Jorge tentava escrever "A Primeira História de Amor de Dezembro", às 19h54min do dia 17. Ele tinha pouco tempo antes do amor acabar, então observava atentamente as pessoas passando na rua. Havia uma praça vazia... Sempre vazia. Se um casal sentasse ali seria a mais límpida visão de amor chulo e piegas que seus olhos poderiam suportar assistir, por algumas horas ou minutos. Seria entorpecente, seria maravilhoso... Eles dois... E ele... Dentro daquela... Bolha. Dentro d’um poema, dentro de rimas vãs. Toda aquela babaquice.

Jorge posicionou o teclado e as mãos tesas em cima das letras. Ele podia escutar o próprio coração como um bate-estaca em seu peito, ele podia senti-lo nas veias... Enquanto olhava a praça, ansioso... E ela continuava vazia, esperando qualquer forma de amor. Algum rapaz desiludido a chorar, alguma adolescente com camisa de bandinha de rock, ameaçando suicídio ao telefone, deixando lágrimas caírem sobre um estilete enferrujado. Onde estavam os velhinhos arrancando suspiros dos mais jovens por conseguirem amar por tanto tempo?! Onde estava o velho solitário, recordando os dias em que tinha alguém ao seu lado e se arrependendo das inevitáveis ofensas, ditas sem pensamento e cuidado?

A noite do último dia de dezembro chegara ao fim, e
“A Primeira História de Amor de Dezembro” tornara-se um suspiro frustrado de um grande projeto que jamais aconteceu.

Mas o janeiro parecia vir com um astral diferenciado. Janeiro sempre parecia ter... Um tanto a mais de esperança, com relação aos outros meses. E todo aquele apelo emocional das promessas de um ano melhor.

Mais babaquices... Mais babaquices... Eu sei.

Mas, Jorge se animou, acreditando que
“A Primeira História de Amor de Janeiro” seria a melhor de todas as histórias de amor! E não seria a única... Janeiro seria o mês do amor! Jorge então resolveu se sentar e esperar a chegada do novo mês.