Via crúcis para o perdão (Partes 4 a 6)

Parte 4 – O encontro com a Lei e com a Justiça

Pararam desta vez em uma enorme pedreira. Pareciam estar sozinhos, quando de repente ouviram o estrondo forte de um trovão e surgiu um homem segurando uma machadinha dupla e acompanhado por um leão. Na sequência, uma labareda apareceu do nada e transformou-se numa mulher com olhos de fogo. O guardião saudou-os:

– Kaô, Kabecilê, meu pai! Kaly Yê, minha mãe! Salve vossas forças, senhores da Justiça.

– Salve, guardião! Salve, filho! Somos regentes da Justiça Divina, mas como não há Justiça sem Lei, aguardemos um pouco mais. Esta conversa terá mais participantes. – respondeu o Senhor da Justiça.

Pedro assustou-se desde o mais íntimo de seu âmago. Se aqueles dois seres já o amedrontavam, o que é que estaria por vir? Tanto o guardião quanto os regentes da Justiça notaram o medo e os pensamentos de Pedro e riram discretamente.

Em poucos instantes um vento forte varreu o ar e um redemoinho formou-se no local. Era a Senhora dos ventos que chegava, séria e temperamental. Junto com ela, mas montando um cavalo branco e empunhando uma espada que brilhava mesmo sob a luz do sol, chegou um cavaleiro que trazia consigo também uma lança e um escudo. Eram os regentes da Lei Divina, que foram assim saudados pelo guardião:

– Eparrey, minha mãe! Patacori, meu pai! Salve vossas forças, Senhores da Lei!

– Salve, guardião! Agradecemos por seus serviços. Conversaremos agora com este filho que nos trouxeste. – disse a Senhora da Lei.

– Filho, isto aqui não é um tribunal, tampouco estás diante de teus cobradores do além; pois como já te disse o Senhor da Morte, a tua hora ainda não chegou. Nós queremos ajudá-lo, só que também se faz necessário que tu te ajudes! – era o que lhe dizia o Senhor do Trovão.

– De tanto infringir a Justiça e a Lei, eu já o teria esgotado no fogo destinado aos que se exacerbam achando-se superiores e pisando nos mais necessitados! – interrompeu a Senhora do Fogo e Pedro sentiu o pavor percorrer-lhe as entranhas.

– Eu já o teria varrido da face da terra e o conduzido ao umbral, a área destinada a quem corrói a sociedade e seus semelhantes com atos abomináveis frente às Leis do Criador! – disse de forma áspera e impaciente a Senhora da Lei.

O pavor era nítido e Pedro já não conseguia escondê-lo. Se é que se consegue esconder algo de quem enxerga muito além dos olhos humanos...

O Senhor da Lei desceu de seu cavalo branco e caminhou, segurando sua reluzente espada, em direção a Pedro, que, por sua vez, estava paralisado. Chegando frente a Pedro, o Cavaleiro colocou a ponta da espada no chão, apoiou as duas mãos no cabo e encarou aquele ser que lhe fora trazido até ali por um de seus guardiões. Olhando-o fixamente, disse:

– Filho, quantas vezes me pediste abertura de caminhos para tua vida? Quantas vezes eu te abri esses caminhos e apontei a direção a ser seguida e tu foste pela direção contrária? Quantas vezes abusaste da proteção que tinhas para que te sobressaísses sobre aqueles a quem julgavas inferiores ou mesmo teus inimigos? Quantas vezes, enfim, tiveste a ajuda da Lei e quantas vezes infringiste a mesma Lei que pregavas e dizias defender? Quando não se cumpre a Lei, meu filho, é preciso enfrentar seus rigores ditados pela Justiça Divina. A Lei e a Justiça do Criador não são falhas e imorais como as leis e justiça do homem o são muitas das vezes. Agora, terás de enfrentar o que está adormecido em tua consciência para que possas prosseguir em tua viagem.

Nesse instante, as outras três entidades, que se mantinham a certa distância, aproximaram-se também e fizeram uma espécie de círculo ao redor de Pedro, que permanecia paralisado de medo. Os Senhores da Lei e Justiça ergueram a mão direita em direção à cabeça de Pedro, enquanto as Senhoras ergueram a mão esquerda na mesma direção. Toda a energia direcionada a Pedro fez com que ele se recordasse nitidamente de tudo o que havia feito contra a Lei a Justiça Divina.

Pedro viu as diversas vezes em que trabalhou para fechar caminhos que deveriam ser abertos e abrir aqueles que deveriam permanecer fechados. Recordou os momentos em que fora intuído a confiar na Providência Divina e mesmo assim seguira o caminho oposto em troca de favores ilícitos, dinheiro e bens materiais. Mostraram-lhe também os momentos em que tentavam dissuadi-lo, intuitivamente, a não praticar atos negativos contra seus semelhantes.

Por exemplo, certa feita levou uma oferenda ao cemitério solicitando que determinada pessoa ficasse doente. Ao tentar acender as velas que circundariam o prato, estas não ficavam acesas por mais de dois ou três segundos; pois um vento repentino as apagava. Não entendendo o recado que lhe davam os seres da Alta Espiritualidade, insistiu nas tentativas e conseguiu finalizar o que tivera ido fazer. Outra vez, num ato de magia negra em que utilizava pólvora, as chamas acabaram por queimar-lhe uma das mãos. Estes são apenas dois exemplos de como ele não entendeu o que lhe diziam.

