= A trilha... =

E lá estava eu, fazendo trilha no meio do mato, na Serra do Japi.

Que maravilha! Quanta beleza em meio à natureza!

Num lugar bem afastado, pensando estar só e sossegado.

Em frente àquele riacho cristalino, fresquinho, convidativo.

Com esse calorão, pensei, nada melhor que um banho gelado.

E lá fiquei eu um tempão num cantinho mais fundo, peladão.

Só morgando, boiando... De olhos fechados, acaba não mundão!

E se acabar, que seja em barranco pra mim morrer encostado.

Que paraíso! Se não me faltasse a Eva, me sentiria um Adão.

Quando dei por mim foi que vi. Cadê minhas roupas que deixei aqui?Tinham sumido. Todas. Nem minha cueca furada deixaram.

E tudo mais. Cantil, mochila, lanchinho, celular, lanterna...

Brincadeira de alguém? - me perguntei.

Ou fui roubado? Será? Até aqui?

Gritei, chamei... Um monte de vezes. E nada!

Fui ficando desesperado. Eu ali, pelado. Logo vai escurecer.

A hora passando, os efeitos do repelente também.

Eu dando tapas e mais tapas em mim, por mil mosquitos sendo picado.

Mais ainda desesperado, pensei, preciso sair urgente daqui.

Protegi como pude "minhas partes" com a maior folha que achei.

E sai correndo, o mais rápido que pude dali.

Já tinha escurecido quando ao longe... Obaaa, uma luzinha!

Ufa! Enfim civilização! Estou salvo!

Me aproximei todo feliz de uma velha casinha.

Só eremita pra morar num lugar desses, tão isolado.

Mas tá valendo! Ainda bem que encontrei alguém.

Pode ser até o Urtigão minha salvação nessa situação.

E era tanto meu alívio, minha alegria que nem notei.

As folhas que me protegiam, eu as havia há tempos perdido.

E eu lá naquele quintal, em pezão, nu como vim ao mundo,

só que grandão. Salvação? Só que não!

E de dentro da casa, gritos de mulher:

- Que coisa mais feia! Socorro, marido!!! Um tarado!

Tome cuidado! É dos bitelo, sarado!

E gritos de homem:

- Teje tranquila, mulé. Já que dou um jeito nesse safado!

Um só assobio e...

Num segundo me vi por vários cães ferozes cercado.

Rottweilers treinados, olhares assassinos sanguinários,

babando, rosnando...

Cada vez mais perto, e eu sem ter pra onde fugir, encurralado.

Encolhido, c* trancado, com as duas mãos protegendo "as partes", a "documentação". De medo quase borrado.

Num último fiozinho de voz, apelando, rogando...

-Saiam daqui! Seus cães do diabos! Aí não! Seus desalmados!

Capado não, seus abestados! Nãooooooooooo!!!

...

Só em contar fico todo arrepiado. Enregelado.

Nesse instante (graças a Deus) acordei.

Sem ar, tremendo, todo suado...

Fiquei traumatizado.

Eita sonho danado!

Faz uma semana que só durmo acordado.

Depois disso, nem em sonhos...

Das trilhas, passarei à milhas.

= Roberto Coradini {bp} =

16//12//2015

BETO bp
Enviado por BETO bp em 16/12/2015
Reeditado em 17/12/2015
Código do texto: T5482314
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