A GRANDE TERNURA DO MENINO DE KANDAHAR -Cap. I




CAPÍTULO I

 
Eram nove horas, de terça-feira da manhã do dia 10 de janeiro de 2003. A abóbada do empíreo completamente nublado transcorria no emudecer dos minutos em que os pássaros se alinhavam nas árvores, outrora no apogeu das palmeiras de babaçu. Adiante, nos dispersados paus-pombo, erguidos naquele estandarte existencial, era a realidade vista dos olhos banhados pela natureza, abriam-se nos íntimos suspiros em tons emotivos. O cântico dos passarinhos envolvendo o diamante dos brilhos melódicos sublimava com euforia de galho em galho, agenciando o estampido da liberdade nas asas, às vezes, refugiando-se na minguada caatinga. Era ali, o cerne da cobertura verde do agigantado cerrado e caatinga, cortando o meio da estrada intermediária num único vão de Caxias a Aldeias Altas. Apenas ligada por um pedaço de pavimentação asfáltico, encurtados em vinte quilômetros inacabados onde paralisou os recursos governamentais na construção idealizada dos diversos projetos. Basicamente toda a rede foi pavimentada duas ou três vezes nos planos que jamais alcançaram o entristecido sistema de transporte municipal oriundo dos frutos das democracias desenvolvimentistas, cuja malha viária, não possui nenhum investimento de infraestrutura com apelos somente nas campanhas políticas. Mormente, nas épocas do inverno o trecho até parece com a estrada da Transamazônica com lagoas e buracos repletos de água, represadas e que nunca escoam, potencializando inúmeros riscos de acidentes.

O continuísmo beirava as curvas medonhas e retas, submergindo no afogamento das pupilas e plantando no arrepio silencioso, o estradão despovoado e poeirento. O verde e a real mata de cocais sedimentada por toda a crosta terrena transacional ora pertinente ao mar de florestas, tornando-se um corte sertanejo paliativa entre estribos e açoites da velha estrada. A graça na perfeição daquele tropicalismo transmudava na única paisagem do planeta aprofundada nas estações de inverno e verão, por vezes, erradicando ininterruptamente o clima equatorial nas margens dos vales e morros, cortando serras, por ali descendo o impetuoso rio Itapecuru, membrana e célula terráquea dos Guanarés nos confins daquele enforcamento.

E a vida alça neste bebedouro o grau de vegetação escassa, a inusitada formação subtraída no período do verão com os arbustos totalmente retorcidos e sem folhas, enfileirados na fina beatitude de Deus. Assomando vibrações entusiásticas da promulgação guiada das raízes embrenhadas na terra, logo, alcançando o equilíbrio do maior bioma do semiárido sertanejo. Encarreirado na crescente consolação, as folhas das árvores aguardam nas janelas do tempo o verão com as folhagens que o vento arrasta sem piedade, decaindo as mutações arbóreas do contrapeso corretivo na evaporação esverdeada dos campos solitários com a vizinhança do inverno. Não se sabe como a erosão toma a bússola de todos os destinos infiltrados no amanhecer duvidoso e inseguro do chão cambaleado de homens fortes e seguros da arte de viver. Seria apenas o enfeite do engenho das meditações questionadas ao longo das eras, neutralizadas na esfinge das aglomerações empobrecidas. Advindo no meio ambiente da Mesorregião Leste Maranhense as constantes mudanças climáticas provocadas com a nefasta agressão do homem, afastando o campesino para o centros comerciais na promessa de melhoria de vida. E pela culatra desaparece a roça, não nasce o milho, o feijão, jerimum e nem o arroz, despertando com a derrubada das palmeiras, o nascimento da soja em campos abertos com o sol quente na terrinha destapada que não chove e não molha mais o campo.

É tarde. A brisa assobiante, assoviante, era assobiador daqueles afortunados meios de lazer e viver, onde os batentes não mais improvisam o período lusco-fusco, desnorteando a desmedida e primordial abastecedora de água ao município. Vê-se um pouco da claridade das montanhas lunares. Ora, hasteando a cruz do desperdício, os impactos e simplórios ambientes, sem manutenção da adorada fonte hídricas da vivência humana. O nível da água cai, esgoela dentre as frinchas da torpeza que inunda os braços frágeis no assoreamento e poluição de todos os lados. Uma questão de desenvolvimento insustentável atribuída aos olhos farpeados de ganâncias financeiras que enxugam a própria consumição. A cessação da chuva no período invernoso desconta um diagnóstico perverso nas florestas que sustentam e equilibram na estiagem, esse fútil emaranhado e geminado de atrocidades sociais ao habitat que desmorona no céu da boca.

Árvores colossais perdem as suas raízes nas margens com o desmatamento desordenado e irresponsável ora equacionando a sua vazão na captação da água potável distribuída a todos os filhos da terra maranhense. Esse paupérrimo patamar de ilusões não passa de uma bulimia no curral de bois, majorada na fértil ignorância de não conhecer, e, desfazer-se do bem potável gratuito. O Rio Itapecuru lastima nas dores silenciosas com as ações humanas em busca de extrações como argilas e areia das dragas. Muito além, vem com a desenfreada poluição industrial, doméstica e hospitalar, arejando nos leitos os materiais orgânicos do seu depauperamento. A verdade, é que tudo vai para o rio, tudo se joga e desce das residências como alimento imoral da sujeira que se transforma, edificando neste contexto, a maior brutalidade igualitária do próprio ser. Os riachos, os córregos são as maldições dos tempos que não puderam escapar da valentia do homem com o desaparecimento alongado, tornando-se inapropriado nas extensões do poder. Como bem disse o poeta Erasmo Shallkytton sobre este fenomenal nas linhas abaixo:


RIO ITAPECURU - A MORTE DE UM RIO

Desce ordeiro e já sem forças,
Sem correntezas nas margens,
Chora o Rio Itapecuru com as dragas,
Exterminando os dias bem contados.

Bombas centrífugas remexem sem dó,
O fundo do rio que vai se aprofundando,
Removendo grandes lençóis de areias finas,
É a cupidez retalhando e o rio lastimando.

Secretarias de meio ambientes, às escoras,
Mudam o leito do rio e jazem redemoinhos,
Transformando montanhas de lindas areias,
Alterando o seu espaço com o ouro branco.

Licenças penduradas no simples galpão,
Dão crédito ao serviço contínuo e lambão,
Sofrendo o rio, desce calado em Caxias,
Na terceira e grande cidade do Maranhão.

Bombas centrífugas remexem sem dó,
É a draga com os malefícios nas beiras,
Não há multas e muito menos lacres,
Da maior covardia contra um pobre rio,
Que não aspira mais o desenvolvimento.