Houve um instante em que Pedro sentiu um fogo arder-lhe as entranhas e simultaneamente ouviu o bramido feroz do Leão. Esses fatores, aliados, faziam a energia ao redor dele redemoinhar em rápidos e fortes movimentos do ar ao mesmo tempo em que sentia o zunir da espada em seu entorno. Pedro urrou de dor. Uma dor lancinante que o fez prostrar-se de joelhos ao chão, praticamente sucumbindo àquele castigo. Sua fragilidade mental e emocional não permitia que ele enxergasse ali um profundo processo de limpeza ao qual estava sendo submetido pela Misericórdia Divina.

O guardião, que a tudo acompanhava e observava atentamente, tentou ajudá-lo; mas foi pronta e rispidamente repreendido pela Senhora do Fogo:

– Não te intrometas, guardião! Não ultrapasses os limites de tuas funções, pois tu bem sabes o que te pode acontecer.

Sentindo a dor de seu protegido, o guardião recolheu-se ao que lhe cabia.

Findado o processo de limpeza espiritual, foram mostrados a Pedro três grupos de espíritos: um estava circundado por uma luz branca; outro que vibrava uma energia escura, ainda não totalmente enegrecida e o terceiro, eram espíritos completamente negativados que emanavam poderosa energia trevosa. Todos estavam em locais diferentes, e Pedro podia apenas vê-los. Esclareceu a impaciente Senhora dos Ventos:

– Filho, o primeiro grupo é formado por pessoas a quem prejudicaste em vida e que estão dispostos a perdoar-te, desde que tenhas sinceridade em teu coração e em tuas palavras. Quase todos eles já desencarnaram, mas outros esperam por isso em terra. Tu também causaste prejuízos aos espíritos do segundo grupo, só que estes não aceitam perdoar-te. Terás de acertar tuas contas com eles quando vieres de vez para este lado da Vida. Já os espíritos do terceiro grupo estavam, na verdade, causando-te uma severa obcessão. Vieram atrás de cobrar dívidas de encarnações anteriores.

– Esses espíritos – emendou o Cavaleiro da Lei – vieram cobrar-te atraídos que foram por teus pensamentos e atitudes carregados de egoísmo, mesquinhez, luxúria, ambição desmedida e coisas do gênero. Estes demorarão muito ainda para perdoar-te, visto que já foram dominados pelas Trevas. Não estão abandonados pela Luz, mas precisarão acordar por conta própria. Se, quando voltares ao teu corpo físico e te recuperares, tu mantiveres a positividade de pensamentos e atitudes condizentes com o que ordenam a Lei e a Justiça, tu irás mantê-los longe de ti. Do contrário, eles voltarão a te atacar. Teu destino está em tuas mãos.

– Esperamos, filho, – dizia-lhe o Escritor da Justiça Divina – que tenhas entendido a mensagem passada por nós e por quem já passaste. Também desejamos que tenhas forças para compreender as mensagens que ainda estão por vir. Já passaste da metade de tua caminhada. Vá em paz e siga sempre pelos retos caminhos da Justiça e da Lei. E nunca te esqueças de que em toda e qualquer existência, quem merece recebe e quem deve paga; foi isso que me ditou o Pai Maior. Confia mais em teu guardião, mas não abuses, pois ele também é um executor da Lei e tem certa autonomia para agir.

Parte 5 – A renovação através das águas e da lama

Fizeram-no adormecer e o guardião o levou à próxima parada. Quando acordou, Pedro viu que estava, junto com o guardião, em um belíssimo lugar. Era uma cachoeira que descia de uma imponente pedreira e depois escorria em forma de um majestoso rio adornado por pedras e protegido por densa mata. O vento ali era doce brisa e além do som das águas, ouviam o som dos pássaros que cantavam felizes. Nas margens do rio, Pedro notou diversas flores amarelas. Eram lírios, que deixavam aquela paisagem ainda mais linda. Tudo aquilo lhe transmitiu uma paz indescritível.

Ainda sob o efeito do que acabara de passar, sentiu vontade de sentar-se à beira do rio. Olhou para o guardião, que assentiu com um gesto de cabeça. Sentou-se e colocou os pés dentro da água que, gelada, fez com que ele sentisse um calafrio percorrer-lhe todo o corpo. Porém, diferente das outras vezes em que sentira tal sensação, esta lhe causou certo alívio.

O guardião aproximou-se e sugeriu-lhe ir até a cachoeira para um banho, garantindo que isso iria revigorar-lhe as energias. Pedro teve medo, pois nunca se dera muito bem com as águas. Lembrou-se, no entanto, do que lhe disseram os representantes da Lei e da Justiça: “Confia em teu guardião!”. Então, o guardião acompanhou-o até a cachoeira e Pedro pôde sentir toda a força da água a cair-lhe no corpo. Fechou os olhos e sentiu uma doce energia percorrer-lhe todo o corpo.

