No quarto onde também ficavam os despejos, a sua cama improvisada. Um colchão box cujos pés cairam e foram substituídos por tablados, utilizados no salão em dia de festa. À cabeceira um crucifixo do marido, general, que trouxe numa de suas viagens. No banquinho improvisado usado como criado, uma garrafa térmica e um copo com água, não trocado desde a última sexta-feira. Ela lá cuidando de seus filhinhos, entre mantos e mamadeiras. Fazia dos caixotes, berços e passava dias trancada naquele pequeno espaço, restando-lhe apenas, um tijolo de vidro quebrado de onde via a rua passar em dias tristes à espera do general que viajou a trabalho e poderia chegar a qualquer momento. Na casa grande, local onde ficava sua mãezinha (era sim que enxergava a filha única desde que foi diagnosticada com a doença) não podia pisar. Tentou fugir algumas vezes, mas a prenderam naquele calabouço. Tinha dias que chorava como se fosse a última vez. Depois de seis meses, sem sequer ver o sol, Santinha já não era mais a mesma. A comida lhe era dada pela frestas da porta. Nem o cachorro podia com ela brincar. Numa tarde, depois da café, os olhos ficaram frágeis e apagou de repente. O quarto de Santinha agora era só despejo. Até vir a mudança. Estavam todos indo para o Japão. Sua mãezinha se casou novamente com um grande empresário. Quando perguntada sobre a mãe a triste notícia: havia morrido. Mas Salete não se conformava com morte de Santinha, sua irmã. Não conseguindo contato com a sobrinha decidiu procurar nos cemitérios da cidade, onde estaria enterrada, para prestar-lhe a última homenagem. Não encontrou. Morava numa cidade distante uns 309 km, mas não perdia a fé. Até que um dia, durante a oração na igreja, ao falar com o padre da morte de sua irmã, recebeu a notícia: ela morreu sim, mas foi no dia que sua sobrinha a internou numa casa de repouso para doentes mentais. Quando lá vou, fico amargurado, uma fiel devota naquele estado. A irmã partiu para buscá-la, não tinha viajado à toa. Chegando lá viu de longe Santinha, ao olhar pra ela o veredicto: obrigada irmã, por me visitar. E ela a levou para Andrada como quem recebesse um prêmio! E nunca ninguém, nem mesmo a filha, quis saber de seu paradeiro. Sequer voltou ao local onde a deixou.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 27/05/2019
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