VESTIDO BRANCO

Sentado em sua velha cadeira, encostada a mesa já gasta pelo tempo, ficava a pensar naquela cena que presenciava todas as noites, era algo rotineiro e acabou por por tornar-se parte do seu cotidiano. Toda noite ela aparecia, sempre na mesma hora, usando sempre o mesmo vestido branco, este também já gasto pelo tempo. nunca soube ao certo o porque daquele vestido, penso que talvez fosse para dar um ar virginal; e assim, quem sabe teria mais. Ela sempre estava lá. E eu a via da minha janela, quando chegava e quando ia embora, porém não via o que acontecia entre chegar e ir embora, e aquilo, por vezes, incomodava-me, ficava a imaginar quem a tocava, quem "abusava" daquele corpo, que, através do vestido branco, dava-te o ar de inocência. Certa noite quis vigiá-la a noite toda, mas nessa bendita noite ela não apareceu, na noite seguinte também não, e assim, seguiu-se por nove incansáveis noites. E eu, ah! Eu já me sentia deprimido; não soube bem o porque, talvez, fosse a falta de inspiração para versar. Então, numa noite ela voltou, meu coração quase salta do peito, não sei se pelo susto, ou pela falta que dela sentia. Ela estava diferente, o vestido já não era branco, mais sim de um vermelho vivo sangue, meus olhos se perderam, ela estava linda, parecia uma rosa a desabrochar, porém, não sei o que em mim deu, eu a achava bela, mas queria vê-la de branco; parecia-me desiludido , e perguntava-me será que não és mais a mesma. Eu sabia que ela olhava-me lá de baixo, ela sempre me olhava de canto, ela sabia que a esperava todas as noites. Então, como meio que perdido, parei de espreitá-la, o vestido vermelho, embora bonito não a deixava inocente, e era assim que meus olhos queriam vê-la, porém, inquietava-me, porque esperar inocência de uma jovem que estava todas as noites a espera de "clientes". sumi por noites, mais precisamente nove noites, a mesma quantidade de noites em que ela me deixou a esperar. Queria vê-la, não nego, mas a ideia do vermelho continuava a não agradar-me, pensei em pedir-lhe para voltar a usar o branco, mas sabia que não tinha esse direito pensava comigo que talvez ela não usava mais branco porque já não servia devido ao tempo. Um dia resolvi voltar a espioná-la, e ela continuava de vermelho, mas teu semblante apresentava-se sombrio; não entendia o porquê, mas me doeu vê-la daquela forma, foi então que decidi, que, no dia seguinte compraria-lhe um vestido branco, e assim o fiz, e assim segui minhas noites adiante, sempre a via quando chegava e ia embora, mas nunca soube o que acontecia entre o chegar e o ir embora, mas vê-la naquele vestido branco era alento para o meus olhos já cansados.

Geusa Hugo

Geusahenrico
Enviado por Geusahenrico em 10/03/2019
Reeditado em 07/04/2019
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