PRIMEIRA ESCOLA NA REGIÃO

O ano era 1962. Naquele tempo, na região do “Passo do Neve”, distrito de “Santaninha”, no município de Caçapava do Sul, não havia escola. As famílias com melhor “poder” aquisitivo, contratavam professoras particulares para ensinar aos seus filhos; Lêr, escrever e fazer as quatro operações de conta: somar, diminuir, multiplicar e dividir. Quem não tinha condições de contratar uma professora, criava seus filhos analfabetos. E seus destinos eram; Peões nas fazendas de criação de gado ou trabalhar na lavoura.

Meu pai, o Sr. André de Castro. Jamais concordou com esse “conformismo” da população local!

Nós éramos em quatro irmãos. Eu, o mais velho, já estava com sete anos, já sabia ler, escrever e fazer contas. Pois o meu pai havia contratado sim uma professora particular para me dar as primeiras aulas. A “Laurinha”. Com minha mãe, Dona Elcides, trabalhando na máquina de costura, ajudava à pagar o salário da professora. Mas os meus irmãos também estavam crescendo e sem estudar...

Então, num determinado dia, ele, meu pai o Sr. André de Castro, levantou-se bruscamente da cadeira apanhando seu chapéu e disse em voz alta pra minha mãe; “Meus filhos não vão se criar analfabetos”!... E saiu porta fora...

Encilhou um cavalo que já estava no potreiro e então dirigiu-se à vila de Santaninha à 14km de onde morávamos. E comprou uma passagem de ônibus pra Caçapava do Sul.

No final da tarde, retornou feliz contando pra minha mãe, que na próxima semana iria à cidade de Caçapava falar com o prefeito Sr. Elpidio Cidade, para ver o que precisaria para abrir uma escola.

Viajou e falou com o prefeito... Que lhe fez uma proposta; Meu pai teria que conseguir no mínimo 21 (vinte e um) alunos, arrumar local para serem dadas as aulas e dar hospedagem para a professora. A prefeitura pagaria apenas o salário da professora.

Chegando de volta da viagem, visitou todos os vizinhos que tinham filhos em idade escolar, para contar a idéia de abrir uma escola. Mas encontrou grandes dificuldades; Pois não era de costume mandar os filhos para estudarem. Achavam que teriam prejuízo em tirar um filho da lavoura por uma manhã inteira todos os dias. Mas mesmo assim, conseguiu uma relação de 17 crianças. Crianças que variavam entre 8 e 16 anos e analfabetas.

Voltou à Caçapava para falar com o prefeito novamente com a relação em punho. Mas, desta vez, a decepção! Foi negada a autorização para fundar a escola. Pois Segundo o prefeito, teria que ter no mínimo 21 alunos e o Sr. André só havia conseguido 17 “promessas”!

Meu pai voltou pra casa muito triste, mas não derrotado... Novamente encilhou seu cavalo e foi visitar vizinho por vizinho outra vez... Aqueles que tinham cinco filhos e que haviam prometido apenas dois para “ajudar” meu pai à fundar a escola, agora o argumento era para que todas as crianças participassem do projeto da escola. Com seus argumentos de não deixarem seus filhos se criarem analfabetos, conseguiu uma relação de 25 crianças. Ou seja, um número suficiente para que o prefeito assinasse a autorização.

Voltou pela terceira vez à Caçapava. Levou a relação com nome e data de nascimento dos 25 futuros alunos e o prefeito Sr. Elpídio Cidade assinou a autorização!

No papel, já estava fundada a primeira escola na região do Passo do Neve. Com o nome de “Escola Municipal General Daltro Filho”. Fundada com a iniciativa e insistência do Sr. André de Castro.

Em poucos dias veio a professora; Coincidentemente com o nome de Laura. Laura Madrid.

Veio morar na nossa casa e as primeiras aulas foram dadas na sala. Pequena. Tudo improvisado. Apoiava-se o caderno em cima de um pedaço da tábua no colo e os “lápis” eram cortados ao meio e embutidos num pedaço de taquara para ficarem melhor de escrever.

Havia então a necessidade de um local para a escola propriamente dita. Sem recursos financeiros, meu pai conseguiu comprar do seu próprio bolso, apenas as telhas. A madeira foi retirada dos matos e os tijolos para as paredes foram fabricados ali mesmo no barreiro do potreiro com ajuda de alguns parentes e vizinhos.

Meu pai, foi o pedreiro que sentou tijolo por tijolo erguendo as paredes... Eu e os meus irmãos, embora crianças, fomos os serventes que alcançávamos os tijolos. E assim foi construída a “Casinha da Aula” como foi chamada. Com menos de 30 mts quadrados abrigou todas aquelas crianças por vários anos.

Depois, da primeira professora, a Laura Madrid, veio a professora Maria Tereza e por ultimo a Neiva Vargas. Que casou-se com meu primo Delvarte e moram até os dias de hoje em Santana da Boa Vista. (A vila de Santaninha que emancipou-se de Caçapava e virou cidade).

Em todos os tempos e em todos os “cantos” do mundo, sempre existiram pessoas que, com garra e determinação fizeram a diferença entre o “nada” e “alguma coisa” pelos seus semelhantes. Meu pai, o Sr. André de Castro. Foi um destes homens que, mesmo “quase” sem recursos financeiros ajudou a fazer a diferença no destino traçado de todas aquelas crianças que estudaram na primeira escola na região do “Passo do Neve”.

Hoje com seus 84 anos de idade continua firme nos seus ideais. E pode sim, com certeza sentir a felicidade e a sensação de dever cumprido!...

Parabéns!... Sr. André de Castro, pelo que fez e pelo homem que é!...

Ass: Norberto Castro

06/2013 (seu filho)

EM TEMPO: O Sr. André de Castro, faleceu em 27 de Abril de 2021. Em consequência da vacina contra a COVID. Melhor dizendo, "ASSASSINADO PELA DITA VACINA".

(48 horas após se vacinar, sofreu um AVC. (perdeu a fala e os movimentos do corpo e em poucas semanas depois, faleceu).

NORBERTO CASTRO
Enviado por NORBERTO CASTRO em 18/06/2013
Reeditado em 03/04/2024
Código do texto: T4347559
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