O MENINO

Dentre todas as brincadeiras existentes, o menino Carlos sempre preferiu empinar papagaio. Era motivo de êxtase observar aquele objeto de papel colorido, varinhas de folha de coqueiro e rabiola de plástico subir... subir.... subir... rumo aos céus; voando alto que nem passarinho, rumando para o sol, para as escassas nuvens de verão. Seguindo a direção do vento. Sonho de Carlos era poder voar com a pipa, ir para o céu. Queria ver Jesus, Nossa Senhora, Santo Anjo do Senhor... Papai do Céu. Queria fazer pedido.

- Mamãe – disse Carlos outro dia – Será se Deus atendia pedido meu? Pedindo de pertinho?

- Como assim meu filho? – Indagou sua mãe.

- Assim, mamãe – disse o pequeno – Eu fazendo uma pipa bem grande e forte e voando pro céu montado nela. Será se quando eu batesse na porta do céu, São Pedro abria?

A mãe sorria. Era danado de sonhador aquele menino.

- Não pense bobagens filhinho. Não dá para ir pro céu montado numa pipa. O céu é muito longe.

- Ah! Mãe, mas eu queria!... – resmungava com carinha de desapontamento.

- Afinal de contas, meu anjo, o que você quer tanto pedir? E por que não pede daqui da terra mesmo? Papai do Céu escuta.

- Escuta não mamãezinha, mode que eu já pedi, pedi, pedi e ele nem me ouviu.

- Então não desista. Continue pedindo com bastante fé que um dia ele atende. Agora vá dormir que já é tarde.

E o menino Carlos dormia. Mas antes de dormir rezava baixinho, uma rezinha apressada e singela que a mamãe sequer entendia. Dia seguinte acordava feliz e rumava para o terreiro soltando sua pipa. Voltava pra casa bem perto da hora do almoço, rostinho corado pelo sol, suor na testa e sorriso bem estampado na face. Tomava banho no tonel, almoçava comidinha gostosa da mamãe e ia para o grupo escolar. Aprender os números e as letras.

Outro dia passou hora, e mais hora, e mais hora e o pequeno sonhador não voltava do terreiro. A mamãe chorou de preocupada. O pequeno caiu queda grande. Não escapava de jeito nenhum.

- Mamãezinha, Papai do Céu ouviu eu. Vai atender meu pedido.

E a mamãe que até então não sabia qual era o pedido do menino, perguntou-lhe suavemente:

- Afinal de contas, filhinho meu, o que você tanto pediu a Papai do Céu?

- Pedi para ser um anjo mamãe e tomar conta da senhora pra sempre.

No terreiro, uma pequena cruz, uma pipa bem colorida, muitas flores do campo e uma placa com a seguinte inscrição:

AQUI, VIVE E SONHA UM ANJO!

- Soubesse que era esse o pedido, não teria alimentado a fé de meu pequenino. - Repetia a mamãe aos prantos.

Luciana Rodrigues de Araújo
Enviado por Luciana Rodrigues de Araújo em 22/10/2005
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