A FORÇA DO DESTINO.

Desde sua separação conjugal cheia de brigas e sofrimentos, Anne se abrigará na pequena cidade de Marselha. Sua casa pequena e aconchegante era seu refugio, onde Anne se recuperara e agora se protegia.

Morava sozinha, afastada uns 10 km da cidade, e sem vizinhos por perto, apesar de ficar na estrada principal de acesso a cidade. Gostava da privacidade que essa distancia lhe proporcionava, e todas as manhas saia pedalando para seu escritório observando a natureza e sentindo o ar fresco lhe chegar aos pulmões, mais o que mais gostava era de passar todos os dias pela imensa placa de sejam bem-vindos bem a entrada da cidade.

Porem a chuva havia chegado e isso sempre representava problemas.

Naquele dia tudo parecia triste e solitário, o sol não brilhava e depois de uma noite inteira de chuva intensa ainda chovia lá fora.

O despertador havia tocado já há alguns minutos e ainda não conseguira levantar. Os olhos pesavam, o corpo doía como se tivesse pegado uma surra.

Estendeu a mão à procura do telefone, encontrou-o mais este estava sem sinal, Também por conta da chuva.

Precisava levantar... Os clientes a esperavam, depois de meses tentando fechar um negocio no dia das assinaturas não podia faltar.

Levantou relutante, ligou a TV para ouvir o noticiário, e seguiu para o banheiro, ajustou a temperatura da água, um banho quente iria ajudar.

Após o banho sentiu-se melhor, mais a dor de cabeça ainda incomodava, vestiu-se com cuidado, sempre prezou a aparência, mesmo não se considerando bela, agasalhou-se e saiu correndo para o carro.

Enquanto tomava banho não ouviu o noticiário que alertava sobre a enchente do rio, sobre a destruição de varias casas na cidade e nem sobre a queda de uma barreira que impedia a entrada e saída da pequena cidade, seguiu seu caminhos.

Seus olhos pesavam tanto que era difícil manté-los abertos, e em um momento de distração um esquilo atravessou a rua bem a sua frente. Para impedir a batida, freou bruscamente. O carro deslizou e rodopiou varias vezes até para no acostamento, ela não via mais nada, havia batido a cabeça no volante e desmaiado em cima da buzina que gritava insistentemente.

Não sabia quanto tempo havia passado desmaiada e sozinha.

Um carro que seguia a caminho da cidade, ouvindo o som da buzina parou para ver o que havia acontecido.

Quando despertou, estava sendo levada nos braços de um desconhecido. Um homem alto, lindo, de olhos profundos, tristes e visivelmente chateados, subia a pequena entrada de sua casa. Ela perguntou:

- Quem é você? O que aconteceu?

Ele nem se incomodou em responder, continuou perscrutando as janelas, as portas, deu a volta na casa tentando encontrar uma forma de entrar. Então ela disse:

- A chave está embaixo do tapete.

Ele lançou-lhe um olhar fulminante, que se não tivesse sem forças teria sumido mais que depressa.

Abaixou-a e abriu a porta, voltando em seguida para conduzi-la para dentro, colocou-a no sofá, onde está não agüentando a dor de cabeça que agora era mais forte, desmaiou de novo.

Horas se passaram e quando despertou estava com aquele homem olhando-a nos olhos e pela primeira vez ele falou:

- Você está bem?

Tentou levantar mais foi impedida, por ele que ainda completou.

- você sofreu um acidente e está ferida, melhor ficar quieta.

Sentia dores e uma fraqueza tamanha que se deixou ficar, acabou adormecendo novamente.

Acordou em seu quarto, sozinha, olhou pela janela parecia já ser noite novamente e sentiu um delicioso cheiro de comida que vinha da cozinha. Levantou com muito esforço, sentou-se na beira da cama, e quase desmaia mais uma vez, agora de susto.

Sua aparência era horrível, olheiras profundas, um imenso hematoma na testa, sem cor no rosto parecia um doente terminal, nisso o tal homem adentra o quarto com uma bandeja na mão, com algo fumegante e que pareceu apetitoso falou:

- Não disse que você está ferida, e deveria manter-se deitada? Mulheres.... hummm.

Deixando a bandeja no criado mudo, ajudou-a a deitar novamente. Entregou-lhe a bandeja, e sentando-se a beira da cama, apresentou-se.

- Eu sou Juan. Juan Carlos. Estava a caminho de Marselha, para concluir um negocio de minha empresa com outra desta cidade, quando ouvi a buzina de seu carro. E o resto você já sabe... parece que estamos sem comunicação e também sem acesso a cidade, por causa de um deslizamento na estrada. Não tenho pra onde ir e você não tem quem a socorra, acho que temos que contar um com o outro.

