O Legado

O Legado

Ela morreu, ela morreu!! Gritavam, alucinadas, as pessoas pelo corredor.

Todos estavam em estado de profunda excitação. Queriam participar de qualquer jeito do momento que reputavam histórico. Muitos ainda não acreditavam. A perplexidade não havia se dissipado por completo. A atmosfera era tensa e imiscuída de grande curiosidade. E não era para menos.

O inverno galopava célere, rodopiando o seu gélido manto naquelas paragens. O vento assoviava por entre as frestas das janelas, denunciando o rigor da estação. As árvores vestiam um grosso albornoz branco, com estampas de flocos de neves. O céu tingia-se de um cinza indefinido, compondo um cenário lúgubre, propício para a ocasião que se instalara naquele dia.

O palco, entretanto, era o vetusto prédio de 4 andares, que abrigava há mais de um século o Instituto Psiquiátrico Vida Infeliz, nome escolhido calculadamente para indicar à sociedade a jornada de dor que os pacientes daquele lugar trilharam antes de aportarem na construção centenária. A confusa lógica pedagógica da escolha do nome levou em conta, nas palavras do fundador da instituição, um estrangeiro de nome Andy Smith, obviamente há muito em repouso eterno e etéreo, estabelecer uma contradição aparente entre a identificação do prédio e a proposta de resgate psicológico e social dos pacientes, conforme se depreendeu dos anais da casa. Porém, tudo isso é somenos. Não vamos nos apegar a detalhes constitutivos. Deixemo-los a cargo dos historiadores para uma abordagem mais pormenorizada dos fatos, quando esta se fizer necessária. Por ora, cumpre-me investigar, não inscrições em fachadas, mas o interior, o cerne da questão, anunciada nas linhas neófitas da narrativa.

Ao adentrarmos no prédio, vamos nos aproximar do âmago daquilo que é o objeto principal e que deve magnetizar as nossas atenções. O segredo começaria a ser desembuçado nos porões do edifício, mais especificamente no necrotério.

Como apregoado anteriormente, o dia era especial e prometia ser emblemático. O diretor da casa, médicos mais graduados, 1 sortudo estudante de psiquiatria e uns pouquíssimos antigos e respeitados funcionários do estabelecimento das mentes atormentadas, todos escolhidos a dedo, se acotovelavam em busca de um espaço mais privilegiado para acompanhar todo o processo. Isso dentro da sala. Fora dela um séquito de curiosos trabalhadores da instituição, devidamente represados pelos corpulentos seguranças, promoviam um bulício que amalgamava uma compreensível frustração pela preterição com a ansiedade produzida. O diretor do Vida Infeliz, Fernando Colavares, chegou até cogitar chamar a imprensa para o registro formal daquele momento. Era de conhecimento de toda a gente presente, os de dentro e os de fora, que o sujeito tencionava uma espécie de arrivismo televisivo, para promoção pessoal como forma de alçar novos voos em sua carreira. À boca miúda, dizia-se que almejava o cargo de secretário municipal de saúde do município, hipótese bem plausível, dada as características afetadas da sua gestão. Felizmente, fora dissuadido da sua intenção midiática em nome da discrição que o momento exigia, dentre outras razões técnicas, infelizmente – para ele –;inquestionáveis.

O telefone tocou, tocou e tocou nervosamente. Um subalterno veio em passos trôpegos e acelerados informar o remetente da ligação. Como não conseguia transpor os umbrais do morgue, pois a entrada estava por demais congestionada, gritou em tom histérico por detrás da massa humana:

– Senhor Diretor, senhor diretor, o prefeito deseja lhe falar, com urgência!

O mandatário do lugar saiu apressado da sala e com o esforço hercúleo dos seguranças, que formaram uma espécie de “cordão de isolamento”, conseguiu ganhar o corredor e a escada para o térreo, sem antes informar de forma autoritária aos que estavam no interior do recinto, que não deveriam iniciar os procedimentos até o seu retorno. Determinação inócua, pois o legista ainda não chegara.

O esforço em demover a vontade do prefeito de estar presente, custou-lhe mais tempo e argumentos que poderia dispor e supor, não necessariamente nesta ordem. E, diga-se, só o fez baseado na consciência adquirida pelas irrefutáveis explicações dos doutores catedráticos, quando ele quis chamar os repórteres. No caso do chefe do executivo municipal, prometeu informá-lo em primeira mão do resultado final, estabelecendo um acordo implícito de hierarquização na divulgação das informações, sem deixar transparecer que a verdadeira intenção antes de ser tácita era fática. Ele também aproveitou para dar ordens expressas aos subordinados para que ninguém adentrasse às instalações do prédio, sendo autorizados, caso necessário, a reforçar a segurança no entorno da construção.