Após alguns instantes, Pedro abriu os olhos e viu-se em frente a uma senhora linda e imponente com uma vestimenta dourada. Assustou-se e chegou a cair, no que foi amparado pelo guardião; que o levou a uma pedra próxima à margem do rio. Sentou-se e a senhora veio ao seu encontro.

– Ora-yê-Yê, minha mãe! Salve vossas forças, Senhora das Águas Doces! – saudou-a o guardião.

– Salve as suas, guardião! Já vi que me trouxeste o filho esperado. Agradecida por teus serviços. Agora preciso conversar um pouco com ele.

O guardião, em sinal de respeito, ficou a certa distância. Como lhe cabia, estava apenas a observar. Seu protegido iniciara mais uma etapa de sua evolução. Agora teria o encontro com os seus sentimentos e emoções, alguns dos quais escondidos sob a falsa fortaleza da razão desmedida.

A senhora dirigiu-se a Pedro e apresentou-se como a regente do Amor. Não do mero amor humano e carnal, mas daquele Amor que existe independente das condições, livre dos vis desejos da matéria. Antes de iniciar um diálogo, a Senhora das Águas Doces retirou do leito do rio um espelho e o colocou diante dos olhos de Pedro e pediu que ele olhasse atentamente.

Nesse momento, Pedro começou a ver algumas pessoas que passaram por sua vida. Pessoas estas a quem machucara os sentimentos, de quem se aproximara por mero interesse. Pedro ficou estupefato quando viu a face de sua esposa, mãe de seu filho. Viu um rosto triste e sofrido e viu também o desalento do pequeno filho. Mais uma vez não conseguiu conter as lágrimas e cobriu o rosto com as mãos.

– Filho, esta mulher, minha filha, entregou a ti todo o amor que poderia entregar. Esta mulher apoiou-te nos momentos difíceis e ocultou-se para que tu brilhasses nos momentos bons. Vocês ansiavam muito pela graça de uma criança e foram atendidos após algum tempo. Mais por esforço e orações dela que de ti. No silêncio da noite e durante as viagens do sono, ela me pedia sempre por esta dádiva, pois a fertilidade é uma de minhas atribuições. Vendo a luta e a vontade de minha filha, me foi permitido pela Lei Maior, agraciá-los com o dom da maternidade e paternidade. – Pedro apenas escutava e chorava. E a Senhora prosseguiu:

– Enquanto aquela que tanto te amava se entregava às lutas e atribulações diárias, o que é que tu fazias? Lembra-te? Se tens coragem e queres de fato dar novos rumos à tua vida, olhas no espelho.

Pedro viu cenas de sua vida que gostaria que fossem apagadas de uma vez por todas de sua memória. Viu, entre tantas coisas abjetas, os momentos em que se entregara a paixões doentias por puro e ignóbil desejo carnal. Entregara-se ao sexo sem amor. Traíra aquela que, como mulher, mais o amara. Compreendia, nesse exato momento, o porquê de ter sido abandonado por ela.

– Consegues imaginar a dor de uma mãe ao ver o sofrimento de uma filha ou filho? – voltava a falar a Senhora das Águas Doces. – Talvez agora, vendo estas cenas, consigas imaginar o que minha filha e eu sentimos quando tu trocaste a pureza do amor verdadeiro por noites e dias de um prazer fútil e infame.

Pedro percebeu certo embargo na voz daquela Senhora e percebeu também que de seus olhos caíam lágrimas. As lágrimas da Regente do Amor Incondicional, quando se misturavam às águas do rio, faziam com que essas aumentassem de volume e intensidade. O rio, que antes era calmo e sereno, tornara-se caudaloso. Era a fúria de uma mãe ao ter diante de si o responsável pelo sofrimento injusto de sua filha.

Repentinamente, Pedro notou que os pássaros aumentaram a intensidade de seus cantos e que seres encantados daquele lugar começaram a trazer flores para aquela mãe que sofria junto com sua filha. Era a forma que encontraram para acalmá-la.

Decorridos longos minutos, tudo foi voltando ao normal e Pedro murmurou, mas gritando para dentro de si:

–Perdão! Perdão! É só o que posso vos implorar! Perdão por todos os meus erros! Perdão por todos os meus crimes! Sou merecedor de tudo o que passei e passo.

– Em nenhum momento a tua esposa emanou ódio ou desejo de vingança contra ti. Preferiu afastar-se, intuída por mim, para não sofrer mais. Há horas, filho, que precisamos nos colocar em primeiro lugar. Quem apenas se doa sem nada receber em troca, chega um momento que se esgota. Antes que isso acontecesse, ela optou por partir, levando consigo o fruto de vosso amor. Entendes agora que uma mãe não pode abnegar do direito de proteger sua cria? Afastá-la de ti foi a maneira que encontrei para protegê-la.