Recursos naturais ofertados pela vida,
Dragueiros do meu grande Rio Itapecuru,
São lobos descalços fazendo fortunas,
Desgraçando quem lhes dá de beber,
Ó que vida errante! Ó que impetuosidade marcante!

Não há mais peixes como dantes o surubim,
Homens constroem casas em suas laterais,
Mostrando a verdadeira degradação ambiental,
Empresários do nada, Insanos mergulhadores,
Perfuram barrancos e puxam com estupidez,
Transformando na maior parafernália o meu rio.

Do fundo do meu Rio Itapecuru, dói, dói demais!
O “chupim” tudo destrói, é o devorador que chupa tudo,
Com a força motriz da alegria dos dragueiros,
Trazem areias, mais areias por um minguado de dinheiro.

Novos e mais noviços empreendedores arriscam,
Maiúsculo negócio que é totalmente de graça,
Quanto mais draga no rio, o lucro chega rápido,
É a corrupção ambiental que ninguém os ver,
Há liberdade de pleno e concedido trabalho,
Sem Polícia Militar ambiental é uma desgraça.

Muito menos alguém do poder que grite,
“Deixem pelo menos o Rio Itapecuru em paz”
São agentes criminosos sem punição,
Na destruição do maior rio do Maranhão.

Fostes importante quando gerava progresso,
Em tuas águas já navegou até presidentes,
Um rio que sempre fez muitas histórias,
Único que corta o coração do Maranhão.

Ó Caxias do Maranhão! Ó caxienses!
Não, não sejais tão ingratos ao vosso rio,
As tuas abençoadas casas são abastecidas desse rio,
Quando ele morrer de onde vais beber?

É ele o rio da Princesa do Sertão Maranhense,
Pranteia com os dias bem contados e acertados,
Virando pra sempre uma canção dos poluidores,
Desbravadores que semeiam a exterminação.

Se existe Caxias, é porque tem o Rio Itapecuru,
Com seus afluentes, riachos e regatos,
Todos descem para lá, lá...
Mansamente, o rio vai desaguar no mar.

Ainda dizem que as dragas andam com o progresso,
Fazendo parte e contribuindo com o ecossistema,
Ó dragueiros vão trabalhar no Rio Parnaíba!
Deixem o minguado rio Itapecuru lastimar!
Nesta insana e tão pequenina poesia.

Ó Rio Itapecuru! A tua sorte será quando houver enchentes,
Levantas agora! E chamas os teus afluentes e riachos,
Transbordas o teu lamento em imensas cheias,
Mostra-te que és um verdadeiro rio caudaloso,
Tu! Deverá engolir tudo o que estiver em tuas margens.

Faça-os em tuas águas o teu brioso império!
Levando para o fundo as grandes dragas,
Mostrando ao teu povo quem é o Rio Itapecuru,
Quebrando tudo pela frente e inundando casas e gente.

Já não bastam os milhares de tantas poluições,
Dos lixos, esgotos domésticos e industriais.

Areeiros! Saem do meu Rio Itapecuru!
Peço-lhes que saem do meu Rio Itapecuru!
Se não saíres logo, logo, verás com os teus olhos,
Que o meu Rio Itapecuru é capaz,
Vou suplicar nas suas margens lagrimosas,
Antes a fúria de suas águas do que a morte de um rio.
 
A existência desse embrião de quase 1.500 km de extensão, abrolhando na Serra das Alpercatas, passando pelo município de Caxias, Codó, Coroatá e penetrando mansamente na baía de São José, no imenso golfo maranhense possui os dias matematicamente contados. A morada da taciturnidade é a gaiola dos gemidos das bocas que provocam dores para todos os lados na seca. Não há dúvidas do envelhecimento precoce da caridade do homem ao compilar ideias com os semelhantes na paz abrangente que não o faz. Esse velho Itapecuru ainda sobrevive entre o relevo de chapadas baixas no médio e o baixo Itapecuru, onduladas com curvas suaves e fortes. E todo o seu percurso de maior navegabilidade nas folhagens do pretérito principiava na Terra dos Cocais, jazendo a abundância sem desprazer. As andanças diminuíram com os períodos prósperos com as dragas, coliformes e vazenteiros nas matas ciliares, exterminando o ciclo da experiência, erguendo plantações num lastro infindável e com as máquinas extraindo areias dia e noite deste patrimônio gratuito que suplica tanto socorro e ninguém possui tímpanos.

Dali, ele findou e não articulou a fonte da história, os peixes desapareceram e frutificou a rede de esgotos e o amontoado de lixos. Nesse contexto, o homem do ribeirinho não logra êxitos nas pescarias, o que se adicionava em mil alegrias com mesa farta de peixes, atualmente, este, costuma passar mais de doze horas para pescar apenas um piau. Às vezes, retornando para casa com cesto vazio e na efígie as máculas da tristeza. Despenteado por todos os beirais, a singela canoa de madeira rústica daquelas localidades ribeirinhas não navega mais, refugou-se nas montanhas do medo dos tempos. De imediato, Apresentou-se enormes ilhas de areias em cada trecho com as desmesuradas dragas, invadindo o meio do rio, arrancando sem dó o puro mineral que irá ser devorado pela construção civil. Caminhões basculantes envenenam num intenso entra e sai, recolhendo a areia em diferentes locais. Em outra oportunidade, o poeta amargura a dor de um rio em versos:


Rio Itapecuru – O triste adeus

A vida passa lentamente no vagão da terra,
E o sertanejo olha o grande Rio Itapecuru,
Que desce triste com a luta que não encerra,
E os dias desaparecem com o rio e o babaçu.

Não há remédio para o berço que dá vida,
Nas margens sofre e penaliza o meu rio,
E ali medita o roceiro sem nada poder fazer,
Com o lixo de sacolas plásticas nas árvores.

A vida passa lentamente no vagão da terra,
E vejo que o rio não é mais a fonte de vida,
E suas beiras choram no silêncio demasiado,
Do insano desmatamento desordenado.

E os dias desaparecem com o rio e o babaçu,
Que tão logo irá calar o tempo e a minha razão,
Aqui no meu sertão, eu não saberei o que é a vida,
Se eu vivo ou permaneço mudo vendo a destruição.
 
