LIXO, uma estória engraçada, de LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO- aula no ensino médio

BIOGRAFIA DO AUTOR - Nasceu sob o signo de Escorpião, em Porto Alegre, 1936. Estudos iniciais na cidade natal, continuação numa high-school nos States, em Washington. Diz que não aproveitou nada e se considera ("Grande cronista EU acho!") um autodidata. Começou a trabalhar aos 18 anos, músico 'quase' profissional (como ele mesmo se define), tocando num sexteto. No Rio, a primeira experiência literária: cartas ao pai pedindo dinheiro e contando seus problemas na cidade grande, "obras-primas de ficção sentimental". Em 1967, copydesk )pesquise, caro leitor) no jornal Zero Hora de Porto Alegre, passando a redator, editor de variedades, editor de internacional... finalmente cronista. Em 1970, colaborador da Folha da Manhã. Crônicas satirizantes, projeção nacional em 1975 com a coletânea "A grande mulher nua". Lançou um livro de vartuns, "As cobras e outros bichos". Torce pelo Internacional. Gosta de viajar e comer.

INTERPRETAÇÃO - Pode ser comentários após leitura do texto. ----- Encontro entre homem e mulher, cada um na sua área de serviço e pela primeira vez se falam - mesmo assim, um sabe sobre a vida do outro: acontece que cada um observa (na verdade, remexe e bisbilhota!) o lixo alheio. Ao início da conversa, a mulher observa pouco lixo do vizinho, talvez família pequena. E a personagem masculina também já "sabe" muita coisa sobre a família da personagem feminina. Ele "desconfia" que a família dela é do Espírito Santo porque tem visto envelopes escritos pela mãe, com letra de professora. Ah, telegrama amassado comunicando a morte do pai... e ele voltou a fumar. Ela afirma que nunca fumou e o vizinho lhe percebe na voz um momento nervoso e tenso - no lixo dela, vidrinhos de comprimidos tranquilizantes. Também um buquê de flores com cartãozinho e... muito lenço de papel. Suspeita confirmada: "Você brigou com o namorado, certo?" No lixo do vizinho uma foto de mulher - ela suspeitou que fosse a namorada e concluiu que ele gostaria que ela voltasse, pois não rasgou a fotografia. Ao examinar o lixo da vizinha, ele decidiu que gostaria de conhecê-la porque leu e gostou dos poemas que ela fizera. Ela afirmou que eram muito ruins, ele discordou: "Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados". Conversa vai e vem, programam um jantar entre eles - o vizinho "convidou-se" porque observa cascas de camarão no lixo da vizinha e confessou: "Eu adoro camarão."

DIÁLOGO constrói a estória em DISCURSO DIRETO, estória mais viva e interessante, leitor "vê" as cenas ao vivo - não há narrador. // A função do NARRADOR que aparece no início, foi apenas introduzir as personagens no cenário em que a estória vai ocorrer: "Encontraram-se na área de serviço........."

A LEITURA DO MUNDO (leiam PAULO FREIRE) - Ah, coisa incrível "ler" o lixo que revela muita coisa da vida de alguém! Grande riqueza de significados e informações... ----- Leitura de um varal, também um mundo de significados - elementos observados: camisetas modernas e coloridas, modelos avançados; jeans numeração alta - interpretações; vizinho deve ser jovem, alegre, esportista deve ser bem "cheinho" de carnes (a palavra 'gordo' é socialmente contra-indicada).

SIGNOS VERBAIS e NÃO VERBAIS - Não lemos somente palavras e sim tudo o que está diante de nós, a exemplo destes vizinhos, um lendo o lixo do outro. Tudo que trasmite um significado é um SIGNO, sendo a palavra um SIGNO VERBAL. Os NÃO-VERBAIS são lidos a todo momento, quando entramos num ambiente pela primeira vez, por exemplo: móveis, a decoração, os objetos... através dessa "leitura", começamos a perceber como são os residentes ou trabalhadores. Ao ver de início uma pessoa (bem se diz "a primeira impressão é a que fica"...), "lemos" o rosto, o corpo, a roupa e também os gestos.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 17/09/2018
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