Moinhos
Sempre amei o mar. A areia. O vento que, carregado de sal, me acariciava a pele e cabelos. Desse jeito, sempre que podia ia ao encontro dele.
Sua tão incrivelmente bela paleta em tons de azul no meu Caribe Brasileiro, sua água mais salgada que o normal, renovava minhas energias, me preparando para todas as dificuldades que poderiam estar por vir quando retornasse à rotina.
Nesse dia, em especial, pegamos um barco para conhecer um lugar.
Um píer novo, de madeira e com bancos grandes, quase como camas, que foi construído quase na mesma altura da água.
O barco nos deixou e foi embora. Seu condutor disse-nos que seria possível voltar a pé.
Era um dia tranquilo, fora de temporada.
Assim, ficamos apenas nós e a imensidão de águas calmas.
Ao longe era possível ver os moinhos modernos, gigantes saindo de dentro do mar.
A vista me encantou de tal forma que eu, como amante do mar, precisava registrar tão bela paisagem, pra guardar comigo sempre a sensação de paz que me trazia.
Arrependida por não ter levado minha câmera, saquei o celular, mas não conseguia fotografar. Os moinhos pareciam estar longe demais e parte da água cristalina tomava conta do enquadramento da foto. Parecia errado.
De repente, aquela tal beleza, tão efêmera, transformou-se. A maré começou a subir e, junto com ela, uma crescente angústia.
Um medo absurdo tomou conta de mim e a sensação era de que íamos nos afogar a qualquer momento.
“Mãe, levanta. Vamos embora, por favor”, eu pedia.
Mas ela não ouvia. Ela e meu irmão estavam deitados e ela só respondia “daqui a pouco eu vou; daqui a pouco nós vamos”.
Meu desespero só crescia.
Eu chorava, implorava pra que eles se levantassem.
Era inútil.
Mas eu não podia ir embora e deixá-los, então fiquei.
O daqui a pouco não chegou.
O mar, meu tão amado mar, se virou contra nós e nos engoliu.
Nos afogou.
Assim nos tornamos parte dele, sabendo que no fundo havia muito mais pessoas que não conseguiram se levantar.