Passada um lapso de tempo, o diretor retornou ofegante à principal sala que aquele dia reservara. Sua aparente impaciência se agigantou com a constatação de que o especialista em autópsia continuava ausente.

– E esse legista não vem? O parvo não se apercebeu da magnitude do momento? Vociferou.

– Calma senhor. Ele deve estar a caminho.

Falou ingenuamente o único estudante presente, sem perceber do risco que corria de não mais permanecer ali.

– E você quem é?

Fuzilou o jovem aluno com um olhar de desaprovação pela impertinente interrupção do seu exercício imprecatório.

Antes que a suspeita de expulsão se confirmasse, o barulho externo tornou-se ainda maior e desviou o foco das atenções internas. O esperado profissional acabara de chegar, distribuindo em profusão pedidos de escusas.

– Perdoem-me, senhores. Quando fui notificado, vim o mais depressa que pude.

– Então por que o atraso? Indagou, contrariado, o diretor.

– É que todos os caminhos que me traziam até aqui estavam tomados por pessoas alvoroçadas, atônitas querendo notícias sobre o acontecimento. Algumas delas, inclusive, tendo me reconhecido tentaram interceptar meus passos, perguntando-me se eu queria tê-las como acólitas na atividade laboral.

– Vá lá, desculpas aceitas. Vamos deixar a cantilena de lado e começar os trabalhos, disse Colavares.

Algo passou despercebido naquele colóquio. Como uma notícia dessas chegou aos ouvidos dessas pessoas? Um vazamento, por certo, mas de quem? Certamente não foi do diretor, pois a ele não interessava compartilhar tal informação com o populacho. Em todo o caso, isso era uma questão secundária face à experiência que iria encetar em alguns instantes. Em outra circunstância seria investigada, mas se tratando dessa...

Para o desconforto dos mais ansiosos, notadamente os sem muito apreço à fé cristã, o médico-legista, católico praticante, como introito, fez uma oração para consagrar e dignificar aquele momento. Consabida, a ocasião exigia também um certo aparato religioso.

Depois ainda ocorreram os incipientes formalismos processuais que, aos olhos de alguns insipientes ali presentes, poderiam ser dispensados, mas sob o rigor técnico compunham peça fundamental do enredo necrológico.

A grande bulha de helicópteros em aproximação, supostamente da imprensa, avisada de uma forma ou de outra, ou de alguma autoridade, configurava uma aura de inquietação ainda maior.

Vencidos todos os obstáculos que se colocaram na fria mesa metálica, deu-se então ao início da autópsia.

O roteiro era de conhecimento de todos. Os exames seguiam o protocolo. Apenas a acurácia impunha-se com mais disposição. Afinal não era qualquer um. Era ela, o objeto de exame.

O legista exigiu silêncio absoluto de todos, inclusive das pessoas do outro lado da fechadura, e começou a análise seguida do seu relato:

“ Os olhos não refletem nenhum brilho, pois estão umbrosos. Suspeito que uma vida apagada sem maiores descobertas. O cristalino dos olhos e o da alma não permitiram a passagem da luz e, por conseguinte, as trevas ocuparam o espaço. ”

“ Noto que o nariz exala uma substância densa, fétida e negra, totalmente fossilizada, como se durante a vivência não fosse possível experimentar os cheiros, odores, aromas dos jardins floridos, do orvalho da manhã, da brisa vespertina, da essência dos perfumes, enfim os olores da vida. ”

Todos acompanhavam com vivaz interesse as considerações.

Percebendo o entusiasmo crescente do público, o loquaz homem, sujeito de estatura mediana, carente de uma melhor cobertura capilar na cabeça, mas vicejante de pelos na face, queixo duplo com um indefectível furo no centro, nariz abobadado e lábios diminutos, pigarreou algumas vezes num exercício depurativo de voz. Gostava de acalentar um certo clima de suspense em relação às próximas falas. Não era difícil entendê-lo naquele momento. O seu ofício, de natureza morta, – literalmente – não despertava no cotidiano atenção que gostaria que tivesse. Examinar cadáveres, nem mesmo perante a polícia técnica do Instituto Médico Legal trazia-lhe reconhecimento até quando o resultado da análise apresentava algum elemento revelador. Nestes casos, o crédito sempre recaía sobre os detetives envolvidos no caso. Nutria uma inconfessável frustração, malgrado sempre se esforçasse para promover o seu trabalho. Lamentava que os seus examinados não pudessem atestar a sua competência, salvo em alguma sessão espírita ou em uma psicografia. Dito isto, continuando o seu momento de fama, Juvêncio Athayde, este era o seu nome, vagarosamente retirou os seus pequenos óculos redondos de aro e com um pedaço de pano branco passou a limpar as lentes, num espetáculo de degustação profissional. Passados psicológicos longos segundos, os recolocou à frente dos olhos e continuou:

