OPTOU POR MUDANÇAS

Luiz Celso de Matos

Defronte a velha penteadeira, Maria Regina secava os cabelos e as lágrimas. Mais uma vez José Francisco conseguia mexer com seus sentimentos. Bastou ela perguntar sobre qual vestido ele preferia que ela usasse no jantar daquela noite, para ele cair na gargalhada e ferinamente insinuasse que ela não possuía nem uma vestido mágico capaz de esconder sua notável adipose.

Nada feria mais Maria Regina que alguém que de forma explícita ou não, fizesse menção aos seus quilos extras. José Francisco sabia de tudo isso, mas sentia um prazer mórbido em magoá-la. Quase desistindo de ir ao jantar na casa do patrão de seu marido, olhou-se demoradamente no espelho. Enquanto se mirava, foi se despindo. Há muito ela não procedia desta forma. Nua, começou a olhar cada centímetro de seu corpo. Séria, observou que sua autopiedade havia se cansado dela, não estava presente como de outras vezes. Pela primeira vez nos últimos anos, ela não teve pena ou ódio de si mesma. Ao contrário, sentiu em sua corrente sanguínea uma força totalmente desconhecida por ela. Um vigor que alojou-se na sua face, nos seus olhos. Aquela fisionomia não era dela. Ato contínuo tomou uma valente decisão. “Vou mudar... por Deus, vou MUDAR!”, gritou. Estaria arquitetando um plano para se vingar de José Francisco? Ponderou. Nada além daquela face austera, que ela mirava no espelho, importava naquele momento. Onde foi para a frágil gordinha? A serviente esposa? Questionou-se com um olhar mais austero.

Após novo banho, escolheu uma roupa bem simples, penteou, singelamente, seus negros cabelos e sua maquiagem resumiu-se num modesto passar de batom nos lábios. Seu rosto era muito bonito, mesmo sem maquiagem.

Ao descer para o andar inferior, deparou-se com José Francisco ao lado do aparelho de som, já um pouco alcoolizado.

— Cuidado com o apetite, não vá comer todo o pernil de porco que meu chefe vai assar!

— Tomarei este cuidado! Respondeu afirmativamente.

— Vai com esta cara lavada? Sem nenhuma pintura?

— Sim, vou com ela. É a única que me resta, ainda.

Dia seguinte Maria Regina buscou ajuda em uma academia de ginástica e de uma nutróloga famosa em sua cidade. Cinco meses depois, com um corpo ultra desejável pelos homens, ela, de mãos dadas com a nutróloga, busca e contrata um advogado, e, com um sorriso maroto nos lábios, solicita com urgência, seu desquite.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 07/03/2012
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