O homem que não temia

Um homem simples carregava em seu coração um tesouro inestimável.

Detentor do vasto império existente dentro seu peito, correndo pelas veias do seu corpo, apurando os movimentos harmônicos do seu organismo, não era capaz de temer. Desconhecia o sentido condensado naquela partícula do instrumento lingüístico da sua sociedade. Tampouco dos efeitos fisiológicos lançados no organismo quando se sente medo.

Talvez fosse menos humano, já que são todos os sentimentos, mesmo os contraditórios, que vivendo em intensos conflitos, explodindo de forma contínua imersos no ser que fornecem a condição de humano.

O tempo, entretanto, ao tomar conhecimento daquele homem diferente que parecia desafiar a natureza não aceitou que tal espécime passasse despercebido pelos seus iguais, em um tempo onde ninguém conhecia ninguém, e todos eram desconhecidos a todos. Fosse outra época, e ele seria louvado pelo pequeno povoado que habitasse. Mas, nos seus dias, ele era igual à implacável e perversa força da indiferença. E então, era desconhecido. Não era justo.

E foi assim que o tempo lhe lançou um desafio: “Veja aquela pequena!”, disse o tempo, referindo-se à mulher que colocava ao alcance dos seus olhos.

Ela não tinha nada demais. Tampouco atributos que a destacassem do resto da multidão, a não ser, o desafio lançado pelo tempo.

Sem saber o que era temor, o homem inconscientemente lançou-se mão ao desafio de amar aquela mulher. E eis que a natureza uma vez mais ganhava o desafio.

O homem, antes desconhecido, era agora, mais do que conhecido, querido e amado por alguém, a mulher apresentada pelo tempo. Entretanto, o que não se esperava, era que a indiferença ao medo desaparecesse do seu ser.

E não houve dia ou noite em que o homem não temesse perder novamente aquela a qual o tempo lhe havia apresentado.

Muitos dirão, que o referido homem havia feito péssimo negócio.

Aos que os mais cuidadosos e atentos, todavia, verão. Pois não pudera acontecer nada mais maravilhoso na vida daquele homem. Que ao perder a habilidade de não sentir medo, passava a ter pela primeira vez, um sentido que o animava a viver, e em troca ganhava um novo atributo. O qual exigiria muitas e muitas páginas para ser descrito em sua totalidade, a felicidade.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 24/04/2014
Reeditado em 24/04/2014
Código do texto: T4780996
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