O AÇÚCAR: aula de História

Professor improvisado-voluntário - palestra com projeções em semana de seminário no Ensino Médio.

BRASIL recém-descoberto, AÇÚCAR ainda escasso na Europa. Portugueses conheciam a CANA, que cultivavam em pequena escala na Ilha da Madeira e em Cabo Verde, logo trouxeram para cá, holandeses fazendo o mesmo nas Antilhas - depressa, terras férteis e clima favorável do Novo Mundo transformaram o artigo de luxo numa importante fonte de energia para o ser humano. ----- As mais antigas civilizações conheciam a CANA-DE-AÇÚCAR, cobiçada pelos conquistadores, privilégio de grandes senhores na Europa, produto de farmacopeia e magia, tais a raridade e o preço. Ao retorno das Cruzadas, troféu era trazer o 'mel pagão', substância doce tão valiosa que incluída em testamentos. Fortunas e poderes nacionais se formaram com o comércio do açúcar do Oriente Médio: Veneza, Florença e algumas cidades flamengas - açúcar, um dos incentivadores das Grandes Navegações. O clima quente e úmido da América acolheu bem a cana-de-açúcar e todas as colônias forneceram aos europeus todo o açúcar produzido nos dois séculos iniciais. No começo do século XVIII, o imperador francês NAPOLEÃO, em guerra contra a Inglaterra, bloqueou os navios que transportavam o açúcar americano para a Europa. Alguns anos antes, um químico alemão extraiu açúcar da BETERRABA, planta que se dava bem com o clima europeu, porém mais caro que o da cana - obteve apoio financeiro de Napoleão e o plantio se estendeu aos States, sem entretanto suplantar a cana como a maior fornecedora de açúcar no mundo. ----- A produção nas colônias portuguesas era pequena pela terra inadequada, mesmo assim vendiam para os Países Baixos e diversas cidades italianas. As primeiras mudas aqui chegaram em 1532, com a expedição de MARTIM AFONSO DE SOUZA, as plantações se multiplicando em solo fértil e clima quente-úmido, futura fonte de riqueza para Portugal; o rei D. JOÃO III tratou logo de colonizar as novas terras, evitando invasores e conquistadores, e dividiu o Brasil em capitanias doadas a fidalgos que deveriam ocupá-las e desenvolvê-las. Na Capitania de Pernambuco cresceu o primeiro centro açucareiro, seguida da Capitania de Todos os Santos. Os canaviais do Sul eram muito distantes da metrópole, o que dificultava a exportação para os portos europeus. Por mais de um século, Pernambuco gozou prosperidade acima das outras capitanias e só houve declínio e decaiu quando o açúcar das colônias holandesas, francesas e inglesas (Antilhas) passou a negociar com o mercado europeu. Os donatários das capitanias dispunham das terras recebidas e de farta mão de obra escrava africana, multiplicando-se os engenhos (construções para o fabrico do açúcar), rodeados pelos canaviais e vilas, como Olinda; os principais engenhos eram na época os centros de riqueza: produção, comércio, cultura... ----- Engenho era o conjunto de edificações para as fases específicas do processamento - na casa da moenda, a cana era esmagada em cilindros movidos por roda-d'água ou parelhas de bois; o caldo ia para a casa das fornalhas, concentrado em tachos de cobre e transferido para o açúcar cristalizar em formas; a massa era purificada na casa de purgar e dividida em pedaços chamados 'pães de açúcar', 'pães' que eram quebrados para a exportação, triturados e secos ao sol, acondicionados depois em caixas. O serviço bruto - lavoura e fabricação - cabia aos escravos. O chefe geral do engenho era o mestre, gozando de grande prestígio, inclusive de frequentar a casa grande, moradia do senhor de engenho, ampla construção onde vivia com familiares e serviçais (ao lado, a capela e a senzala). O proprietário do engenho era o dono das terras que cultivava ou arrendava em parte a outros plantadores que aceitavam entregar o vegetal para moagem, recebendo apenas metade do açúcar produzido. ----- No início do século XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de açúcar porque o aumento da produção coincidiu com grande alta dos preços na Europa, provocada pelos metais preciosos que chegavam da América espanhola e a maior quantidade de moedas em circulação permitia maior número de compradores de produtos caros e luxuosos, como o açúcar. Ao mesmo tempo, Portugal limitou a produção na Madeira e estimulou a brasileira. Com a descoberta de tesouros astecas e minas mexicanas, os espanhóis se desinteressaram do açúcar - sem concorrência, os portugueses colocaram o açúcar brasileiro no primeiro plano mundial por todo o século XVII. Em 1580, Portugal passou a pertencer à Coroa espanhola e os inimigos desta, entre eles a Holanda, se tornaram inimigos de Portugal. A Holanda controlava o comércio, armazéns