O GOSTO AMARGO DA DECEPÇÃO

Quando a mãe de Melissa soube que havia dado a luz a uma robusta menina, a alegria lhe contagiou, depois de tantas tentativas, nove no total, naquele instante ao saber do sexo daquele bebê foi num todo pura emoção.

Já no apartamento a primeira visita recebida foi a do pai e irmãos que formaram um cerco ao redor da mãe e da filha, pareciam militares a postos, eram para esses, preciosidades a serem resguardadas. Todos, e ao mesmo tempo, a queriam acariciar. O lindo bebê dormitava como um anjinho no regaço da mãe – que orgulhosa se encontrava pela filha que acreditava seria uma companheira mais efetiva no lar onde tantos homens habitavam. Ali mesmos num acatamento unânime recebeu o nome de Melissa.

Melissa cresceu rodeada de carinhos dos pais e irmãos que não poupavam cuidados. Foi uma criança encantadora, possuía negros e grandes olhos que lhe adornavam o belo rosto muito bem composto por uma bela boca e nariz de boneca. Transformando-se numa jovem muito cobiçada onde passava. Fase que os familiares redobram-se em cuidados. Passeios e festa somente na companhia dos pais e irmão. Entretanto muito astuta sempre que desejava conseguia livrar-se do policiamento dos irmãos, que eram bastante temidos pelos pretendentes da formosa jovem.

Diante dos cuidados de certa forma, exagerado, segundo a consciência, da Jovem, já quase mulher. Melissa resolve ceder a sedução de um dos seus admiradores – Cleomar era um homem, jovem, porém já com larga experiência de vida, o trabalho desenvolvido nos armazéns do porto lhe garantiu uma musculatura invejável entre os homens e altamente admirada pelas mulheres. Era homem dado as aventuras amorosas e a todas as vicissitudes que a matéria pode proporcionar ao ser humano – Encantada pelos dotes físicos muito atrativos de Cleomar Melissa sob protesto e entre as lágrimas de sua mãe e a chuva de arroz deixa a casa dos pais para seguir na companhia do amado – Homem de caráter variável, não percebido pela jovem.

Ao se tornarem marido e mulher, após as núpcias, Cleomar leva a esposa para um vilarejo próximo ao porto onde prestava seus serviços de estivador e bem distante da cidade onde ficava a casa paterna. Logo nos primeiros meses que sucederam as núpcias deram-se as primeiras diferenças entre o casal. Melissa apesar de haver sido criada em meio ao batalhão de irmãos e sob um comando patriarcal, entretanto, e devido aos cuidados e o grande carinho que os irmãos e o pai lhe dedicavam não tinha experiência ou, tal vez, jamais imaginará quão distinto poderia ser o caráter masculino.

Cleomar admirava-se ao extremo da beleza de sua esposa, a exibia como troféu, em conversas, entre os amigos, chamando a atenção desses, que ficavam sob sua mira. E todo e qualquer tipo de comentário sobre Melissa convertia-se em desconfiança para Cleomar lhe suscitando a ira. Apesar dos dotes físicos, de delicadeza e do cabedal de cultura e moralidade Melissa era uma mulher sem grandes habilidades domésticas, acostumada a ser tratada como uma princesa, no seio familiar encontrava-se agora como um peixe fora d`água. Esse comportamento deixava o marido descontente e encolerizado quando, freqüentemente, chegava em casa e encontrava a jovem mulher enfeitando-se ou dedicada à leitura de alguns dos seus livros ou revistas, os quais lhe chegavam da casa de seus pais ou de amigas. Muitas foram as vezes que Melissa teve seus livros ou revistas esmigalhados por Cleomar e outras tantas a mãos grandes e ásperas, dele, espalharam-he, sobre o própria face, de forma disforme a suave maquiagem que a deixava com o rosto ainda mais realçado.

Não o amor mais o medo passou a ser o elo mais forte daquela relação. Temendo o comportamento agressivo do marido em relação a tudo e a todos vivia se esquivando da vida social, até mesmo, a casa dos pais eram raras as vezes que freqüentava. Amedrontada tornou-se subserviente aos caprichos do marido que a queria toda afeita às suas comodidades domésticas. Enquanto ele seguia com o mesmo comportamento dos tempos de solteiro, dedicando-se a gosto a boêmia.

Com o surgimento da gravidez, Melissa evita ainda mais a companhia do marido e Cleomar torna-se excessivamente inescrupuloso.

Após uma discussão no local de trabalho Cleomar, colérico, chega em casa. A esposa aproxima-se e tenta acalmar-lhe, no entanto, este assume ares nefastos e começa a desferir uma série de impropriedade; Melissa surpresa e, muito, caluniada tenta defender-se, contudo, quanto mais argumenta Cleomar encoleriza-se e a calunia. Sem sucesso cala-se diante do marido a fim de minimizar a situação. Dirigi-se então à cozinha pensando em desaparecer da presença do marido e em preparar a si um calmante – As grossas lágrimas correm-lhe quente pelo rosto e adentrando pela boca lhe fazem tragar o gosto amargo da decepção.

Melissa volta-se para pia da cozinha a fim de deixar a xícara, no justo momento, em que o marido está chegando no ambiente e interpreta esse gesto como mais uma afronta a sua pessoa, este propositalmente apanha sobre a mesa uma faca e avança em direção a mulher atingindo-a pelas costas.

Num gesto de extrema proteção as mãos ligeiramente entrelaçam-se sob o seu ventre e o corpo de Melissa não tomba, mas, escorrega-se de modo exemplar, igualmente a sua condição de mulher, até o chão.