A Moda Cururu

A moda cururu era a nova onda da saparia. Estava todo o mundo já exibindo seus pés cheios de chulé na lagoa, era tanto chulé que até apareciam mais moscas por ali. Para se ter uma ideia do fedor, o chulé de um sapo apenas (vise o famoso Sapo Cururu) era suficiente para fazer uma pessoa delirar e começar a distorcer a fala - sem exagero, é isso mesmo o que acontece com o chulé de apenas um sapo. Pergunte a qualquer fã do sapo cururu e ele vai confirmar isso. O sapo não lava o pé, á sapa ná lava á pá, ê sepe nê lêve ê pê... e quantos sapos haviam ali só naquela lagoa? 30? 40? Com tanto chulé assim o miserável que passasse por ali era capaz de cair no chão convulcionando até a morte. Só que era insana a maneira como os próprios sapos pareciam não se importar com o mal cheiro. Ficavam todos ali juntinhos com seus pezões à mostra. E se os perguntassem por que não lavavam os pés tão malcheirosos se estavam tão pertos da lagoa, respondiam em coro como se aquilo fosse uma ideologia: PORQUE NÃO QUEREMOS. Eram tão adeptos àquela moda que ouvia-se de longe a música alegre deles. "Nós sapos não lavamos os pés,/ não lavamos porque não queremos,/ nós sapos moramos na lagoa e não lavamos os pés porque a gente não quer, mas que chulé!!" E nessa última parte levantavam os seus pézões para cima dando risadas. Logo em seguida começava a parte mais amolante. "Nás sapas ná lavamas ás pás,/ ná lavamas parcá ná caramas,/ nás sapas maramas ná lagá a ná lavamas as pás parcá a ganta ná cár, mas cá chalá!!" Então era E, I, O, U... O, I, E, A... E, I, O, U... iam e vinham nas vogais fedidos como sapos que nunca lavam os pés.

Jorginho era um dos únicos sapos da região não adeptos da moda cururu. Foram ele, Gustavinho e Ritinha para uma lanchomoscanete comerem sanduíches de mosca e discutirem os valores da ideologia cururu. Gustavinho e Ritinha eram adeptos de carteirinha e estavam dispostos a convencer o tonto de que ou você segue a ideologia cururu ou então a vida te faz tomar no cururu. Jorginho por sua vez acreditava firmemente que quem toma no cururu é quem segue a moda cururu e se sentia na obrigação social de mudar a mente de seus colegas. Pediram seus lanches e logo começaram a conversar.

J: Amigos, é muito simples provar que a moda cururu é uma grande estupidez. Vocês ficam cantando o dia todo, afastam com o seu fedor todos que não gostam da moda, perturbam a paz da lagoa oprimindo a minoria não praticante e fazem tudo isso sem nem pensar. O que pode haver então de bom na moda cururu?

G: Tá mó perereca, hein! Olha as coisa que tu fala da curururaiada. Fica aí se achando, falando rãzera, desrespeitando a gente. Pra começá, mano, se a gente canta isso não tem nada a vê com você. Os incomodados é que se mudem. E o nosso fedô nem é tão ruim assim, até a Ritinha aqui que é sapa aguenta.

R: Isso mermo. E a gente só oprime a tristeza! Se ocês ficam oprimido a curpa nem é nossa. Cês que são deprimido chorão. A gente da curururaiada gosta é de curtir a vida!

J: Não fez nem sentido o que vocês me responderam. É evidente que a discrepância intelectual entre vocês e eu.

R & G: Vai caçá hominho, sapo!

Ritinha e Gustavinho saíram de lá irritados sem nem pegar o sanduíche de mosca.

Na semana seguinte uma cobra passou pela lagoa e engoliu todos os sapos que não fediam.

14/12/2015