Os óculos de Clara

Clara era uma menina cega, que acreditava jamais poder ver sequer um pedaço do mundo sem seus óculos especiais, a verdade de Clara. Ela nunca havia tido coragem de pedir para alguém ajuda-la a tirar seus óculos, pois jamais veria nada, o medo de Clara. Clara estava sentada com seus óculos, os óculos de Clara. Ela podia ver, com seus óculos, as amarras grotescas que a prendiam ao chão, o chão de Clara, ela jamais levantaria. Clara podia ver, através de seus óculos, as caras feias para ela, os rostos dos amigos de Clara, os olhos julgando Clara. Ela podia entender a bagunça e a tristeza do mundo depois da janela, o mundo através de Clara.

Um dia uma borboleta muito azul entrou abrupta pela janela e sussurrou no ouvido de Clara "eu posso ajuda-la", era o sonho de Clara. Amenina perguntou "Vai me tirar de onde estou, aqui estou presa à este mundo, as pessoas me odeiam, la fora o mundo é triste" a tristeza de Clara. A borboleta respondeu "Ah sim, eu vou, te levarei para outro mundo, onde você verá a liberdade, o amor e o mundo. Para isso, preciso apenas que você feche os seus olhos".

A borboleta tirou os óculos de Clara. Ao sentir os óculos deixarem seu rosto, Clara começou a chorar, desesperada e não teve coragem de abrir os olhos, perguntou a borboleta "Quando você me levará para este mundo feliz, para eu poder enxergar", e a borboleta respondeu "Ja estamos aqui, basta abrir os olhos". Ela abriu seus olhos e ficou encantada ao perceber que suas amarras eram belas fitas soltas caídas ao punho, que os olhares eram compreensivos e a janela, oh, exibiam as mais vivas e belas cores que Clara jamais julgou existir, ela se levantou, a coragem de Clara.

cinza
Enviado por cinza em 12/12/2017
Reeditado em 23/02/2018
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