“Percebam agora a boca murcha, lábios secos, dentes enegrecidos. A língua enrugada também corrobora a suspeita de uma existência muda, oprimida, cuja ausência das palavras parecia ter sido a melhor e única companheira. Não sentia nem mais o gosto amargo da vida, pois o seu paladar recusava-se até mesmo a isso. A cor dos dentes e a ausência de vários deles era a expressão do desleixo e do abandono a qualquer cuidado higiênico. ”

Prosseguiu a dissertação.

“Veem os ouvidos? Estão vedados por uma cera dura e seca. Eles, em vida, não escutavam sequer os apelos da alma. Apenas o silêncio se fazia ouvir. Os sons perceptíveis não eram mais protagonistas, sequer figurantes. Somente os imperceptíveis, os mais agonizantes no caso deles. Em consequência disso, as vozes foram se definhando, definhando, de-de-definhando...”.

O inesperado tartamudear do experiente profissional, ao tentar finalizar esta frase, comunicou ele consigo mesmo. Lucubrava algo que o incomodava. Alegando vista cansada, passou as mãos pelos olhos. Alguns mais atentos asseveraram que o deslizar dos dedos pelo entorno das órbitas oculares, nada mais foi do que um enxugar dissimulado de duas lágrimas que ameaçavam despontar. Que associações lacrimosas entre um ouvido cadavérico e um possível aspecto da sua vida, o recôndito da sua mente foi capaz de elaborar? Todos, em diferentes medidas, pareciam ter se sensibilizado com aquela cena. Um incontido silêncio usurpou provisoriamente o ambiente consternado.

( )

– O senhor está bem? Perguntaram alguns quase em uníssono.

– Estou, respondeu Athayde. Tive uma noite difícil.

“Gostaria de tomar um pouco de café, se o senhor não se incomodar”, falou o legista virando-se para o diretor. O homem alto, de fartos cabelos brancos desalinhados, nariz aquilino e olhos azulados aquiesceu.

Após a terapêutica bebida, Juvêncio retornou à sua lida.

Bebeu profundamente uns litros de oxigênio para em seguida expeli-lo em doses graduais. Comprimiu duas vezes os olhos, lubrificou os lábios com saliva e continuou.

– Passamos agora ao exame do interior do corpo. Disse, compenetrado, para sua plateia.

Com a natural destreza dos grandes magarefes, empunhou o bisturi e cortou a carne empalidecida. Os primeiros órgãos examinados foram os pulmões. A aparência era estarrecedora. Não que tivessem sido propriedade de um fumante inveterado. Não foram. Os principais órgãos do sistema respiratório denotavam um estado de gigantismo nunca visto antes. Sentenciou Juvêncio: “foram proveniente de inspirações continuadas de mágoas e ressentimentos sem as respectivas expirações. Os alvéolos não acusaram trocam gasosas, apenas apropriações de gases venenosos provocados por traumas de todo o tipo. ”

“O fígado revelou apenas a metabolização de angústias e desilusões. O “General do Corpo Humano”, como ensinado nos livros de ciências da escola, fora reduzido a um mero soldado raso. Uma hepatite crônica seguida de cirrose não conseguiriam ser mais cruéis. ”

Intercalava pausas na sua retórica, para observar os olhares atônitos e perplexos dos seus ouvintes. Inspirava calculadamente novas goladas de O2, renovando o seu fôlego argumentativo.

Prosseguia no seu périplo.

“O estômago não demonstrou capacidade de digerir mais nada que não fosse ódio e humilhações. Uma pequena gastrite verificada, não passou de piparote mediante o estrago causado pelos sentimentos ruins que se acumularam ao longo de uma vida. ”

Em seguida, embebido de verve, disparou: “O coração, ah, o coração! Este perdeu desde antanho toda a capacidade de amar. Restou apenas a habilidade de se amar...gurar. O sangue coagulou nas veias da solidão e do esquecimento. A única circulação que sobrou foi a de desesperança. “

Mais e mais órgãos foram existencialmente dissecados.

O dia transcorreu lesto. As horas voaram num jato supersônico.

