre fora atraída pelo timbre das vozes.         
     Conhecia todos os seus amigos e a sua família pela voz. Só não entendia o motivo de querer ouvir este desconhecido falar outra vez. O elevador descia rápido. Era preciso fazê-lo falar, mas como? Precisava pensar rápido. Falta de criatividade. Por que, quando precisava, nunca tinha idéias? Olhou para ele. Olhar vago. Pensa em quê? Plim! Térreo. Adeus, senhor desconhecido. À sua frente apenas uma mulher que olhou para ele: 
     - Querido, como demoraste! 
     - Nem tanto, foi apenas o tempo de colocar os papéis na pasta, tomar o elevador e descer.      
     Assim, ela pôde ouvir bem a voz do companheiro de elevador. Se a ouvisse de novo, saberia a quem pertencia, embora ele continuasse sem nome, um rosto, um dia, num elevador...