Com licenças às mãos, carta expedida pelo município, é fonte de recursos que gera emprego e impostos, além da autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral que estabelece o Alvará para a extração do minério do fundo do rio. Ainda assim, o velho Itapecuru se enfurece nas invernadas em seu leito, arrastando tudo que encontra pela frente, inclusive, as construções residenciais às portas do seu tálamo. Não olvidando que a crescente poluição urbana da cidade de Caxias derrama todos os dias o alicerce nojento no pulmão deste que foi colossal e assustador por muitas ocasiões. E, nesta situação sem freios, padecem no limiar das auroras, os pescadores tradicionais, as quebradeiras de coco, os pequenos agricultores e todo o povo indígena que ainda habitam nas reservas em discussão por onde o Itapecuru banha. Na verdade, quem nunca viu um rio, verá brevemente um rio de areia como um deserto. Sem nenhuma aliança, o poeta mais uma vez verseja a sua dor em prol da maravilhosa fonte mineral, exortando.

NÃO CHORES! Ó MEU RIO ITAPECURU!

Nascendo no sul do Maranhão,
Nas correntezas do grande oeste,
Rumando nas profundezas da região,
Desemboca na Baía de São José,
É ele: O Rio do meu nordeste.

Neste belíssimo Golfo Maranhense,
Rio que rega todo o meu solo,
Da Princesa do Sertão Caxiense,
Correndo de oeste para leste em prol.

Meu curso d’água é o Rio Itapecuru,
Rio camarada de velhas tradições,
Mestre e divindade como um guru,
Escoava do interior as produções.

Chegando a São Luís, na Ilha do Amor,
Eterno, onde nasceu a estrada de ferro,
Em dois trilhos cantando os bem-te-vis,
De São Luís à Teresina, vigoroso e fero!
Correndo paralelo ao leito do Rio Itapecuru.

Abriu-se o mar de asfalto negro nas matas,
Surgia a BR 316 na década de sessenta,
O meu rio foi perdendo todas as fortalezas,
Servindo apenas de um mero passado.

Mas, não perdeu a tua importância,
É fonte d’água de muitas cidades,
No semblante do Rio Itapecuru,
É dele que nascem as maldades.

Desenvolveu o interior do Estado,
Trouxe presidentes, governadores,
Políticos, colonizadores e autoridades,
Servindo de um grande baluarte.

Caudaloso Rio Itapecuru! Itapecuru!
Dos açoites da navegação a vapor,
De Caxias, Princesa do Sertão,
Até São Luís do meu Maranhão.

Subindo corredeiras na lentidão,
Voavam as lanchas com precisão,
Escorregando entre as cachoeiras,
Deslizando nas fervuras das águas.

Chegava-se até a cidade de Colinas,
E outras desciam na contramão,
Beijando todos os afluentes,
Batendo nas pedras com gratidão.

Ó meu grande Rio Itapecuru!
Que banhas tantas outras cidades,
Que se elevaram às tuas margens,
Entre os vales, serras e cerrados,

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Vejo-te plangente no leito sofrido,
Mansamente e muito melancólico,
Nas zonas críticas e partidas.

Sem navegação parece um riacho,
Um meio de vida para exploração,
Anarquia sem qualquer preservação,
Indústrias lançam líquidos químicos,
Com elevadas pancadas de maldição.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
O teu povo faz montes de entulhos,
E falam que é desenvolvimento,
Atochando todas as nascentes.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Teu álveo deixou de ser navegável,
Formando intensos bancos de areias,
De uma aberrante degradação sem fim,

Políticas dão forças em tuas margens,
Em troca de um voto para te esquecer,
Destruindo milhões de anos correntes,
E não há ninguém pra te defender.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Não balanças e nem mais sacodes,
Em correntezas bravias os barquinhos,
Que flutuavam em tua pele todos os dias.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Já fostes o berço da cultura de Caxias,
Onde atravessava o poeta Gonçalves Dias,
Descendo rio abaixo com tantas alegrias.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Hoje fazem cemitério e aterro sanitário,
Lançam resíduos e demais dejetos,
É podredouro e jorram escoadouros.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Sei-o que fazem quilômetros de plantações,
Devastando os teus lábios gritantes,
Nos beirais de tuas amáveis correntezas,
É um polígono da cannabis sativa.

Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
Tuas lágrimas caem nas alvoradas,
De um despontar de longos dias,
Refletindo nesta pequena poesia.

Ninguém se preocupa com tuas águas,
E reclamam da grande falta que causas,
E deixam o meu Rio Itapecuru morrer,
No deserto do terceiro milênio,
Não acredito, porém, agora posso crer.
Não chores! Ó meu Rio Itapecuru!
 
O governo sufoca nas linhas de crédito o que deveria fomentar o desenvolvimento nas políticas democráticas. Desse modo variante, o agricultor, chega às margens do rio para desmatar e fazer as chamadas vazantes, plantando verduras e legumes cujas extensões atingem milhares de quilômetros, ocasionando inúmeros prejuízos ao meio ambiente. Ressalta-se, que na janela augusta do passado, toda a produção agrícola de Caxias, era enviada para São Luís em lanchas a vapor. Estas inúmeras embarcações, se submergiram do histórico meio social, uma vez que transportavam toda a produção agrícola, traziam diversos produtos industrializados para o interior do Maranhão. Tendo em vista, que toda a bacia do sistema de transporte hidroviário do Rio Itapecuru, era praticada por pequenas embarcações de madeira, conduzindo a produção agrícola da região local com carga geral e também de passageiros. É mais um predicado com vocativo que não ficou na história e se calou na embocadura dos desejos disparado pelo próprio ser humano.

Horrendo, é este fino episódio no caos que tributa a alma, lanceando os anseios para o indecoroso acerto de falta d´água por todo o Estado, conforme dados estatísticos dos filhos que latejam nas indigências da sede. Ao busto longitudinal das empreitadas, é melhor descer do lombo do boi e remediar na crise aos diversificados apelos. De fino trato, o homem é causador destes impropérios desajustados que englobam as gemas e escapolem nas mãos do desenho arbitral das atitudes, disjuntos de atos proferindo a culpabilidade aos avanços e demográficos circunstanciados dos estudos polarizados do engrandecimento hilário.

Foi no incomensurável Itapecuru que abriu o leque das águas ao ilustrado presidente Afonso Pena, que viajou nas densas águas turvas do rio com destino à Princesa do Sertão Maranhense, a bordo do grande vapor São Salvador. Era naquela época um rio que por seu leito navegante levou inúmeras autoridades, agremiou famílias nos beirais e saciou eternamente a forme do homem.

