SENTIMENTO MÁGICO

Ele nunca foi exatamente apaixonado por ela. Pelo menos no que tange o contexto comum das paixões seculares e massificadas pela sociedade, não. Também nunca teve o desejo comum de possui-la. Consumar o que chamam de fazer amor ou até classificam de formas chulas que se confundem com gastronomia.

O que sempre o ligou a ela foi ou é uma espécie de amizade encantada. Um sentimento inusitado, especial e profundo que não o deixava tomar distância. Impelia seus passos ao encontro da musa, mesmo que fosse apenas para saber como estava, olhar seu rosto e trocar algumas palavras e silêncios. Beber nas águas da magia fora do alcance de seu entendimento.

Como foi dito, ele nunca teve o desejo comum de possui-la... no entanto, havia nele um desejo incomum de de senti-la não sabia como. Queria ser íntimo, sem segredos e cuidados. Alguém que não precisasse ocultar quase nada, nem a nudez de corpo e alma, e nem por isso transformasse a relação em simples caso amoroso.

Durante alguns anos, aquele homem foi levemente correspondido. Silenciosa e sutilmente; delicada e displicentemente correspondido, como devia ser. Sem trato nem proposta. Só a resposta natural, desnecessária na voz. De contexto sem texto. Sem discurso de qualquer natureza previsível.

Os olhos da musa mudaram, com o tempo. Assumiram ares e sombras; trejeitos e jeitos com o peso comum ao mundo normal. Aos meios engessados por severidades forjadas. Imagens impostas. Formalidades, liturgias e definições que proíbem o ser humano a si mesmo e o engaiolam na própria estampa.

Tudo foi um delírio, que ele julgou emocionalmente sustentável. Não foi. De sua parte, sim. Dela, não. Mesmo assim, ele decidiu manter a esperança de um dia saber quem é para ela... quem ela é para si mesma. Talvez até reassumir o sonho e retomar o delírio de um laço tão fora de órbita e razão... apenas mágico.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 23/02/2016
Reeditado em 23/02/2016
Código do texto: T5552316
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