Menino E Guerra

No terreiro corre, alheio,

Um Menino longe do medo.

Neste sorrir sem bloqueio,

A segurança não é segredo.

Tão tarde e o sol se esconde,

Silencia sorriso por hora.

Ele espera por novo o bonde,

O dia que a noite, atora.

No seu berço, no Amor divagando,

Sonhando paz, no céu e na fada.

Quando algumas mentes minando:

Lágrimas da ação contaminada.

Café: a saúde alegria,

Que vigor ele atina.

Mas tão pouca aveia,

Falta a margarina.

Ele não sabe nem imagina,

Qual seu futuro esperado.

Porém se aproxima a sina,

No colo do país sem lado.

Distante uma vida luto,

Vertendo terra a terra.

E o comandante astuto,

Obriga-se pôr a guerra.

Bombas sobre poeiras, caindo,

Destruindo, moendo, arrastando!

Matas, casas, abrigos ruindo...

Só rastros dum fogo queimando!

Pais escondem no medo,

Fingem o contentamento.

Pensam: ainda ser cedo,

Içarem quem é tormento.

Almoço à mesa se assenta,

Agora já dividido em poção.

Mãe coloca o que inventa,

Para substituir o macarrão.

Menino não percebe, ainda.

Coloca felicidade bem acesa!

Não nota aos poucos, finda,

O que lhe parece sobremesa.

Temoroso o pai ausente,

Aquieta-se na boa reza.

Olha o menino inocente:

Canta radiante na mesa!

E o menino deserto,

Parece até sossegar!

Entende pelo certo,

Amanhã, claro, terá!

Aviões somem, aparecem,

Põe em foco, movimentos.

Os explosivos emudecem,

Ilusões dos bons intentos.

Soldados surgem do nada,

Dominam a cidade abatida.

De Ira, nas fardas, cravada.

Morte, em cada face, lida.

Comandante insistente, entoa.

Em frente, matem, destruam!

Enquanto o povo, a causa boa,

Os que inda restam, recuam!

Corpos, no solo, esparramados,

Tétricas cenas de desesperos.

Agonizantes, outros mutilados,

Na ordem às pás dos coveiros.

Uma Mãe apavorada... correndo,

Repente perdia seu trilho.

Sonhando, delirando, nem vendo,

A última imagem do filho.

As fronteiras quase vencidas,

De atritos por outros, atados.

Fazem casamatas sem vidas,

Clamar, mais novos soldados.

O Pai serviço vai a pé,

Tanque sem gasolina.

A Vida floresce em ré,

Querer parece a sina,

Uma surpresa não esperada:

Uma carta e fica informado.

O aviso expelido da brigada:

Por ela ele está convocado.

Mas que fazer... o que dizer,

Aos que esperam no lar?

Nunca treinou para abater,

Hoje para morte, matar?

Esposa sabia da resposta,

Colada mostrava no rosto.

Dor que visível se aposta,

Caos denotando desgosto.

Nas costas, as mochilas,

Eles deixam terras mães.

Nas matas vão em filas,

Farejando quais os cães.

Com fuzis nas suas mãos,

Bússolas de orientações.

Exterminando os irmãos,

Triscando seus corações.

Agora não mais se nota,

Sorriso que altaneiro,

Indiferente àquela rota,

Para nós hospitaleiro!

Menino, imperceptível,

A alegria emudeceu,

Falta-lhe combustível,

Esperança arrefeceu.

Sirenes ressoam no espaço,

Fazendo o papel do amigo.

Que aperta qual fosse laço,

Por amparo, guia e abrigo.

Avistam-se os clarões,

Ouvem-se as rajadas.

Estrondos dos canhões,

E Defesas rechaçadas.

Opondo-se aos fogos cruzados,

Porém quedando ao invencível.

Os que restaram aprisionados,

Malogro da missão impossível.

As casas fecham as portas,

Pátios arenas de combates.

Queimam tudo em hortas,

Aniquilam pés de abacates.

As correrias se fazem, agora,

Pois unânime, querem a vida!

Todos ausentes dum outrora,

Que foi altiva e mais garrida!

Infectado que fica o ar todo!

Catástrofes em pavor do vento!

Parece que o mundo é lodo,

O Charco de cor sanguinolento!

Menino no rosto pesado,

Colado do frio na mente.

Da guerra agora lesado,

Sentindo do pai ausente.

Sem força para um choro,

Sequer desabafo num grito!

Ouve murmúrios em coro,

Espantam o silêncio maldito!

Soldados de cá ficaram lá,

Fechados com sede e com fome.

Soldados de lá ficaram cá,

E mais nada que nos informem.

O Menino espera ansioso,

Noites e noites de angústia.

No seu silencio... brioso,

Levando de ganho, astúcia.

Sonha estar com o pai,

Vindo de braços abertos.

Fica a mochila que cai,

Por seus passos incertos.

Soldados ao nada desaparecem!

Aviões se lançam: Ato constante!

Rubores, tolhidos, reaparecem,

E o que fica? O chão degradante!

Após horríveis massacres,

Milhares feridos e mortes!

Em meio inda há milagres,

Há vidas, esses? os fortes!

Assim que guerra destrói,

Gradativa... e camuflada.

No maníaco que constrói,

Na sua mente desalmada.

Escora-se em seu querer,

Egoístico para conquistar,

Põe aos otários o poder,

E alerta para cifra: lucrar!

De novo para construção,

Cantigas ressoam, até.

Sobra-lhes única solução:

Adiante na marcha fé.

Que contar para futuro,

Nova era e nova guerra?

Confiar e ceifar a terra!

Será claro, será escuro?

Magro de fome é verdade,

Pelo que lhe deu o seu destino.

Para completar felicidade,

Passam bem esposa e menino.

A sina foi bem cuidadosa,

Pois guerra nada lhe fez.

Avistando a vila saudosa,

Da imagem pela insensatez,

Em um campo sem a prosa,

Que começou naquele mês.

O menino reabre o sorriso,

Mas por tudo, parece cauteloso...

Lentamente avança no piso,

Ápice do momento maravilhoso!

Ficam por cima as antenas,

Atentas aos ecos do mundo...

Para que ouço sinto a pena:

É mais uma rixa sem fundo!

Que lástima!

José Corrêa Martins Filho
Enviado por José Corrêa Martins Filho em 31/03/2018
Reeditado em 28/07/2020
Código do texto: T6295781
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