A BELA INFRATORA

Luiz Celso de Matos

Mais envergonhada que mulher de certos políticos de Brasília, a bela Maristela entregou a carteira de habilitação para o guarda rodoviário. Era a primeira vez que estava sendo abordada por um agente rodoviário. Havia se habilitado há pouco tempo. Caiu nas mãos do terror das motoristas, Cabo Petrônio — 1,80m, bigodinho estilo Hitler, petista de carteirinha, freqüentador de Sex Shop e outros predicados mais.

— A senhora está tremendo muito, gostaria de verificar o porta-malas.

— Mas, não tem nada lá seu guarda — fala timidamente.

— Então não há o que temer — o guarda adorava mulheres tímidas e submissas. A mulher dele era a própria cascavel, se deitasse de barriga no solo, rastejava. Nessas horas ele se vingava de todas. Dava sermões, pisava duramente nas pobres motoristas fragilizadas.

Quando sentia que já tinha extrapolado parava de coçar o saco, baixava a sobrancelha esquerda e com ar de seminarista perguntava:

— A senhora está bem? Quer um copo d’água com açúcar?

— Obrigada, seu guarda, aceitaria uma dose de uísque.

— What??? O que foi que a senhora falou?

— Desculpe seu guarda é recomendação do meu psiquiatra.

“Caso você não esteja bem emocionalmente, tome uma dose de uísque. Ajuda a relaxar!”— disse-me ele, certa vez. Mas acho que não adianta nada, é a primeira vez que pego a BR, e já tomei umas quatro doses, agora pouco, e veja como estou trêmula ainda.

— What??? (O guarda gostava do termo, ele assistia muito um programa de TV de seus colegas rodoviários da parte norte da América.) A senhora vai ter que assoprar o bafômetro. Bota na boca e chu...digo, assopra...hummmm...vou ter que lavrar um autinho de infração e a senhora vai perder uns pontos na carteira nova — diz a excitada autoridade.

Nessas alturas do campeonato, as quatro doses começaram a fazer efeito naquele organismo que possuía uma bela tolerância pelo álcool. E Maristela sob o efeito do álcool era um terror.

— Escuta mano, não dá pra quebrar o galho?

— What??? — Este what, já saiu mais timidamente. Apavorou-se com a metamorfose da motorista. Reverteu-se a situação. Naquele momento era como se estivesse diante de sua furiosa mulher.

— Sim, quebrar o galho, jeitinho brasileiro e outras milongas conhecidas e praticadas neste corrupto país.

— Madame isto é suborno!

— Quem falou em suborno? Maristela, alcoolizada, era um capeta.

— Nossa mais que calor!

Abriu dois botões da blusa, e levantou a saia até a metade das belíssimas coxas.

O guarda apanhou do bolso seu lenço e limpou a profusa baba. Enquanto babava, olhava os seios e as pernas da linda mulher. E babava mais ainda.

— Por acaso a senhora não tem um pouco de uísque aí no porta-malas? Agora sou eu que estou precisando.

— Demorou. Tem um aqui de baixo da poltrona. Pode ficar com o litro. Tenho mais três no porta-malas.

O guarda era daquele grupo de pessoas que se embriagava só com o cheiro da bebida alcoólica.

— Prevenida né, malandrinha? Rápido, vai sem gelo mesmo.

Mais dois generosos goles no gargalo mandou a “otoridade” à lona.

Calmamente, Maristela foi até a guarita e solicitou que os outros guardas procedessem ao teste do bafômetro no guarda caídaço. Depois, calmamente voltou ao seu veículo e dirigiu-se serenamente ao destino pré-traçado, com um sorriso maroto nos lábios.

6/5/2012

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 12/05/2012
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