Pedro apenas consentiu fazendo um gesto com a cabeça, que, por imensurável vergonha, permanecia baixa. E a Senhora continuou:

– Mas acontece que tu também és meu filho. Isso, porém, não me dá o direito de passar a mão em tua cabeça. Amar também significa fazer Justiça e a mãe que simplesmente não pune os desvios do filho incorre em erro grave perante a Lei Maior. Por isso, quando retornares à tua vida terrena, deverás pedir perdão a ela e a vosso filho. Eles o perdoarão, mas tu não terás mais o prazer da companhia deles; pelo menos até que nosso Pai Maior determine o contrário. Serás privado também, por tempo indeterminado, do amor sincero das mulheres. Quanto ao teu desejo obsessivo pelos prazeres da carne, em breve saberás o que te vai acontecer. Como Mãe que sou, continuarei te amparando naquilo que precisares dentro dos mais rigorosos limites da Lei Maior. Estamos entendidos?

Não havia como dizer não. Pedro tomara consciência do quanto estava em débito com a Luz e por isso mesmo não ousara discordar da Senhora das Águas Doces e do Ouro.

– Vá em paz, meu filho! – e dirigindo-se ao guardião:

– Guardião, leve-o ao encontro das outras mães d’água. E continua a fazer o teu serviço com zelo. Tu também estás em constante evolução.

– Sim, minha mãe! Agradeço a vossa confiança. – disse o guardião que se aproximou e ergueu Pedro de onde ele estava e seguiram rumo à próxima parada a fim de um novo aprendizado.

A diferença é que agora, ao invés de volitarem, foram caminhando pelas margens do rio. A caminhada foi, de certa forma, longa, mas não cansativa. No decorrer do trajeto, Pedro pôde perceber que o rio nunca era da mesma maneira. Havia trechos de serenidade e trechos de fortíssima correnteza, trechos de linhas contínuas e retas e outros de curvas e corredeiras, trechos em que parecia um oceano e trechos em que era um tênue – mas constante – fio de água. Pedro questionou o guardião sobre o motivo de tantas diferenças se o rio era o mesmo. Tranquilo e objetivo, o guardião lhe respondeu:

– A vida, Pedro, é como um rio. Nascemos de uma maneira e no correr de nossas águas vamos nos transformando. Se desistirmos, o rio é represado, a água fica estagnada e o rio morre. Se persistirmos, podemos fazer como a água. Há momentos em que ela precisa contornar os obstáculos, pois não adianta enfrentá-los. Em compensação, existem momentos em que a água simplesmente cobre aquilo que lhe impede a passagem, supera-os. Os momentos em que viste o rio tão estreito como um fio de água, são os momentos em que a vida nos coloca diante dos obstáculos mais difíceis. O rio não perde a fé na Mãe Natureza e continua, mesmo que sob a terra. Quando o rio se alarga, na vida, equivale aos momentos em que somos agraciados com a vitória. Porém, nunca se esqueça de que o mais importante é a fé. Não fosse isso, as águas teriam parado nas pedras. Se assim fosse não teríamos chegado a este lugar, olhe!

Pedro não se dera conta da passagem do tempo. Quando deu por si, ele e o guardião estavam numa espécie de mangue; onde a água mistura-se à terra e forma a lama da vida, ou da morte,conforme a perspectiva. Era ali a próxima etapa de sua via-crúcis. Todavia, Pedro tinha consciência que após a lama do mangue vinha a imensidão do mar. Será que ele conseguiria atravessar o mangue?

Estava ainda naquela meditação quando viu surgir por entre a vegetação do manguezal, uma senhora de avançada idade e de aparência calma. A Senhora dos Pântanos aproximou-se lentamente de Pedro e do Guardião e, ao chegar perto, por este foi saudada:

– Saluba, minha mãe! Salve suas forças! Trago até a Senhora um filho que anda desequilibrado com a vida que lhe foi dada e pensou em ceifá-la a si mesmo.

– Salve suas forças, Guardião! Vamos ver no que posso ajudá-lo. – e dirigindo-se a Pedro:

– Vejo, filho, que ainda estás assustado. Já passaste por algumas experiências cá deste lado e ainda não te acostumaste. Queres me dizer algo?

Convencido pelo falar manso, mas firme daquela Senhora, Pedro começou a dizer:

– Eu caí por minha própria culpa e agora estou em busca do perdão daqueles a quem prejudiquei. Tenho passado por algumas provas, nas quais tenho aprendido muito sobre as Leis Divinas e sobre mim mesmo. Reconheço-me como um ser humano falho e em evolução. Não quero cometer os mesmo erros de antes e embora já me sinta bem mais leve do que quando comecei a minha via crúcis, sinto ainda ter muito o que me purificar.

– Se é isso mesmo que desejas, já sei como te ajudar, filho! Porém, meu conselho para ti é que primeiro tens de perdoar-te a ti mesmo. Erraste muito mesmo, mas como tens demonstrado sincero arrependimento, terás condições de reerguer-te e trilhar o caminho pleno, embora não reto, que te foi traçado quando pediste para vir a esta encarnação em que ainda estás.

Pedro olhava para aquela Senhora que transmitia paz e serenidade através do olhar, ao mesmo tempo em que também deixava claro uma firmeza inabalável. Estava nesse pensamento, quando a Senhora dos Pântanos continuou:

– Dentre as minhas funções, está a decantação de tudo aquilo que causa desequilíbrios nos seres para que, após esgotados, os seres tenham condições de retomar o caminho de sua evolução. Vejo que meus filhos fizeram muito bem os serviços que lhes foram incumbidos por nosso Pai Maior. Teu espírito está quase que totalmente pronto para o retorno. Eu vou fazer a minha parte, no entanto, advirto, como já te disseram antes, se não mudares em teu íntimo tu cairás de novo. E se caíres outra vez, certamente terás de reerguer-te exclusivamente pela dor.