Anne ouvia, e pensava então esse é o tal sócio anônimo com quem tenho que tratar? Porque quis manter tanto segredo durante as negociações? Porque iria pessoalmente fechar o negocio depois de tanto mistério?

Anne despertou de seu devaneio com o olhar insistente de Juan.

- O que você falou?

- Perguntei seu nome.

- Me chamo Anne. Omitindo seu sobre nome, que sem duvida Juan devia já ter ouvido, e continuou.

- Pode ficar aqui até que a estrada seja desbloqueada, tem um quartinho mais ao fundo da casa, que uso como escritório/biblioteca, o sofá é também uma cama, acho que servirá para você. Tem roupas de cama e banho no armário da área de serviço.

- Obrigado. Foi apenas o que respondeu e saiu.

Anne tomou a sopa que estava muito gostosa, e dormiu.

Acordou horas depois com o choveu batendo na janela novamente, e ainda pra piorar faltou energia, mais Anne não teve forças pra levantar e procurar velas, se deixou ficar ouvindo a chuva na escuridão, mais não demorou muito a ouvir som nos outros cômodos da casa, e enfim uma porta fechando. Será que ele foi embora??? Algum tempo depois sonolenta ouviu sons novamente, e em seguida uma quentura gostosa invadir a casa, ele havia acendido a lareira, adormeceu tranqüila.

Acordou pela manhã com barulho na cozinha. Demorou um pouco para recobrar dos acontecimentos recentes. E então lembrou-se de tudo. Pior que isso tomou consciência que o tal homem deveria agora saber quem ela era, pois havia vários documentos no escritório sobre a negociação, e documentos que revelavam sua identidade.

Deu um profundo suspiro e levantou-se, ia seguir para o banheiro quando uma cabeça surgiu na porta:

- Ah... então a bela adormecida já acordou??? Percebendo a intenção do banho. Completou.

- Vá tomar banho e venha tomar café, que já, já está pronto. E sem esperar resposta saiu fechando a porta.

Anne não se incomodou, tomou banho, vestiu-se, roupas simples, de casa, um short azul, camiseta branca, prendeu os cabelos num rabo de cavalo, ainda observou os ferimentos no espelho mais nada demorado e seguiu em direção a cozinha.

A mesa estava posta, havia uma porção de diferentes coisas, ovos, torradas, pão, geléia, café, suco, leite, sentando-se em uma das cadeiras, Anne, perguntou:

- De onde tirou tudo isso?

Juan voltou-se sorrindo e respondeu:

- Da minha cartola de mágico. Sentou-se a seu lado a mesa, esbarrando de leve em seu braço.

Anne estremeceu como se tivesse frio ele percebeu.

- Está tudo bem? Perguntou.

- Sim, sim. Ela apressou-se a responder.

Ele também sentirá. Ficaram em silencio, por alguns minutos. Que foi quebrado pelas palavras dele.

- Descobri em seu escritório que você é Anne Murray, então é minha sócia agora...

- Ainda não, não assinamos os papeis ainda, e não sabia que meu futuro sócio gostava de bisbilhotar a vida dos outros visto que gosta de manter-se em segredo.

- Gosto de mistérios, principalmente nos negócios, e não bisbilhotava nada, os papeis voaram da mesa quando liguei o ventilador de teto. E quanto as assinaturas, acho que o destino deve ter armado uma pra nós, apesar de não ter contribuído para a realização do encontro marcado, agora podemos concluir nossas negociações, já que estamos juntos aqui.

Anne não respondeu. Todas as palavras dele pareciam ter duplo sentido e ela teve mais arrepios. Não eram arrepios de medo e temor, mais de sedução, enquanto que Juan sem perceber lançava sinais de interesse, pois já havia se encantado por aquela mulher.

Terminaram o café em silêncio.

Juan levantou-se dizendo ir verificar a situação da estrada, se já haviam desobstruído as vias, e se poderia comprar algo para comerem e resolver a questão da energia, a cidade mais próxima com exceção de Marselha, ficava há 18 km, dali.

Anne meneou a cabeça, observando-o se afastar. Levantou e foi ao escritório, assustou-se com tamanha organização, não que fosse dessarumada mais até as roupas de cama usada por Juan estavam devidamente em ordem, fazia muito tempo que não tinha um homem tão perto, tão intimamente, e sem duvida a primeira vez que conhecerá um organizado.

Na escrivaninha separou os papeis da negociação, já perceberá que Juan não admitiria ter perdido seu tempo ido até aquela cidade pra voltar sem ter assinado os tais papeis, e que sem duvida estava perdendo mais tempo do que esperava, devido à tempestade.