Acautelado nas correntezas, é bravio nas margens, raso e profundo nas curvas dos desenganos e lídimo por todo o leito vigorante, é o Rio Itapecuru. Sim. Uma verdadeira alteza da vida maranhense abrindo nas grotas, vales, montanhas, espinhaços verdejantes no berço real das palmeiras de babaçu. Ponto do auge da história dramatizada das riquezas pelos desbravadores no lar perpetrado pelas tribos Guanarés, únicos proprietários que se apagaram dos rastros enfurecidos dos bandeirantes e colonialistas. Era ali, o gigante das terras dos Cocais, bebendo o suco na própria taça e derramando no braço de cada cálice das floras, o pranto das desilusões assombradas. O Rio Itapecuru, é o braço sustentável dos latifundiários, sem embargos, a residência da corrupção tortuosa pelas águas por onde nasce e deságua, servindo apenas como marco geográfico e quartel-general de impurezas. Do talo verde da buritirana ressurge gradualmente o oceano das destruições, protegidas pelo desmazelo das políticas sociais nos cursos d´água. E vai, atravessando por inúmeros portões das facilidades das leis ambientais com arranjos derivados de agentes oportunistas. In casu, efificou-se o pólen sanguinário da matança silenciosa que desnatura a convivência mordenizada e tecnológica aos coadjunvantes e verdadeiros morcegos, entabulando a quadra da ciranda dos homens e seus cidadões.

Os peixes, o surubim, fidedigno do tapete verde, amarelo e azul-escuro não viaja na cauda desse cometa que abrigou nas tormentas da fome e sede a fartura do seu povo nobre de maragnon, nem mesmo com a mais justa saia. Era um patriarca que jamais deixou falhar nos ribeirinhos, o riso impetuoso de sua majestade com o brio de realeza por todos os cantos. Mesmo monopolizado nos áureos ímpetos das dobras da ganância estúpida, manteve-se nutriente nos dilúculos dos Guanarés. Mas, o homem vem martelando no balançar das palmáceas o adeus sofrido, acolhendo cicatrizes infindáveis nos cortes do flúmen duma consciência realçante e mascarada que derrota o otimismo flagrante. Vão temporadas e sobrenada como um botijão no lixo encurralado, aflito não faz medo, sem forças, apenas recebe o beijo de esgotos na dragagem auspiciosa dos ganaciosos. Quase sem vida, vigora lentamente nos orçais, enveredando nas bordas o desmatamento taciturno das pálpebras que não abrem sinais da essência. Refugia-se no infausto depauperamento que sinaliza as cancelas em cada alvorada do desmantelo repugnante e voraz. Esse líquido vai inexistir quando a noite for dia e as batalhas forem flechadas sangrentas por todos os lados nas sombras dos índios Guanarés.

Sem vestígios, bem próximo da cidade de Caxias, nasce o balneário Veneza, fonte mineral tão custosa naquele encharcado solo hidromórfico onde os mananciais irão fugir para Marte, assombrado pela bravura desleal dos caxienses e de tantos imigrantes na corrida imobiliária. É perfeito, saindo do fundo do mar verde, edificações nos balizais sem respeitabilidade dos limites e resoluções oficiais dessa proibição. É o louco império de comércio em festas ao nascente do sol, descobrindo um lodo social empobrecido no avante de querer mais. Imediatamente, haverá de abrolhar das fibras de cada palmeira um Guanaré que afronte e resista em defesa desse despojado e padecido ouro verde e azul que se planta no Rio Itapecuru.

Nas matas dos Cocais, o veado-catingueiro atravessa o vendaval entre as flores e frutos das favas Dantas perdidas na densidade larga sertaneja em plena seca. É uma aventura que registra o território por um certo período, estilhaçado nos limítrofes evaporados do delírio da renovação. Às vezes, este animal mergulha o pescoço para acompanhar a brisa que assobia e transfere para a sua pelagem marrom acinzentada, a claridade escuro do dorso, pressentindo a longas distâncias o inimigo na aragem que lhe favorece. Em segundos, desaba entre os arbustos e trepadeiras numa velocidade incrível e desmedida. Esta espécie já está ameaçada completamente de extinção com o extermínio do habitat e a imódica caça ilegal cravada indiscriminadamente. Alguma décadas, o veado catingueiro surgia nos campos aberto do cerrado, matas e nos beirais das lagoas demarcando territórios, os fatos são notórios e não existem nos lamegos do capoeirão. Embora, sob o forte enfoque, a cotia, o tatu e outros animais presenciais vão no caule da doce e amarga devastação, esvanecendo com a instigada caçada que não há trégua. E não há leis que se faça cumprir no vale das lamentações aplicadas no sobejo e retalhos da mortandade desses sacrificados animais.

Por outro lado, são verdadeiros caçadores os homens das leis, os doutores das espingardas douradas de mel que buscam apreciar a carne vermelha dessa fauna em extinção acelerada. Em verdade real, não há como se concretizar uma reserva legal com apoio do governo Federal, entidades de classes ou ONGs para salvaguardar as espécies já em extinção do meio ambiente da caatinga. Neste toque irregular e descartável, vem pisando neste triângulo tão conflitante onde quadrilhas e quadrilheiros estrategicamente bem engenhados nas matas utilizam os serviços do homem do campo na selvagem caçada aos animais protegidos por lei federal, saboreando na cidade, os fartos restaurantes e demais residências privadas.

As infrações cometidas nos buracos negros da Lei de Crimes Ambientais têm causado impacto, e pouca importância assobiou no talante marginal daqueles que não se preocupam com a natureza, por vezes, realizam retóricas da ineficácia das punições. O dano social efetivado no meio ambiente é o passaporte para o desequilíbrio degradante da região sertaneja no sacolejo vibrante da Constituição, bem como na preservação apenas da dita lei. Nesse fluído, é a natureza como forma abundante de garantir o sustento do homem, e mistério que transforma na reprodução dos males na diversidade ocasionada pelo homo sapiens em seu próprio habitat. Desde os primórdios da criação, o homem não aprendeu a interagir com a sua riqueza, as maravilhas espelhadas nas variadas espécies, estas que mantém viva e acesa no meio do sertão. Nem mesmo os princípios éticos e fundamentais que propõem regramento para a sociedade para este ocupar o seu espaço sem exceder os limites da natureza sobressai sem importância, apesar da insaciabilidade do homem no confronto diário do seu ambiente.

Essa cadeia imoral de homens honestos e de ingresso limpo, ocupando os degraus da caça predatória, onde atravessadores sobrevivem no intercâmbio igualitário, sobrecarregados dos cidadãos honrados dos poderes da nação que pagam caríssimo para saborear as diversas carnes exóticas desses animais abatidos, é imoral. Naturalmente, são entregues em suas residências ou local de trabalho sem qualquer vigilância, pois, estes são os que semeiam e ancoram seus feixes encorajadores dos meios financeiros na aquisição, fortalecendo mais a rede desse macabro comercio. Vemos que há também o caçador solitário, levando consigo as heranças dos pais e família no desejo ardente de caçar com intuito caviloso de plena destruição e maldade, adiantando como um esporte. Notoriamente, haveria um jeito de se manter o balanceamento desse crime ambiental e biológico que se alastra sem fronteiras pelo sertão, declarando abertamente uma guerra contra os compradores, atravessadores e caçadores.

