Na Contra Mão

No céu azul tantos papagaios e rabiolas escreviam infância naquela tarde, que suava de tanto calor. O vento parecia esmaecer num ir e vir de uma brisa que momentaneamente afagava. Tudo parecia calmo, dentro de uma perfeita sintonia. Pássaros cantando, árvores valsando e transeuntes caminhando.

No carro, o senhor Antônio seguia o seu trajeto até sua casa, quando avistou um garoto na bicicleta atravessando a sua frente num malabarismo, no mínimo desprovido de qualquer segurança. Com os olhos focados para o céu, o menino catalogava a queda livre de um papagaio. Isso o fez mudar a direção e nesse segundo perdido, do outro lado da rua vinha uma moto, cujo condutor acreditando, que o garoto ia, ele foi passando e nesse meio tempo o garoto voltou e ele então...

Sem qualquer precisão de freio atropelou e jogou o garoto no asfalto. Caindo sucessivamente no meio fio desacordado.

Por um segundo, só por um segundo o tempo parou...

Gritos de horrores, nervosismos com dores.

Um pedaço do pedal voou desgovernado em direção ao carro do senhor Antônio que desviou.

Nas entrelinhas do acontecimento gritos, impactos, nervosismo e desesperos tomaram conta do local.

Mais do que depressa alguém ligou para ambulância, mas quem chegou primeiro foi a policia.

Logo encheu de pessoas, curiosos, solidários e aproveitadores.

Num verso inusitado de dor, o garoto gritava. Fratura exposta na perna, enquanto o motoqueiro nem se mexia. Uns diziam que ele teria morrido, outros falavam e falavam.

O senhor Antônio, que viu a cena preferiu sair respondendo a quem perguntava sobre a culpa do acidente ali. Respondeu incisivamente, que o culpado fora o garoto, pois tentou atravessar a rua olhando pra cima e quando viu o papagaio caindo, mudando de direção conforme o vento, decidiu arriscar voltando como se quisesse abraçar o mundo com as pernas.

Na contra mão da rua vinha o motoqueiro, que diante da indecisão do menino não teve o que fazer. E acabou por atropelar e ser vitimado inocentemente.