Após tais palavras de advertência, pegou um bastão que carregava na mão direita e começou a passá-lo pelo corpo espiritual de Pedro. Por cada lugar que o objeto passava, Pedro sentia pequenas fisgadas, como se algo estivesse sendo arrancado de si. Durante todo o processo, ele permaneceu de olhos fechados. Após alguns minutos, a Senhora das Águas Paradas pediu que abrisse os olhos e reparasse ao redor de si. Pedro obedeceu e viu várias criaturas que se assemelhavam a vermes. Fazendo uso de um comando mental, a Senhora olhou para o Guardião e solicitou que ele explicasse a Pedro o que eram aquelas coisas.

– O que vês aí no chão, próximo a teus pés, são larvas astrais que estavam impregnadas em ti. Elas foram colocadas por teus próprios pensamentos negativos e por aqueles seres que estavam a te obsediar.

– Exatamente isso! – interrompeu a Velha Senhora. – Vou fazer a parte final do que me cabe, pois não acabam aqui as tuas etapas. Vou cobrir-te com a lama deste mangue. A lama da vida e da morte. Mas a morte do que fere a Lei e a Justiça Divinas. A lama deste mangue além do elemento terra, possui as energias das águas doces e das águas salgadas. O doce e o sal em equilíbrio para que percebas que deles precisamos em igual proporção. Quando um se excede o outro se enfraquece e a vida termina.

A Rainha dos Pântanos pediu ao Guardião que a ajudasse a cobrir o corpo daquele filho com a lama de seus domínios. À medida que a lama era colocada sobre Pedro, ele sentia queimar e logo na sequência esfriar. Quando todo o seu corpo estava coberto, ele sentiu um leve sopro sobre a lama, que aos poucos foi ficando ressecada. Assim que toda a lama colocada no corpo de Pedro estava seca, a Velha Senhora pediu para Pedro firmar seus pensamentos com fé naquilo de positivo que ainda poderia realizar e pedindo que tudo de negativo ficasse por ali para ser encaminhado e purificado. Por último, foi solicitado a Pedro que repirasse bem fundo e que soltasse o ar bem lentamente. Isso foi repetido sete vezes. Na última vez, Pedro sentiu a lama seca quebrar-se toda e ele sentiu-se extremamente bem e leve.

– Pronto, filho! A minha parte está feita. Agora é só contigo. Insisto que tu continuarás a ser protegido e guiado, mas nenhum ser da Luz e mesmos das Trevas agirá sobre ti sem a tua permissão. Assevero-te que essa permissão pode ser direta, se assim solicitares, ou indireta, através de teus pensamentos negativos. Agora vá em paz! Siga adiante em linha reta que irás encontrar a Rainha das Águas Salgadas. Ela completará o processo de limpeza. Depois do teu encontro com ela, tua jornada neste plano estará quase completa.

Pedro ajoelhou-se e agradeceu. A Velha Senhora sorriu e despediu-se dele e do Guardião. Como estava se sentindo bem, Pedro pediu ao Guardião para que fossem caminhando. O guardião, porém, ciente de que o tempo de Pedro se extinguia, fez com que volitassem até a próxima parada.

Chegaram até uma praia de areia muito branca e águas calmas. Pedro sentou-se na areia, fechou os olhos e sentiu uma leve brisa acariciar-lhe o rosto. Levantou-se e caminhou até a beira da praia. Sentiu a água fria tocar-lhe os pés e aquilo o fez sentir-se bem. As ondas iam e vinham e quando Pedro se deu conta, a água já lhe cobria o peito. Pareceu apavorar-se, mas foi tranquilizado pelo Guardião:

– Não te assustes! É nossa Mãe que está chegando. Mergulhe um pouco e sinta as energias negativas que ainda lhe restam serem tragadas para os confins do oceano. Sinta a água percorrer-lhe todo o corpo. Entregue-se ao acolhimento que lhe é oferecido. Não temas, pois o que sentes agora é apenas o reflexo das ações da Rainha do Mar.

Pedro aquietou-se em seu íntimo e não mais sentiu medo. Percebeu que as últimas negatividades estavam sendo levadas embora. Ficou nesse deleite por alguns minutos até que o Guardião o despertou dizendo:

– Levante-se e veja em sua frente!

Pedro abriu os olhos e levantou-se a tempo de perceber uma das mais belas visões que tivera em sua vida. Uma Senhora vestida de azul, guarnecida por sereias e ondinas, aproximava-se deles.

– Odociaba, minha mãe! Salve suas forças! – saudou o Guardião quando a Senhora do Mar chegou em frente a eles.

– Salve as suas, Guardião! Vejo que me trouxeste um filho que andou perdido pelos mares da vida. Agradeço por seus serviços. Agora peço que aguardes na areia, pois preciso ter uma conversa com ele.

