Capítulo IV _ Em solo brasileiro

Capítulo IV

Viajar para Célia, não trazia nada de novo, porém, conhecer o Brasil, seria o sonho de muita gente portuguesa. E ela estava ali…Rio de Janeiro…Cidade Maravilhosa…tão real como sua própria carne … restava saber se desta vez, Célia iria adaptar-se ao novo país de acolhimento. Ou se iria sentir-se de novo como um peixinho fora d’água.

Em suas conjecturas Célia sonhava encontrar um paraíso; Onde não estava sujeita a sucessivas sovas. (com seus pais tudo seria diferente). Iria conhecer novas gentes, novos costumes, tinha de tirar partido da situação.

Em Caracas, aprendera a falar fluentemente o castelhano, em apenas doze meses falava e escrevia correctamente. (Lá na aldeia só havia uma televisão, bem recente que haviam inaugurado a RTP, logo, no café do Sr. Alfredo se viu uma, mais ninguém ainda tinha em casa, apenas o rádio lhe era familiar, esta vida na cidade grande, veio aproximar Célia dos Tops principalmente de duas crianças na época mais famosas a nível Mundial: “Marisol” e o querido Joselito, que estrondosamente, saltaram para a Ribalta no Mundo inteiro. “Granada “ era a canção que andava na boca de todas crianças todas, queriam ser como Joselito, ele era um mito.)

*

Deambulando em sua mente como se fosse hoje, Célia considera a canção da sua infância, inesquecível, “Yo vendo unos ojos negros” de origem chilena, que todas as crianças cantarolavam em Caracas, … recorda com emoção:

*

Yo vendo unos ojos negros,

¿Quién me los quiere comprar?

Los vendo por hechiceros,

Porque me han tratado mal

Refrain:

Más te quisiera, más te amo yo,

Y todas las noches las paso,

Suspirando por tu amor.”

Cada vez que tengo pena,

Me voy a la orilla'el mar,

A preguntarle a las olas,

Si han visto a mi amor pasar.

Refrain:

Las flores de mi jardín,

con el sol se decoloran,

y los ojos de mi negra,

lloran por el bien que añoran.

Refrain:

Ojos negros traicioneros,

¿Por qué me tratáis así?

Tan alegres para otros,

Y tan tristes para mí.

Refrain:

- Porém, desta vez, estava de pés bem assentes em terras brasileiras, e estava particularmente feliz, porque finalmente iria se juntar a seus pais, mas, concerteza, lhe aguçava o interesse o facto de conviver com novos costumes e culturas diferentes.

- Não obstante o clima, logo ao pôr o pé direito (para dar sorte) fora do avião…sentiu o bafejar suave de uma brisa morna bem ao cheiro de um clima tropical. Apenas dez horas de voo marcavam a diferença em seu olhar… para trás, uma paisagem verde, ar gélido, (Dezembro o Inverno é a estação do ano em Portugal) em contraste com aquele momento quente e ensolarado. (eram 13h precisamente, hora local). Entre o espaço de duas asas, dois Continentes, dois Mundos bem diferentes.

- Em todo o trajecto entre o aeroporto e a casa de seus pais, corria veloz o pensamento à medida da velocidade e do acelerar do condutor. Olhar entorpecido no movimento da paisagem feita de pontes, grandes prédios, verdadeiras selvas de pedra, ao longe as favelas, de casinhas pequeninas, umas de parede outras simples barracas, onde se escondia o sub-mundo do crime (soube-o mais tarde).

Inevitavelmente muito rápido percebeu tratar-se de um Mundo oposto àquele ao qual estava habituada:

- Na aldeia pequenina,

Onde se avistava a colina,

E a natureza verdejante,

p’la manhã na surdina

Sorrateiros os pardais

Alegravam os quintais

À espera da Primavera

Á porta de uma quimera

Aninhada nos beirais

Tem o melro que assobia

O canto da Cotovia

Onde o meu peito é ave

Trago comigo a chave,

Da porta que a mim cabe,

O direito de abri-la um dia!

Era assim, o saudosismo de Célia sempre presente em sua vida, não conseguia se desligar de suas raízes...silenciosamente, estendi meu pensamento ao passado, me identifiquei em sua narrativa por uns momentos, ensurdecida, revi meu pequeno livrinho, companheiro de tantas horas, onde minhas saudades ainda estão presentes em forma de palavras:

“Hoje vivo na cidade,

Onde a violência medra;

Não é verde esta selva,

È sim, uma “selva de pedra”

Recordando/78_In Dois Povos um Destino_2206

Cecília Rodrigues

Cecília Rodrigues
Enviado por Cecília Rodrigues em 04/08/2007
Reeditado em 05/08/2007
Código do texto: T592985
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