É uma fortaleza nojenta e repugnante o número de homens que realizam intenso impacto na caça dos animais sem qualquer precisão ou fome, rearticulando atos indigestos de apenas matar. Homens da lei, doutores, e burocratas e indivíduos que nos finais de semana, lançam-se nos meandros das matas com acampamentos sofisticados, armamentos caros e precisos para exterminar os poucos que por lá existem como se fosse um safári na África. Perante esses fatos, afirmo que o senhor Alexandre Trabuco que vive nas matas entre Caxias, Aldeias Altas e Coelho Neto, possui mais de mil trabucos. Este mecanismo conhecido na região dos Cocais chamado de trabuco, faz-se referência à antiga arma de contrapeso utilizada na idade média e que matava o ser vivo. Consistindo esse engenho num pedaço de cano de ferro cheio de pólvora e esferas de aço, com aparência de uma espingarda, na qual o caçador espalha pelas matas dos cocais, especialmente nas árvores onde as caça se alimentam. Provido de um pedaço de fio estendido de um lado para o outro no local ambicionado, o animal ao tocar no fio, é atingido com morte momentânea. Com as horas avançadas, Alexandre Trabuco sai pelas brenhas para recolher inúmeros animais silvestres vitimados pelo mecanismo mortífero. Alguns moradores temem os artifícios e a sua valentia do homem caçador do sertão, apesar de que, possui vários padrinhos nos órgãos de defesa ao meio ambiente do Piauí e Maranhão, além de outras autoridades. Muitas crianças, homens e mulheres já perderam suas pernas ao tocarem nas armadilhas ocultas nas matas por estes engenhos malditos. Dizem que os grandes hotéis, restaurantes e diversos braços de ferro são fregueses e compradores assíduos destas caças para degustarem suas carnes exóticas. E assim, vai morrendo o mundo animal do meu sertão sofrido, longe de uma democracia que somente é escrita no papel e no pensamento dos homens que fazem a lei, articulando ter a chamada ordem.

Sabiamente, o imaturo autêntico da floresta dos cocais sedimentada por toda a crosta terrena na transacional pertinência dum braço de mar de matas tropicais, é o embrião enflorado da Amazônia à zona da caatinga do Maranhão. Seduzindo numa invejável beleza do tropicalismo que avança no solo caxiense como a única paisagem do planeta aprofundado das estações de inverno e verão, erradicando ininterruptamente o clima equatorial nas magias dos vales e morros, cortando serras e montes. Por ali, descendo o impetuoso Rio Itapecuru, membrana e célula terráquea dos Guanarés entre os beirais da Trezidela e suas adjacências possuem como marco dos primeiros seres humanos a desfrutarem a terra de Gonçalves Dias. É desse montanhoso espiral verdejante que os indígenas centenários foram totalmente banidos pelo homem branco na expansão colonial da escravatura. Ainda, pelos fazendeiros na corrida do ouro e conquistas do império comercial do algodão.

Na soberana importância dos feitos, descreve-se o que a história não expôs a respeito das primitivas populações indígenas e seus territórios com vegetação típica das carnaubeiras e babaçuais tidos como os melhores diamantes da flor terrena do sertão maranhense. Nem mesmo a exploração sanguinária com a pecuária exterminando os nativos – Guanarés sem deixar quaisquer rastros das comunidades que habitaram o leito extremamente bem-sucedido do Rio Itapecuru e seus ribeirinhos. É por sinal, a soma que até hoje de nada resultou os sistemas de desenvolvimento econômico desproporcionais nas áreas do bioma sustentável das pequenas famílias camponesas no trituramento das máculas inópias em que figura o Estado do Maranhão.

É secular que a cidade de Caxias foi o mais terrífico retrato de uma revolução no Estado do Maranhão custeada nos meandros da biografia, a mais violenta e crucial de todas as batalhas abertas já conhecidas no território brasileiro. Aos termos dessa conflagração quase sem fim, elevou o nome de Balaio por haver entre eles o principal líder, conhecido como Francisco dos Anjos Ferreira, que era um fino produtor de balaios. Não exime as atrocidades do poder público que cambaleou durante décadas mergulhadas no absolutismo contra o povo mais enfraquecido, abrindo asas na constante ausência de justiça com o nexo ríspido desse manto desigual em que viviam os injustiçados de todas as políticas sociais. Naquela época, Caxias estava bem estruturada militarmente, e guardada sob o comando do homem graduado civil, João Paulo Dias, um potente líder político que lentamente cumpria ordens, e com os poderes de guerra, o militante capitão Ricardo Leão Sabino com um pedaço agigantado de homens de Corpo de Exército com um efetivo com mais de mil homens com baterias e esquadrão de Cavalaria disponibilizada nos morros e ruelas da cidade. Assim, não foram capazes de resistirem por longos dias nas encruzilhadas traçadas pelos combatentes Balaios.

Foi, nesta, então cidade provinciana do Estado do Maranhão, conflagrada na união e cooperação da intensa revolta dos escravos somando a milhares de negros sem tetos oriundos de outros lugares, basicamente o maior trunfo liderado por Cosme Bento das Chagas, conhecido com a alcunha de “Negro Cosme”, numa enzima arrebatada de coragem nos olhos e nas mãos como a mais robusta insurreição alinhada em todos os cantos de cada vila envolvida neste acontecimento histórico. E a busca incansável de superar os dias de inferno da escravidão que trazia o sofrimento e a humilhação. Plantados nos meios e nas ações bruscas, negros fugiam das senzalas e fazendas a procura de amadurecer melhores dias de vida sem a real presença do cativeiro. Tudo em prol de uma sociedade de povos sem almas que abalavam as calçadas sujas da elite em socorro desesperador entre noites escuras e sanguinárias. Dezenas de quilombolas nos leitos da majestade opressão embalavam em marcha, apalpando o sangue de liberdade em vão, outrora, enfrentando a maturidade a guisa de um estandarte sem bandeira. Relevo este, que aumentou a resistência com os Balaios no enfrentamento de várias questões políticas e sociais da época.