Sem questionar, o Guardião obedeceu e voltou à areia. A Mãe d’água aproximou-se de Pedro, olhando-o fixamente e disse:

– Salve, filho! Como te sentes agora?

– Muito bem! – respondeu Pedro.

– Ótimo! Teu espírito já não tem mais nada que possa atrapalhar a tua vida no plano físico. Os últimos resquícios de enfermidades te foram retirados enquanto estavas em minhas águas. Os seres espirituais marinhos, usando do poder do sal e da água e sob a permissão de nosso Pai Maior, aliados à tua vontade em mudar, completaram a limpeza que te faltava.

– Agradeço, por isso, Mãe Sagrada!

– Tu mostrarás mesmo a tua gratidão se conseguires te manter em equilíbrio e não caíres nas tentações da vida de forma tão inconsequente. Tu enfrentarás mais obstáculos quando retornares ao plano físico da vida. É importante que te mantenhas firme, pois se foi te dada uma segunda chance, é porque tens uma grande missão a cumprir. Não jogue fora a oportunidade que agora lhe é dada.

Pedro escutava a tudo de forma atenta e sem o medo e o espanto de antes. Tinha consciência dos erros cometidos e estava disposto a suportar as consequências da reparação. Havia aprendido muito e ainda havia muito a aprender. A Senhora do Mar continuou:

– Como muitos dos teus atentados contra a Lei Divina foram contra a Vida, um bem inalienável com o qual o Criador nos presenteou, inclusive contra a tua própria e contra a de teu filho por desampará-lo, eu, como a regente da Geração da Vida e de tudo que diz respeito a ela, determino que este dom tu não terás até o fim de tua atual encarnação, salvo sob permissão do Pai Maior. Por outro lado, sempre que precisares, chama-me em pensamento ou venha até o mar que receberás a ajuda necessária. Reforço o que já te disse a Rainha das Águas Doces: nenhuma mãe, por mais que ame o seu rebento, tem o direito privá-lo das punições por seus erros. Amar, meu filho, é também corrigir.

Dizendo isso, ela chamou o Guardião. Despediu-se dele e de Pedro, desejando-lhe paz e sabedoria no recomeço que se aproximava.

Parte 6 – Encontrando outros guardiões

Pedro e o Guardião seguiram o seu caminho. Na parte que fizeram a pé, pela areia da praia, Pedro perguntou qual seria a próxima etapa. Por qual provação ele passaria agora. O Guardião pediu para que ele tivesse paciência e complementou:

– Agora tu terás um encontro com outros guardiões. Entidades a quem tu desagradaste em alguns momentos de tua vida. Eles precisam conversar contigo antes de retornares à tua vida normal na terra. Se bem que nada será normal após teu retorno. Tu estás tendo uma chance que poucos têm. Então, aproveite-a bem. Não desperdice mais uma vez a dádiva da vida com a qual o grande Criador te presenteou.

Pedro quis saber por que estava recebendo tal oportunidade de recomeço após tantos desvios que ele tomou. O Guardião simplesmente disse que não nos cabe questionar as determinações divinas, mas sim cumpri-las e que talvez um dia ele viesse a entender.

Caminharam em silêncio por mais alguns instantes e em determinado ponto, o Guardião, fazendo um gesto com as mãos, fez surgir diante deles uma espécie de portal por onde entraram. Ao passarem pelo portal, Pedro notou que estavam novamente no cemitério e perguntou ao Guardião o porquê de estarem ali novamente e lhe foi respondido:

– Aqui, no campo santo, tantas vezes vilipendiado por vocês, é onde as fases da vida se encontram e uma dá passagem para outra. Finda a vida física e recomeça a vida espiritual. A matéria apodrece na terra e o espírito vai ao seu destino conforme o merecimento. Alguns seguem para a Luz, outros para as Sombras, outros ainda para as Trevas e há também os que vagam à toa por aí. É a Lei do Retorno funcionando para todos de forma implacável e justa.

A essa altura do tempo, a noite já seguia alta e a Lua Cheia brilhava imponente no céu estrelado. De repente, ouviram uma sequência de gargalhadas que fizeram Pedro arrepiar-se e assustar-se, mas o Guardião tranquilizou-o:

– Não te espantes! São meus compadres e comadres chegando.

Quando Pedro conseguiu enxergar por entre a névoa, viu a figura de um homem segurando um tridente, trajando roupa e capa preta e uma cartola. Ele e o Guardião que acompanhava Pedro cumprimentaram-se de forma festiva:

– Salve tuas forças, Guardião!

– Salve as tuas, compadre! Trouxe aqui o filho que tu e as comadres me pediram. – E apontou para Pedro.

O homem aproximou-se de Pedro e fitou-lhe com seu olhar penetrante. O tridente que segurava em sua mão esquerda foi fixado com força no chão e o charuto que trazia na mão direita foi conduzido à boca para uma profunda tragada e em seguida ele soltou uma baforada ao redor de Pedro, dizendo:

– Salve tuas forças, moço. Como é que tu estás?

Pedro sabia que a pergunta era apenas retórica, porém respondeu:

– Um pouco assustado com tudo isso, mas estou bem; apesar de tudo.

– Ótimo! – Soou grave a voz daquele homem.