O prefeito ligou outras vezes durante o dia, a polícia interveio nas cercanias do prédio para conter os mais desassossegados, novos voos rasantes de helicópteros puderam ser ouvidos no céu pululado de aeronaves. Uma ameaça de invasão da sala por parte da massa agitada dos funcionários que estavam do lado de fora, apesar da tentativa de contenção dos seguranças, só foi devidamente reprimida com a promessa de demissão sumária dos envolvidos, por parte do diretor.

A exaustão batia insistentemente à porta arrefecendo os corpos e as mentes dos viventes. Por razões ululantes, apenas no interior dos gavetões e sobre a mesa metálica ela não se manifestava.

Quando tudo parecia se encaminhar para um desfecho daquele dia, com a revelação peremptória da causa mortis dela, eis que, como por encanto ou epifania, surgiu diante dos olhos fatigados um casal de idade avançada, imemorial.

Todos, sem exceção, tomados de estupefação, apenas ouviram o relato dos dois entes misteriosos, sem qualquer esboço de interrupção.

A mulher, de olhar hipnótico e voz impactante, falou:

“Senhores, eu me chamo “Dor” e meu marido “Sofrimento”. Somos pais desta que repousa sobre a mesa. Não tivemos, de imediato, a filha como aqui revelada. Ela nasceu com algum tipo de vivacidade. Contudo, o convívio assíduo conosco foi transformando-a naquilo que vocês puderam constatar. Os anos só recrudesceram as chagas da sua alma. É assim que alguém fica quando submetido a longos períodos de privação da vida vívida. Morre a cada dia: invisível e plangente. A dor dela e de todos os iguais não se exibe nos periódicos impressos, como bem disse certa feita um artista popular. Por isso, é desnecessário falar aos jornalistas.

Devemos falar é com nós mesmos. Entendermos na essência a sua suposta morte. Sim, eu disse suposta, pois ela é, na verdade, imortal. Seu nome é Tristeza e, em certo grau, guarda uma relação xifópaga com sua irmã, a felicidade. Uma não pode ser compreendida na sua totalidade sem a existência da outra. Se alimentam e se nutrem mutuamente. Não é tão simples explicar, todavia é mais fácil sentir, quando o exercício de viver é pleno.

É ilusão, no mínimo ingenuidade, supor que apenas a irmã mais desejada será a nossa única companheira de jornada. Se não nos dispusermos a aprender com aquela que ora parece que padece aqui sob os vossos olhos, certamente não desfrutaremos da companhia da outra, pelo menos da maneira como queremos que seja.

A oportunidade que vocês vivenciaram hoje, foi um experimento que o Criador lhes proporcionou para uma reflexão e, principalmente, uma mudança de perspectiva importantes.

Não devemos evitar a tristeza, mesmo porque não a conseguiremos, nem, tampouco, temê-la. Devemos, sim, saber conviver com ela com respeito e sabedoria para que ela não se enraíze em nós e apenas fique o tempo necessário ao nosso aprendizado. A busca desenfreada por sua irmã, invariavelmente a convida ao retorno ainda mais rápido. Entretanto, ações de valorização do viver, em qualquer dimensão, certamente espaçam as próximas visitas.

Concluo dizendo que o equilíbrio na relação com a vida – que não equivale a divisão exata do tempo entre as duas – é que vai determinar se convivemos mais com uma do que com outra durante a nossa existência.

Fiquem todos em paz. ” Finalizou o corolário.

Neste instante a luz se apagou e um estampido se fez escutar. Quando a iluminação foi reestabelecida, o corpo da Tristeza, sua mãe e o seu pai já não estavam mais lá. Os ocupantes da sala não se lembravam de absolutamente nada do que havia acontecido naquele dia.

Não havia ninguém do lado de fora da sala. Corredores vazios, bojo e arrabaldes do prédio, também. Ruas e céu desimpedidos. O telefone em silêncio.

As pessoas se cumprimentaram e foram para as suas casas depois de mais um dia de expediente. Já não estava tão frio como se supunha de manhã. Saíram impávidas, tendo, sem saber, legado uma agradável sensação de que era preciso beijar os seus pais e dizer que os amava, acarinhar a esposa ou o marido, divertir-se mais com os filhos, sair com os amigos, elogiar mais e criticar menos, construir pontes e demolir muros, ... e tudo o mais.

Dormiram melhor naquela noite. No dia seguinte, a vida se apresentou novamente com todas as suas possibilidades.

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© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

Abril/2018

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 20/05/2018
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T6341308
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