Nota-se que a criação deste grande arrabalde sertanejo teve a sua formação vinculada na expansão instituída pelo império português no período da colonização, abrindo frente pelo litoral e por todo o interior maranhense com recursos para povoamento ao Rio Itapecuru na conquista de terras com a ocupação das terras indígenas. As doações de terras aos senhores compreendiam a determinação à força de quem estivesse no solo, cujos residentes eram apenas os índios. A grande atração como incursão mediadora eram as criações de fazendas de gado, plantação de cana de açúcar e outros produtos agrícolas. A desarticulação do próprio habitat do indígena, contava com as chamadas expedições bem estruturadas, eram exímios violentadores e carniceiros na prática contra a expulsão das tribos alocadas com extrema violência, além da rendição e aprisionamento de milhares de crianças órfãs.

Nesse embate truculento e selvagem, os índios Guanarés, Timbiras e demais indígenas duelaram com os homens brancos em diversas localidades da região caxiense. Agonizando as perdas das crianças e mulheres das tribos, os nativos fugiam pelas matas e rio acima nas balsas de talo entre as corredeiras e pedras. E sem mais represálias, eram levadas aprisionadas, estupradas e espancadas, vivenciando as piores atrocidades humanas daqueles aborígenes inocentes. Passados alguns meses e anos, os portugueses eram importunados e aterrorizados nas fazendas de gado pelos índios numa batalha mortífera de flechas envenenadas, agonizando o gado e fogo nos canaviais. Em outras ocasiões, os padres jesuítas catequizavam os prisioneiros na captação para ser um cristão. Não olvidando que os missionários da Companhia de Jesus acendiam frente nas densas selvas a procura de tribos para catequizar os nativos e fortificar a propagação da fé cristã, e ao mesmo tempo os homens brancos amordaçando ao serviço escravo.

Com o desenvolvimento da Vila de Caxias das Aldeias Altas, o algodão teve um papel esmagador na economia local com a exportação do produto para toda a Europa. Nascia aí, um dos maiores negócios sujo da humanidade, a compra de escravos oriundo da África a preço de banana e comercializados no Maranhão ao preço do absurdo. Nesse naipe grandioso, perpetrou mais atuante quando a família real portuguesa se transferiu para o Brasil, onde a povoação teve mais incremento financeiro com a chegada de mais aventureiros pelo sertão com a garantia do Príncipe Regente. Notadamente, a Vila de Caxias dominada pelo crescente desenvolvimento comercial da cana de açúcar, couros e algodão embarcada para São Luis pelos diversos tipos de embarcações. Sem sombras de dúvidas, Caxias teve o maior manto negro da sua história, assim como não acatou as ordens do império de 1822, logrando sérias e bravias lutas em solo próprio. Com a queda do algodão, foi-se em demasia toda a produção algodoeira bem como a bancarrota dos engenhos numa disparidade de crise assolada pelo preço vil do produto na ala internacional. Nesta folhagem histórica, os senhores de engenhos e comerciantes não obtiveram condições de honrar seus compromissos, assim, como vários distúrbios sociais acometeram no Maranhão a ingrata vida que muitos homens pobres não aceitaram.

De outra sorte, uma colônia de crimes impunes, prisões arbitrárias, guerras entre partidos políticos, daí surgiu a Balaiada no Maranhão, um dos maiores movimentos revolucionários do Brasil que sacudiu as barbas de todo o império e províncias, chegando a Caxias. Com a crise comercial do algodão os senhores de engenhos e demais proprietários de escravos, amedrontados com a perda dos seus escravos, muitos fugiram e se uniram aos balaios, decaindo a mão de obra escravizada em muitos locais do Maranhão. Sabe-se que a sujeição violenta ao regime social da época perdurou por muitos anos no Maranhão, tendo sido abolida no Brasil oficialmente, mesmo assim, o negro com a Carta de Alforria, era um alforriado do seu Senhor, obtendo a liberdade com a morte deste. Jamais foi apagado o preconceito e discriminação ao negro. Em verdade real, os portugueses eram mestres e finos peritos na comercialização do tráfico de negros da África como o negócio mais lucrativo da carne humana.

Não refutando, a Companhia de Comercio do Grão Pará e Maranhão, desde o ano de 1755, abastecia as províncias do Maranhão com o mais ganancioso negócio de mão de obra de graça para quem comprava os escravos em altos preços – homens negros. Com a súbita queda do algodão e a Balaiada, muitos negros escravos fugiram e formaram mocambos nas matas fechadas do sertão caxiense. Os senhores com ótimas condições financeiras formava uma guarda que tinha entre eles o chamado “Capitão do Mato” com obrigações de matar os escravos que fugiam das fazendas.

Sem a mão de obra barata e escrava, os engenhos se quebraram, e o fruto econômico que assobiava o poder sucumbiu pelas estreitas valas das desesperanças financeiras. A caçada envergada a procura de trabalhadores se derramava nas forças dos pobres indígenas que nada entendiam e não estavam acostumados nos labores desgraçados do homem negro. Sem alvará da igreja católica não foram felizes em conjugar a força de trabalho indígena versus a do negro, aliás, o clérigo dominante nunca se importou com a escravidão e os maus tratos dos homens sem espírito, eram tidos como os lixos humanos e porcos das fazendas. Esse tipo de escravismo negro sempre causou um espanto em nossa sociedade moderna, pois, não houve oportunidade de angariar com expressividade a função dos escravos na adaptação como um elo das condições prioritárias do ser humano.

Não olvidando que nesse entrelaço, o desenvolvimento esteve no apogeu com a remessa escancarada de homens vindo das portas dos infernos de Cacheu, Angola, Bissau e outras partes do continente africano. Cujas empresas de navegação transportavam os produtos como cana-de-açúcar e algodão em troca de escravos para a indústria no período de colonização. Sem sombras de dúvidas, estas relações de trabalho apontadas pelo império transformavam em jazidas de lucros aos portugueses. O tráfico de pessoas transformava em mares de desconfortos, opressões, mortes e imposições delineadas aos argumentos dos feudais. Nesse toque resultante de tantos conflitos, levou a inúmeros laços comerciais internos no interior do sertão maranhense. Sabe-se que os germes desta seiva não obtinham alimentação adequada para um ser humano dando azo a milhares de fugas e capturas com sanções pesadíssimas na pele humana.