Surgiram por entre a névoa noturna duas figuras femininas. Uma delas trazia nos braços um gato preto e a outra segurava em uma das mãos uma bela rosa vermelha. Aquela visão deixou Pedro num misto de admiração e medo como nunca sentira antes.

– Boa noite, companheiros!

– Boa noite, comadres!

– Quer dizer que este é aquele que pedimos para ser trazido até nós? Perguntou a dama que trazia consigo o gato preto.

– Sim! – respondeu o Guardião.

Elas notaram, obviamente, o espanto de Pedro e se aproximaram dele. Aquela que carregava o gato preto, elegante e imponente disse a ele:

– Moço, não precisas ter medo! Já sabemos que tu reconheceste teus erros e que estás disposto a suportar as consequências da reparação. Isso é o que nos basta no momento.

– Isso mesmo, – disse a Dama da Rosa. – mas nós temos, entre nossas várias funções, a de executar a Lei Divina. E até onde sabemos tu andaste desobedecendo a muitas dessas leis.

Nesse instante, Pedro pôde reparar melhor na face e na rosa dessa Dama e assustou-se um pouco mais. A face era metade “encarnada”, e bonita por sinal, e a rosa era metade vermelha e metade preta. Ela notou e deu uma gargalhada estridente. Depois, muito séria falou:

– Vocês encarnados têm ainda muito que aprender. A forma como me apresento é para mostrar as duas faces da vida. Se somos diferentes na matéria, é a morte física que nos iguala. Quanto à rosa, uso para provar que o amor e o sofrimento podem ser lados da mesma moeda. Cada um tem o lado que escolhe, cada um tem o lado que merece conforme as suas ações. Afinal, como alguém já disse um dia: o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória.

Pedro não sabia como reagir. Estava estupefato. Foi quando a outra Senhora chegou bem em frente a ele e, olhando-o fixamente em seus olhos com aquele par de pérolas negras e aquele gato preto que não saía de seu colo. O assustado Pedro, nessa hora, pôde reparar atentamente no gato. Não era um bichano pequeno e tinha uns olhos amarelados e tão penetrantes quanto os de quem o segurava. Lendo os pensamentos de Pedro, a Senhora falou com voz firme e melódica:

– Boa noite, moço! Não precisas assustar-te conosco. Não vamos te fazer mal algum. Temos apenas de cumprir nossa missão, que é purificar-te de tuas últimas negatividades. Aquelas que estão entranhadas em teu ser e dizem respeito a um dos nossos campos de atuação. Quando na matéria, tu tinhas uma verdadeira obsessão pelos desejos da carne, não é mesmo? E em nome desse desejo tu machucaste e traíste muita gente. Mal sabias que satisfazendo ao teu ego despudorado, estavas na verdade contraindo dívidas quase impagáveis com a eternidade.

Pedro consentiu com a cabeça e a Senhora das Almas continuou:

– Tu verás agora algumas cenas de tua vida e depois conversaremos.

Nesse momento, aquela Senhora pôs a mão esquerda sobre a fronte de Pedro e fez com que se abrisse uma espécie de tela mental. Através desta tela, Pedro viu aas cenas luxuriosas e pecaminosas de sua vida. Viu também os momentos em que preparara trabalhos de magia negra para que algumas daquelas mulheres pudessem deitar-se com ele. Depois de satisfeito, ele simplesmente as abandonava. Viu, por fim, que algumas, não suportando a vergonha da família e amigos, acabavam cometendo o suicídio e outras achavam no aborto a maneira de livrar-se da mácula da desonra. Pedro era o responsável direto por aqueles atos que desrespeitavam as leis divinas.

Mais uma vez, Pedro sentiu-se profundamente envergonhado. Pôs-se de joelhos ao chão, cobriu o rosto para tentar esconder as lágrimas que escorriam com fartura e gritou pedindo perdão a todos que um dia ele prejudicara. Ainda rogou ao Criador que lhe desse de fato uma segunda chance para reparar seus erros.

Os guardiões e guardiãs que ali estavam, olharam-se e gargalharam ao mesmo tempo. O objetivo havia sido atingido: o completo e sincero arrependimento de Pedro e sua disposição para enfrentar os obstáculos advindos de seu renascimento.

De repente, ouviu-se o canto lúgubre e o bater de asas das corujas que estavam escondidas ali. As nuvens passaram pela Lua, encobrindo-a momentaneamente e o gato preto que estava no colo da Senhora das Almas, saltou para o chão. Era a hora grande. No chão, o gato transformou-se na figura de um homem vestido de preto e com uma caveira no lugar do rosto. Sua gargalhada foi estrondosa.

Quando a lua voltou a brilhar, ele cumprimentou a todos:

– Boa noite, compadres! Boa noite, comadres! Boa noite, moço! Eita que o espírito desse encarnado está apavorado! (e gargalhou saborosamente) Ficam assim quando olham para uma caveira. Nem parece que são feitos disso.

