O problema de Sebastião

-Satanás, não sei se tu estás de bom humor, mas vou te noticiar com minhas palavras uma estória que acabei de ouvir pelos arredores. Sei que tu sofres de problemas cardíacos e por isso contarei devagar, para que não sintas teu coração apertar de felicidade que irá sentir.

-Ora, trate de contar rápido! Pois se for devagar demais morro de angústia por esperar a conclusão da tal estória!

-Mas se eu te contar rápido demais, tua alegria pode vir demasiada em tão pouco tempo. Teu coração não há de suportar.

-Então conte numa velocidade média: entre morrer de ansiedade e morrer de muita felicidade. Vamos, servo idiota! Ou morrerei de esperar!

-Prepara os teus ouvidos, que a estória hei de começar:

Disseram-me que o anjo Gilmar esteve à tua procura hoje para tratar de negócios. Como tua ausência estava presente no momento, o tal anjo deixou um recado que imagino ser do teu interesse. Ouvi dizer que Deus, num momento de introspecção, se pôs a pensar na vida e chegou numa questão sem resposta. Aquela velha pergunta já esquecida por nós: "Quem me criou?" Pois Ele ficou desesperado e caiu no poço fundo da depressão, e agora quer vender o céu à preço de farinha para sair pelo universo à procura da solução.

-Notícia melhor não há para o meu fraco coração!

-Mas ouça bem o que estou dizendo: foi estória que ouvi falar, se for esta mentira, não é culpa minha não!

-Pois o carteiro é responsável pelas cartas que entrega, e se eu descobrir que isso não é verdade... já sabe: sofrerá em minhas mãos!

"Ó meu Deus, espero que tu estejas pensando mesmo na tua vida sem resposta e que meus ouvidos não estejam a me trair, sendo eu ainda tão jovem para morrer, pois tenho tantas idéias frescas na cabeça (e espero realiza-las com todo o proveito que me for oferecido)!" - preocupou-se no pensamento, o servo Sebastião.

(Continua na parte II)

Calor do cão
Enviado por Calor do cão em 10/01/2007
Reeditado em 26/01/2007
Código do texto: T342067