A Espera

Acordou antes de o dia nascer e foi o primeiro a chegar à praia. Uma luz suave que mal iluminava, mostrava que a madrugada se tornava gradualmente em um novo dia. Pelo terceiro verão ele repetia este ritual.

Gostava de ficar ouvindo o marulho das ondas que se chocavam nas pedras, de observar os pássaros que, com olhos atentos e grande algazarra, buscavam alimento para o sustendo de seu dia. Era a maneira que encontrara para quebrar o silêncio angustiante que o torturava.

O sol erguia-se devagar. Os dias passavam longos como uma vida inteira.

Lembrava-se ainda quando a viu pela primeira vez. Ela sentou-se ao sol, bem ali, junto àquela pedra. Pés descalços. Seu belo corpo ainda adolescente inclinou-se para trás com uma indiferença pela manhã luminosa. Ele, um pouco afastado, sentiu o olhar dela, quente como o sol que queimava seu rosto, seus braços. Seu olhar o transpassou.

Naquele momento começou a entender que o lugar de certos homens é uma linha pontilhada entre o desespero e o silêncio da espera.

De novo, o olhar dela desenhou em fogo, no interior dele, fortes desejos. E como as palavras que não conseguia pronunciar queimassem seus lábios e não saíssem, sentiu percorrer por todo seu corpo uma sensação de ardência maior do que o sol.

Aos poucos, lentamente, ela levantou-se. Não se olharam e, no entanto, seus olhares se encontraram no brilho do sol sobre o mar. E ela se foi.

Os dias passaram. Passaram-se os anos, vieram os verões. Ele não se cansava de esperá-la.

Naquele dia, mesmo esperando encontrá-la, sentiu um leve tremor em suas pernas quando a viu, sentada junto à mesma pedra, como da primeira vez. A luz do sol tornava-a ainda mais exuberante. Era difícil reconhecer a adolescente que fora na linda mulher que se transformara. Como ela amadurecera!

Levantou-se pisando firme e resoluto. Postou-se diante dela. O calor brando do início do dia cresceu em seu interior, como se chamas ardentes o envolvessem. Seus olhares se encontraram. Em volta nada se ouvia, senão o silêncio da natureza que os observava.

Ela nada disse. Trazia no rosto um longo sorriso e na pele morena e sedosa o brilho do sol. Ela olhou para ele por cima dos joelhos. Ele deixou escapar um suspiro.

- Não vai dizer nada? – Provocou ela.

- Não sei ao certo o que deveria dizer! – argumentou ele.

Ela levantou-se, sempre com os olhos fitos nele. Ele, por sua vez, compreendeu o que tinha de fazer. Passou os braços por trás de suas costas e tomou-lhe a mão. Olhou em seus olhos enquanto a trazia para si, e muito lentamente começaram a se movimentar ao som de uma música imaginária, girando em pequenos círculos.

Ela fechou os olhos e pôs a cabeça em seu ombro. Para ele nada mais importava. Não podia pronunciar qualquer palavra. Algo se apossou dele e podia avaliar em seu interior o quanto aquele momento era importante. Como esperara por aquele momento, por aquela criatura que vira apenas uma vez, mas por quem gradativa e definitivamente se apaixonara e que naquele momento se fazia real e o tornava vivo. E a expressão dela também revelava que ela se sentia exatamente da mesma forma.

Ele a puxou lentamente para si e mergulhou as mãos em seus cabelos, beijou o seu rosto, o pescoço e depois seus lábios. E amaram-se profusamente sem se darem conta do tempo que corria.

O entardecer pôs em fuga as gaivotas que logo desapareceram no crepúsculo. Algumas estrelas que apontavam no céu brilhante prenunciavam que a noite se aproximava e o dia terminara, mas nele permanecia a sensação de que sua história não terminava. Já não devia temer o silêncio impenetrável da noite. Ela sorriu como se lesse seus pensamentos e abriu os braços para envolvê-lo.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 06/02/2012
Reeditado em 05/11/2019
Código do texto: T3483978
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