Flores e Fotos

Pulei da cama com a respiração ofegante e alcancei um copo de vinho enquanto B. se espalhava pela cama como uma gata após o almoço.

- Me trás um copo d’agua, por favor.

- Não quer vinho?

- Já tomei demais.

- Ok

Fui até a cozinha, peguei um copo e enchi de água gelada.

Quando voltei ao quarto, B. estava com a cabeça recostada num travesseiro e passando os dedos levemente em seu monte de vênus.

- Quero que você me fotografe.

Entreguei-lhe o copo de água e ela tomou lentamente.

- Não sou muito bom com fotos. De onde veio essa idéia?

- Não sei. Só senti vontade.

- Tudo bem. Me dê seu celular.

Ela desbloqueou o aparelho e me deu. Eu abri a câmera e falei.

- Como você quer que seja?.

- Não é assim que funciona. Você é o fotógrafo. É você que tem que dizer como quer que eu me posicione.

- Fica como você estava quando eu entrei no quarto.

Ela deixou o copo de lado e voltou à posição anterior.

Tirei duas fotos e fiquei a observando de longe.

- Fica de bruços agora.

Ela deitou-se de barriga pra baixo, e ergueu os pés. Ficou me olhando enquanto eu procurava um bom angulo.

Escolhi um que lhe expunha um dos lados do corpo, e ressaltava as flores que tinha tatuada nas costelas, do lado esquerdo.

Saboreei aquela pose e a forma que ela me olhava. Tive vontade de largar o celular e me deitar ao seu lado, mas eu havia de manter o “profissionalismo”.

Tirei duas fotos e pedi que ela se sentasse na cama.

Ela se sentou, expondo completamente os seios e o púbis.

- Já posso guardar o celular?

- Já?

- Sim.

- Quero ver as fotos.

- Agora não. Amanhã você olha.

- Mas eu estou curiosa.

- É exatamente disso que eu preciso agora.

Ela tentou tomar o celular das minhas mãos mas eu o afastei. B. tentou novamente, mas eu joguei o celular no cesto de roupas ao lado da cama e segurei seu corpo antes que ela pudesse alcançá-lo.

- Se deita. - Eu disse.

Ela parecia contrariada e ao mesmo tempo excitada.

B. se deitou, mas ainda assim continou me olhando nos olhos, com um semblante sério.

- O que está passando na sua cabeça? - Perguntei.

- Muitas coisas. Estou me perguntando se me expus demais hoje. Se era o momento certo para estarmos aqui. Assim como estamos.

- Não acho que exista isso de momento certo. Só existem momentos.

- Verdade.

Afastei suas pernas e me deitei de encontro ao seu corpo.

Ela suspirou e depois tentou me afastar.

Abaixei o rosto para beijá-la e ela virou-se para sair do meu alcance.

Me levantei então e voltei minha atenção para o copo de vinho.

Fiquei sentado no chão, enquanto ela continuou na cama, contrariada. Segui bebendo como se nada tivesse acontecido e peguei o violão que estava encostado na parede.

Toquei duas notas apenas, antes que ela se pusesse de pé, bem em minha frente. Nua como eva no paraíso, me olhando de cima para baixo.

- Tenho medo que as coisas fiquem fora de controle. Eu não preciso de mais decepções na minha vida.

- E por acaso você vai querer viver controlando tudo o que te acontece? Sem dar abertura para coisas novas?

- As vezes eu tenho medo de coisas novas.

- Você precisa se deixar fluir mais B.

Larguei o violão de lado e me levantei, ficando frente a frente com ela.

- Eu nunca sei direito o que você quer dizer quando fala isso.

- Um dia você vai entender. Eu acho.

Caímos novamente um sobre o outro, como havíamos feito duas vezes antes, nessa mesma noite.

Por fim, eu estava com a garganta seca e com a respiração ofegante, e B. apenas suspirava com a cabeça recostada em meu peito.

- Você devia ajeitar essa barba. - Sussurrou.

- Ahn?

- É que ela está quase tão bagunçada quanto esse quarto.

- Posso pensar sobre isso. Mas não é como se eu desse muita atenção para a minha aparência.

- Devia. Acho que faz parte... é uma questão de amor próprio.

Ficamos rindo, abraçados, suando, no mormaço da noite.

- Quero mais! Ela disse, por fim.

- Tudo bem, mas você vai ter que esperar uns minutinhos, eu não tenho mais 20 anos, e não tenho três bolas, como tinha meu pai.

B. caiu na risada.

- Isso é verdade?

- Bem... eu só contei duas... deixa eu conferir.

Ela riu novamente e se virou do meu lado na cama, para poder me olhar nos olhos.

- É verdade sobre o seu pai?

- È sim.... Pelo menos foi o que minha avó me disse.

Ela ficou me olhando de um jeito que realmente me agradava.

Talvez fossem as risadas. Talvez fosse o sexo... Talvez fosse o prazer de se conectar com alguem...

Mas eu estava gostando das coisas como elas estavam,

não precisava de muito mais do que noites como essa, sem ter que pensar no que aconteceria no dia seguinte,

e algo me dizia que era exatamente nisso que ela estava pensando.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 20/03/2018
Reeditado em 20/03/2018
Código do texto: T6284960
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