Não flui e nem altera ou não se avoluma a história em descrever a gigantesca figura desse negro ativo – Cosme Bento das Chagas, um brasileiro com todas as letras que intermediou os sonhos dos oprimidos na realização da liberdade do seu povo, e que fora um autêntico lutador contra a escravidão, apesar de não ter lançado o seu nome na história do Maranhão, porém, deixou marcado no seu berço toda a biografia maranhense. Um líder de quilombos que travou alguns remédios enaltecendo o poder dos negros na Vila de Itapecuru Mirim. Já estando bem adiantada a confusão na Vila da Manga por Raimundo Gomes e Manuel Ferreira dos Anjos, apelidado de Manuel Balaio na qual desafiaram toda a burguesia (estupro de duas meninas). Neste entrave bélico, os homens apadrinhados pelo partido bem-te-vi que impuseram cerco em vários lugares, inclusive com a mediação de Dom Cosme Bento Chagas, e também estabelecendo título a si próprio como o Tutor e Imperador da Liberdade Bem-te-vi, constituindo num lugarejo o maior reduto de escravos de todo o Maranhão. Até mesmo o poeta Gonçalves Dias, calou-se perante os atos que circularam em Portugal sobre a guerra da Balaiada, motivados para não ter problemas futuros em sua vida.

Entre todos os líderes da Balaiada, Dom Cosme não se intimidou e guerreou os últimos minutos em que jorravam o suor do seu corpo com um mar de bravura por todos os cantos do Maranhão. Preso e humilhado, no dia 20 de setembro de 1842, o Negro Cosme era enforcado em frente à cadeia pública de Itapecuru Mirim, e somente assim, teve um fim trágico não relatado nas histórias da revolução que assombrou a burguesia maranhense. Sem qualquer guardião e esquecido, Negro Cosme foi um abarbarado herói que permanecerá nos lençóis da liberdade por todos os tempos como um bramador da escravatura e a liberdade do homem.

A verdade é que num mundo caótico e cheio de reivindicações pelos traços étnicos e raciais não superou a intolerância, assim como silenciou os fatos notórios deste grande homem maranhense na bandeira de heroísmo. Salientando que o seu exército com mais de quatro mil homens sob o seu comando não fraquejou perante as forças governamentais nas tangentes dos beirais do Rio Itapecuru. A coragem mediante nas pelejas desse sofrimento de longas batalhas, Cosme Negro além de levantar os braços por cada lugar por onde houvesse desgosto e ansiedade de negros escravos, ali estava presente o seu defensor na guerra contra o poder e o exército brasileiro. Sabe-se que mesmo em guerra, a escola fundada por este negro combatente não parou as suas aulas, pois, tinha objetivos de que cada criança teria o mesmo direito de se educar aprendendo a ler e escrever.

Notadamente, este braço da liberdade e esperança para muitos escravos, extinguiu das conexões violentas que se estabelecia por meios de torturas o desenvolvimento amordaçado pelo suor e sangue sobre pequenos homens sem almas. Como sabemos, o Duque de Caxias fora condecorado inúmeras vezes nos brasões de um militar herói em nossa história. Mas, a vida de Negro Cosme, não alçou os parâmetros sequer de uma bravura estendida nos olhares de quem não possuía sequer a vida com dignidade ao pressentir que as pessoas escravizadas detinham o mais triste retrato da existência.

Um bandido que fizera um aglomerado de homens loucos por justiça, temido pelo Duque de Caxias, não retardou a enfrentar com as mãos e o sangue solto pelas areias dos quilombolas na qual o herói, homem do exército brasileiro soube muito bem desenhar uma carnificina com a covardia empregada no quilombo, matando crianças, mulheres, homens e velhos desarmados. Sem rota de transmissão, tudo abalou com tristeza e pobreza o homem mais valente do Maranhão ao revelar no íntimo a perca dos entes queridos, traçados e retalhados por tiros de canhão. A luz do desprezo se estendia nas janelas dos olhos pelos homens brancos, hasteando a submissão, racismo, açoites e todas as formas de castigar o semelhante.

Será sempre refletir sobre este apogeu com teatro a céu aberto, não olvidando de uma figura ilustre na Vila de Caxias, o professor Ricardo Leão Sabino, intelectual com um lastro de conhecimentos culturais manteve fortes laços com o Duque de Caxias, abrindo um leque de cordialidade que ultrapassavam as medidas, ganhando do militar a confiança e ofertando os conselhos. E foi exatamente em seu curso de línguas onde o poeta Gonçalves Dias fora matriculado para aprender os idiomas como: francês, latim e filosofia. Destarte, este foi a espuma que se espalhou quando optou pela lateral nas questões políticas e conturbadas. Orgulhoso por desenvolver entre os caxienses algumas experiências militares adquiridas em Portugal durante o império de Dom João VI. Dentre tantos rebuliços e teimosias, as frentes políticas desempenhavam um papel miserável, traiçoeiro com os partidos cabanos e bem-te-vi. Os barões agigantados do gado e algodão lastreavam entre o medo e larga perseguição aos balaios, apesar de que, detinham os depósitos de armas e munições além dos inúmeros mercenários que dobravam as esquinas das ruas do centro comercial.

As marchas do receio e terror eram constantes nas faces dos caxienses, nem pelos meios ardis o capitão Sabino aventurou-se a provocar mais dores. Logo, um ar infernal de descontentamentos alvejou os meios políticos diante de um compasso longo ao receio que enfeitiçou as dobradiças escancaradas da covardia. Ressalta-se que estes loucos cachorros sem donos titulados de Balaios eram os frutos bem acolhidos pelo partido bem-te-vi que se escondia nas faixas das cortinas do medo, às vezes, utilizando da amizade dos Balaios para obter um futuro promissor no governo, resultante das batalhas entravadas com os cabanos. Nem mesmo a autoridade policial na pessoa do famoso Dias Carneiro não cingiu os meandros políticos na reunião forçada com o povo para conter os ingratos fora da lei. Sabe-se que o partido Bem-te-vi abandonou os laços com os balaios após a chagada do Duque de Caxias.

E por último, a sequência espalhada pelos lugarejos provincianos com os homens de ferro que engoliam fogo como água, jazia por todas as jornadas o medo de se encontrar com o único sertanejo Balaio, capaz de realizar proezas ou até mesmo deixar a estrelar solar completamente quadrada. A desordem e a insegurança já estavam bem plantadas no celeiro governamental pelos desbravados homens fora da lei, intitulados como demônios sem inferno. Bandos tomavam frente ao teatro livre dos injustiçados e sofridas almas que caminhavam em busca de alimentos pelos quintais alheios à força e pedradas, pondo os caxienses no cerco de 46 dias. Lamentavelmente, era um exército aglomerado de soldados pobres com paus, cacetes e alguns facões numa legião desgovernada pelas ruas e becos. Era também um amontoado de reivindicações sustentado nas vozes que nunca eclodiram nos jornais da época e nem mesmo a própria justiça fora tão parcial em seus julgamentos.