Voltou à cozinha com os papeis em punho, pos sobre a mesa e dedicou-se a planejar o almoço, daqui a pouco ele estaria de volta, e quanto antes partisse melhor, ela não entendia o que se passava com seus sentimentos e sentidos, mas aquele homem mexia com ela.

Abriu a geladeira, nada, os armários nada, entendeu então o porque da preocupação de Juan com as estradas. Não havia nada para alimentarem-se, ela havia esquecido de fazer as compras.

Não sabendo mais como ocupar seu tempo, sentou-se na sala e esperou.

Juan demorou-se a voltar e quando retornou trazia algumas sacolas.

Anne ficou feliz com sua volta, já haviam se passado varias horas, e estava só e com fome, até pensava que ele teria ido embora sem desperdice e isso incomodava mais que a dor no estomago.

Abriu a porta contente e recebeu o mais profundo olhar que já havia tido em sua vida, parecia que Juan lhe enxergava a alma, encabulou-se, abriu caminho e segui-o até a cozinha.

Ele abria os pacotes e falava, de costas pra Anne.

- A estrada continua obstruída, tive que ir a próxima cidade para comprar alimentos, continuaremos se energia elétrica até que alguém possa vir consertar os fios que cairão com o peso de uma enorme árvore.

Anne escutava, e observava, aquele homem andar pela cozinha guardando comida, mexendo lá, abrindo acolá como se a casa fosse dele, como se fosse natural ele estar ali.

Juan passou e esbarrou nela que de detraída desequilibrou-se, rapidamente ele segurou-a entre os braços, tão próximo que sentia sua respiração. Seus corpos se aqueceram, seus corações aceleraram, seus olhos se prenderam, suas bocas ansiavam e enfim tudo aconteceu. O beijo. Tão inesperado tão súbito mais tão... desejado.

Parecia que o mundo parara de girar, que as nuvens haviam sumido, que o sol voltara a brilhar, que tudo estava em seu devido lugar.

Aos poucos os lábios se separaram, mais os corpos, os braços, resistiam em se afastar, se deixaram ficar.

Juan carregou-a no colo e carregou-a até a sala, a pós sentada diante da lareira, afastou-se e começou falar:

- A muito tempo atrás sonhei com você, fiquei tão encantado que andei como louco a sua procura, contratei vários detetives, fiz milhares de viagens, conheci mil lugares só porque me apaixonei por você traves de um sonho. Quase perdi minha fortuna, quase perdi minha vida, quase enlouqueço nessa busca e... nada. Ninguém podia entender o que eu sentia, e nem saber como encontra-la, mesmos os detetives riam porque parecia impossível encontrar uma ilusão, uma fantasia. Quedei-me a pensar que seria isso mesmo, que não passara de um sonho. A partir de então resistia em sair da minha cidade, sempre que precisava fechar negócios, mandava outro em meu lugar, um representante. Não por arrogância, ou altivez, mais por medo de outra vez me deixar envolver por uma... esperança, uma ilusão.

Ficou em silencio por um tempo, Anne esperava, sabia que ele precisava falar, sentia. E assim ficou, calada, olhando-o fascinada, entendia bem o que lê falava, pois agora depois de muito tempo lembrava de um sonho tão parecido que teve, e pode então entender porque sentia que aqueles olhos eram tão familiares, e porque aquele estranho lhe mexia tanto.

- Quando descobri que teria que vir fechar esse negocio me angustiei, procurei varias pessoas para vir em meu lugar mais tudo parecia conspirar para esse encontro. O destino estava traçado. Sai de minha cidade com raiva, chateado por ser obrigado a me afastar de meu mundo, de minha segurança. Ainda estava assim quando ouvi o ruído insistente de uma buzina na estrada. Parei, esperei, e resolvi procurar pelo som. Quando a vi ali, caída sobre o volante, meu peito pareceu que ia explodi num misto de felicidade, medo, tristeza, raiva. Na minha mente tudo passava como um filme, o sonho, a procura, as noites em claro, o desespero, a desistência, o medo de acreditar, medo do real, e de perder tudo de novo. Procurei por sua pulsação, por sua respiração, e me tranqüilizei. Havia percebido uma casa a poucos metros do lugar onde você estava e levei-a para lá, para pedir e prestar socorro. E foi quando você acordou. Desde aquele momento quis beijá-la, toca-la, possuí-la, mais não podia agir por instinto, como um animal.

Anne levantou-se e se aproximou de Juan, pôs-se a sua frente e olhando-o nos olhos falou:

- Eu sei, e agora entendo...

E beijou-o com todo amor que havia guardado e desejado dar a um homem, que entregou à muitos e que nem um soube retribuir, agora entendia porque... o destino já havia escolhido o seu par e ela não soube esperar, mais agora não deixaria a felicidade escapar.

midynigth
Enviado por midynigth em 02/05/2007
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