Cúmplice

Valéria se esforçou para encher os pulmões de ar e continuou cavalgando num passo cada vez mais rápido, segurando com força nos meus ombros. Ela parecia estar perseguindo algo que eu não conseguia perceber o que era. O que eu tinha certeza que aquilo tudo não tinha muito a ver comigo.

Quando ela terminou, se deixou cair sobre meu peito e me abraçou.

- Essa foi diferente... – Eu lhe disse.

Mas ela permaneceu abraçada em mim sem dizer nada. Apenas tentando recuperar o fôlego.

Estávamos ensopados de suor e eu percebi algumas lágrimas escorrendo de seu rosto.

Ela limpou os olhos e me deu um sorriso meio falso e se levantou.

Sequer havíamos tirado nossas roupas, dado o arroubo súbito de desejo dela. Eu não esperava nada disso para aquela noite e fiquei sem saber o que dizer.

- Você pode me dar um copo de água? Ela perguntou.

- Claro – Respondi.

Me levantei, fui até a geladeira e trouxe um copo e uma garrafa.

Ela se serviu e tomou metade do copo de uma só vez, agradeceu e se sentou na ponta do sofá.

- Acho que te devo uma explicação. – Disse-me.

- É. Talvez deva.

- Então. Descobri que meu marido está me traindo.

- Sinto muito.

- Não sinta. Acho que é normal.

- Normal?

- Sim. Normal um cara como ele fazer esse tipo de coisa.

- Você fez exatamente isso agora, Valéria.

- Eu sei. Eu sei. Eu precisava...

- Precisava? Me envolver nisso tudo?

- Você achou ruim por acaso?

- Claro que não. Você é maravilhosa. Mas o contexto é complicado.

- Eu sei! Me desculpe.

- Olha. Você não precisa pedir desculpas. Mas acho que precisa organizar a sua cabeça a respeito de tudo que está acontecendo.

- Não se preocupe. Eu não vou dizer nada a ele sobre o que aconteceu. Eu fiz isso por mim. Por que eu precisava. E por que cansei de fingir que não tinha tesão em você.

Desta vez fui eu que fiquei calado e ela enrubesceu pelo arroubo de sinceridade. Ela fixou o olhar no meu e continuou a falar, sem conseguir disfarçar um pouco de irritação.

- Não sei se você sabe como é viver suprimindo parte de si mesmo, todo dia. Pois é assim que eu vivo pra manter esse meu casamento. Eu já sabia que ele andava me traindo, mas preferia fingir que não estava vendo. Eu me sinto atraída por outras pessoas às vezes. Pessoas melhores do que ele, e ainda assim eu sempre tive que guardar isso pra mim mesma... até hoje.

- O que você vai fazer à respeito disso?

- Amanhã eu penso nisso.

- Amanhã?

- Sim...

Ela se levantou e deixou que o vestido que usava caísse até o chão.

Estava completamente nua.

- Hoje eu quero mais... se você não se importar.

Sem conseguir desviar o meu olhar, eu simplesmente assenti com a cabeça em cumplicidade ao pecado dela,

Amanhã seria outro dia para pensar no que eu estava fazendo com a minha vida me metendo numa situação como aquela.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 05/02/2019
Código do texto: T6567343
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