Riquezas da Vida

Certa noite, antes de dormir, pensava eu nas desventuras que me trazia a vida. Nunca as minhas dificuldades me pareceram tão cruéis e desoladoras como naquela noite, nunca me ficou tão claro o meu “não ter”, “não poder”.

Veio-me à mente todas as coisas as quais eu sempre quis e nunca pude possuir, todos os belos lugares os quais eu nunca conheci, todas as facilidades as quais eu sempre ansiei.

Já com a alma lassa por estes pensamentos dolorosos, adormeci.

Sonhei que estava em um imenso e rico castelo, rodeado de muitas e infinitas terras, cercado de um lindo jardim, onde eu me encontrava sentada num banco de mármore, ao meu lado havia uma escrava a me servir, e meu pai não hesitava em satisfazer todas as minhas vontades. Eu, porém, estava triste, tinha sobre os joelhos uma caixa de jóias que acabava de receber de um nobre cujo amor dizia me pertencer. Coloquei o presente nas mãos de um escravo para que fosse guardado junto a tantos outros que me chegavam regularmente.

Eu era bela e de uma das famílias mais abastadas da região. Mas isso não me tornava feliz e após o jantar retirei-me aos meus aposentos e pus-me a refletir sobre minha vida. Uma tristeza se apoderou de meu coração e um vazio gelado tomou meu espírito. Senti-me verdadeiramente infeliz e nessa infelicidade adormeci.

E eis que sendo uma nobre, sonhei que era uma menina pobre, mas com uma alma sedenta de vida e com uma imensa vontade conquistar o mundo. Naquela menina simples havia tanta energia que não se podia duvidar da conquista de seus ideais.

O dia já ia alto quando a escrava me acordou. Levantei e mirei minha imagem no espelho. Já não me sentia tão infeliz, pois agora eu sabia que em algum lugar eu estava, desprovida de todo a riqueza material, mas carregando no espírito os artifícios necessários para garantirem a felicidade.

Acordei com o barulho do despertador anunciando a hora do trabalho. Olhei pela janela e observei que o sol nascia naquele instante. Levantei e fiquei extasiada, assistindo àquele espetáculo. As luzes invadiam minha alma e me traziam novas esperanças, novos sentimentos, dando-me sempre a chance do recomeço. Era como se naquele momento eu nascesse do ventre do Mundo.

Nunca antes eu havia percebido a fortuna que a Vida me oferece todas as manhãs.

Cinthya Danielle dos Reis Leal
Enviado por Cinthya Danielle dos Reis Leal em 24/02/2005
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