E olhando diretamente para Pedro, como se estivesse a auscultar-lhe o íntimo da alma:

– É esse o destino de todos, filho! Depois da passagem, a carne alimenta a mesma terra que lhe deu vida e restam apenas os ossos. Esta é a essência humana que vocês precisam enxergar. Não importa a classe social. Não importa o status. Não importa a cor da pele. Não importa se és homem ou mulher. Somos todos iguais perante o Criador. O que nos diferencia é apenas o nosso grau de aprendizagem e evolução. Mas nesse ponto, cada um de nós está em determinado nível. Há quem sabe menos e há quem sabe mais que nós. O grande problema dos seres humanos é que querem sempre estar acima dos outros. Tolos! Estarão todos, um dia, abaixo.

Houve uma pequena pausa e o silêncio fez-se presente. Em poucos minutos ele continuou, agora se dirigindo a seus companheiros:

– Sabemos todos e sabemos que o tempo dele neste plano está chegando ao fim. Dona Rosa e Dona Maria, por favor, expliquem-lhe o que será feito e o porquê. Não necessariamente nessa ordem. Afastou-se e sentou-se num trono que plasmara ali. As extremidades dos descansos de braço eram duas caveiras. As senhoras aproximaram-se novamente e Dona Rosa começou:

– Todas as nossas emoções e sentimentos têm origem aqui, – e apontou para a cabeça de Pedro – pois é aqui que reside a centro de nossa mente. Mente e corpo estão altamente conectados, portanto, o corpo responde aos comandos e reflexos do pensamento, mesmo que involuntários. As dores e desequilíbrios que sentimos, são consequências do que pensamos.

– No teu caso, – disse a Dona Maria – os maiores desequilíbrios atingiram a área do desejo. Não o desejo que segue o amor, mas o desejo profano e luxurioso. Por isso a tua compulsão libidinosa. Teus pensamentos atraíram espíritos obsessores que apenas alimentaram o que já germinava em teu íntimo.

– O que faremos agora será livrar-te deste último obsessor, no entanto, quando retornares à vida física, serás privado desse tipo de desejo e só o encontrará se um dia te for colocado no caminho um amor verdadeiro. Nunca deixarás de ser amparado, desde que te mantenhas firme. Se queres mesmo recomeçar, tens de suportar as consequências de teus atos. – falou a Dona Rosa.

Assim que ela terminou de falar, afastou-se um pouco para a lateral de Pedro e ele notou no chão sete círculos concêntricos traçados com um material que, pelo cheiro e pela cor, se assemelhava a pólvora, e cruzados por dois tridentes. Mandaram que ele se posicionasse no centro do círculo mais interno.

Quando Pedro colocou-se no centro do primeiro círculo, os guardiões colocaram-se ao seu redor, inclusive aquele que o acompanhava, e começaram a dar voltas em torno dele soltando baforadas de seus charutos e cigarrilhas e a borrifar suas bebidas nele. Foram sete voltas da esquerda para a direita e Pedro percebeu que as baforadas eram dirigidas para sua cabeça e para sua área genital. Ao fim da última volta, Pedro sentiu uma espécie de baque em seu corpo, como se algo tivesse se desgrudado dele. Depois desse procedimento, os guardiões saíram dos círculos, deixando apenas Pedro lá dentro, e acenderam a pólvora. Ocorreu uma rápida explosão e Pedro sentiu os últimos resquícios de algo se desprenderem de seu corpo. Na sequência, os guardiões deram outras sete voltas em torno dele, só que desta vez da direita para a esquerda.

Findado o processo, o guardião de capa e cartola chamou Pedro para perto de si, cobriu com sua capa e lhe disse:

– Pronto, moço! Nossa parte está feita. Agora só depende de ti. Sempre que estiveres em dificuldades, deves imaginar-te coberto com minha capa e estarás protegido. Porém, se esta dificuldade for por causa de algum erro teu, de nada adiantará. Este guardião que te acompanhou em tua jornada é um dos meus trabalhadores e zelará por ti, chama-o também quando precisares. Ele tem ordem para proteger-te, mas isso não significa que tu estás imune a todas as coisas, aquilo que atraíres de negativo por teu próprio pensamento, terás de suportar as consequências.

– Não deves também te esquecer de agradeceres à espiritualidade por tudo o que te foi dado e por tudo o que ainda receberás. – Era o Sr. Caveira que falava agora. – Gratidão é muito importante em todos os sentidos da vida. Quem não agradece pelo que recebe, não pode cobrar o que lhe é devido. Além disso, como já te disseram os amigos por quem passaste, mantenha limpos os teus pensamentos e o teu coração para que não atraias ao teu campo esses seres maléficos.

– Vá em paz, pois agora estás completamente limpo. – Falava-lhe agora a Dona Rosa. – Vigia os teus pensamentos e as tuas ações, juntos eles podem te trazer flores ou espinhos. – Disse isso e espremeu a rosa que trazia junto ao peito de Pedro.

– Tudo já foi dito, moço! Segue teu rumo, ainda tens missão a cumprir. Nunca perca a Fé no Criador, na Espiritualidade de Luz e em ti mesmo. Nada é feito se não houver uma sementinha em teu coração e em tua mente.

Todos se despediram e o guardião que o acompanhava disse a Pedro que eles teriam uma última parada antes que pudesse retornar para a matéria.

Cícero Carlos Lopes

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 18/10/2017
Código do texto: T6146072
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