Notória, foi a novela dos chefes de polícias do Maranhão que se agonizavam em por ordem e regulamentos com freios somente na classe mais vil da sociedade, acoitando os monstros honrados de comendas que abarrotavam em crimes contra o mais frágil da espécie humana. Esta aí, a presença do homem mais violento do império que lhe rendeu sem dúvidas inúmeras homenagens e medalhas pela coragem de crucificar seus inimigos em campos de lutas. Pois, não fora muito longe o Presidente e Comandante das Armas, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o pacificador de Caxias.

Foi nos espelhos daquela Regência em que mastigou os duros golpes aos seus olhos, deixando-os sem dormir, e as meditações não fugia, a força os enfraquecia nas janelas do tempo marcada por cada traço. O coronel Caxias, comandante de todas as tropas e operador das mais galgadas aspirações, teve medo e pavor de enfrentar os balaios na cidade de Caxias, por muitas vezes, escondendo-se entre ruas e esquinas da Princesa do Sertão Maranhense para não cruzar com o espírito do satanás. Com as mãos cheias e repletas de poder, canhões e armas, a situação geográfica da cidade lhe ardia por dentro em pânico. Se não fosse a união dos homens secretos das ordens, agindo na calada da noite em múltiplas reuniões confidenciais. Bem ali, no centro comercial caxiense, traçaram mapas e opiniões nas alas da maçonaria. E por final, armando ciladas por todos os cantos da cidade, os Balaios de nada entendiam ou pudessem compreender os diagnósticos de uma guerra ao poder que nunca aspiraram. A grande maioria aglomerada de homens, crianças, jovens e velhos se acudiam em furtar porcos, galinhas e diversos animais para matar a fome, invadindo e quebrando as portas dos comércios, gritando nas ruas da cidade – “Eu sou forte como o sol e devoro esse poder com as mãos”. Os caxienses fechavam portas e janelas, alguns até contribuíam com os famintos fora da lei, outros invadiam a delegacia local e igrejas num macabro redemoinho furioso e sagaz. E tudo isto, sem terem uma ideia fixa do domínio que ocasionou ao governo imensos prejuízos na maior cidade econômica do Maranhão. Na corrida sem freio, os Balaios nada temiam, assim como não sabiam a quem obedecer, a maioria dos combatentes balaios nem sequer usavam armas de fogo com limites às próprias mãos.

Entre várias estradas poeirentas da cidade e banco de areias, o Duque de Caxias empreendeu armadilhas no silêncio da noite, apagando as vozes de um povo que não souberam contar a sua própria história, nem mesmo tiveram a quem reclamar das ilegalidades sofridas. Em suma, existe a mais evidente participação do partido Bem-te-vi nas artimanhas de tomar o poder governamental através dos Balaios. Não logrando êxitos com a chegada em fevereiro de 1840, com a proclamação dita por Duque de Caxias aos maranhenses, estes silenciarem as magras e gordas astúcias. Por outro lado, determinados políticos que assanharam os Balaios na vã promessa de tomar o governo e recriar uma política mais aplausível aos fiéis com a derrubada do poder enfraquecido. Desapareceram daquele cenário de guerra de palavras e fuxico, sem dar nenhuma estrutura ou apoio logístico aos Balaios, aliando-se na ternura da ordem real e aceitando as recomendações do Coronel Luís Alves de Lima e Silva com lambidelas e infinitas estórias de bajulações.

Com a queda desastrosa da confiabilidade nos Bem-te-vi pelos Balaios em várias cidades do Maranhão, amorteceu os seus principais líderes que depositava nos homens de ternos e gravatas, a futura mantença da paz com o governo nas mãos com alimentos capazes de encher a barriga dos seus filhos. Diante disso, o brado eloquente do Comandante do Exército, assumiu de imediato as severas perseguições nas áreas ruralistas onde se concentravam sem qualquer base os miseráveis. Eram, sem quaisquer dúvidas, os lugares onde repousavam e alimentavam os filhos menores enquanto os homens furtavam pequenas crias para o alimento de mais de mil e quinhentas pessoas agrupadas num local à beira do Rio Itapecuru, provavelmente no bairro Volta Redonda. Isto, sem se falar das outras áreas em que o Duque de Caxias aniquilou sem deixar rastros os povos Balaios que nem sequer possuíam armas, apesar de haver na cidade de Caxias um contingente aproximado em mais de 12.000 pessoas envolvidas e espalhados por todos os lugares da cidade.

As informações de guerras funcionavam como premiação a quem informasse os esconderijos dos Balaios, e alguns do partido Bem-te-vi que mantinha contato com os revoltosos, estavam à frente das informações e movimentos dos marginais, aderindo às ordens do Imperador menino, doutrora, fixando cordialidades sem retaliação conforme denúncias dos maldizentes. Como se sabe, Caxias era um correio de mentiras, o maior porto fluvial de acontecimentos que jamais foram confirmados. Os homens de Caxias souberam muito bem atrofiar e esmagar com as palavras que bem sabiam escrever e falar ao governo sobre os ingratos escravos militantes balaios. Não existem dúvidas, que a constituições de fileiras de mulheres, homens, velhos e crianças negras não simpatizavam os olhos vingativos dos homens da lei. Sem misericórdia, foi o palco mais cruel de todas as guerras que possam contar sem detalhes, inimizades e conversinhas subiam e desciam as ruas de aguaceiros. As damas e senhoras do algodão sentiam-se infelizes ao atravessarem as ruas da pequena cidade e ter que encarar um vulto negro e imoral de ser humano pedinte ou roubando-lhes para matar a fome. E as elites das classes confabulavam os enormes emaranhados de gritos nos rumores ensurdecidos pela transformação social e radical que se instalava grosso modo.

Mataram tantas crianças e velhos que não sabiam os destinos de tantas mentiras que viajavam nas bocas dos senhorios, todos culpavam: Eram os Balaios. Mas, a história tomou outros rumos para aliviar um charme mais decoroso ao comandante de guerra, um combatente eficaz que não sofreu nenhuma derrota em Caxias e que venceu a guerra com pólvoras. É um triste relato, mais a verdade é sempre bem aceita quando os nossos olhos não predizem, e não vivenciam os fatos. Conta-se que o Duque de Caxias tremia de medo ao falar que negro Cosme estava na cidade. E nestas consequências, foram mutiladas e exterminadas no bairro do Cangalheiro milhares de inocentes ao custo de uma estratégia bem montada com verdadeiras informações num rio de eternas mentiras que ali nas beiras do rio Itapecuru se encontravam a cambada de violentos e chefes dos Balaios. Ali, formaram-se um riacho de sangue vivo que descia rio abaixo com as almas penadas. Apenas uma cilada bem preparada para arrancar corações com vários canhões na madrugada mais ignóbil.





 
ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 19/03/2013
Reeditado em 20/03/2013
Código do texto: T4197872
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