de Lisboa apenas como entrepostos, e considerou a possibilidade de ocupar a região açucareira no Brasil, ideia que os levou em 1621 a fundar a empresa Companhia das Índias Ocidentais para a "colonização" de Pernambuco. Os holandeses sempre atuaram no mercado do açúcar, quase monopolizando este comércio na Europa; assim, decidiram obter a preciosa mercadoria na fonte, o Nordeste brasileiro, onde chegaram em 1630, expulsos em 1654. Levaram para suas colônias antilhanas as técnicas de produzir açúcar e aliaram-se a produtores estabelecidos nas colônias inglesas e francesas da América Central, inclusive com ajuda financeira, logo transformada a região em grande produtora. Com esta concorrência, o Brasil perdeu seu principal mercado e deixou de ser o maior produtor mundial, o que refletiu na vida econômica-social-cultural de todo o país. Depois, agitações políticas e conflitos sociais abalaram as Antilhas e as colônias europeias nessas regiões se tornaram independentes, na Europa os holandeses não mais donos deste comércio. ---- Na segunda metade do século XVIII, os produtores brasileiros voltaram a ser os maiores fabricantes mundiais de açúcar, ampliando as atividades. A recuperação da indústria açucareira nacional foi beneficiada por acontecimentos históricos, como a abertura dos portos (1808) e a independência (1822), porém permaneciam os mesmos problemas: baixa tecnologia da produção e distância dos principais centros consumidores. Para agravar, expandiu-se o cultivo da beterraba na Europa e nos States, na primeira metade do século XIX, o Brasil caindo para o quinto lugar na produção mundial da cana-de-açúcar, e ao final do século a economia brasileira entrou em crise - nessa época, o mercado interno era fraco e a população pouco numerosa tinha reduzida capacidade de consumo: no caso de mudança e expansão, escolheram áreas de plantio mais produtivas, adotaram melhores práticas de cultivo e novas técnicas de fabricação. ----- A partir de 1888 (fim da escravatura), a agroindústria açucareira passou a receber recursos financeiros antes destinados à compra e à manutenção dos escravos. Com a modernização de equipamentos e ampliação das usinas, foi introduzido em nosso país o processo de centrifugação, que permitia a produção direta de açúcar branco - atraso nosso na era do açúcar centrifugado, técnica implantada desde 1870 por empresas norte-americanas. ----- Assim, somente no Nordeste brasileiro foram instaladas mais de 80 usinas entre 1900 e 1980, com produção total de 360 mil toneladas. Mesmo assim, a crise nordestina agravou-se quando, com a crise do café (1929), os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro voltaram-se para o cultivo da cana e fabricação de açúcar, esta produção abastecendo o Sul do país. Em 1933, foi criado o IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), função de controlar a produção e manter os preços num nível adequado, protegendo o produto brasileiro no mercado mundial. Num sistema rígido de cotas, cada engenho e usina só poderia produzir determinada quantidade de açúcar. Preços e produção controlados reduziram os custos e aumentou-se a produtividade, a produção concentrou-se em grandes usinas, com capacidade para moer milhares de toneladas de cana por dia. O Brasil voltou a assegurar a condição de ser um dos maiores produtores de açúcar de cana. ------ Como se vê, a produção de açúcar faz parte da vida brasileira desde os primórdios de nossa HISTÓRIA, tradição hoje de mais de cinco séculos. ----- FLUXOGRAMA - 1 - Nas usinas, carga da cana de açúcar transportada pelas pontes aéreas até a mesa alimentadora para a primeira lavagem com água; 2 - daí, levada por esteiras até um conjunto de facas rotativas que cortam os caules; 3 - a cana picada é novamente transportada por esteiras e passada pelas moendas, onde é produzido o caldo misto, utilizado para a fabricação de açúcar ou de álcool; 4 - bagaço aproveitado como combustível das caldeiras ou matéria-prima para a produção de celulose de papel; 5 - caldo enviado para as peneiras onde impurezas insolúveis são removidas; 6 - para produzir o açúcar branco (cristal), o caldo pré-aquecido até 60 graus recebe a adição de dióxido de enxofre e uma porção aquosa de sal, eliminando-se quimicamente vários tipos de impurezas; 7 - finalmente, caldo aquecido até 105 graus C é enviado ao decantador para separação definitiva das impurezas; 8 - já clarificado, com a evaporação resulta num xarope; 9 - na cristalização, o xarope transforma-se numa mistura de cristais e mel de açúcar, este separado por meio de centrífugas e lavagem com água e vapor; 10 - ao sair das centrífugas, o açúcar ainda contém umidade, daí é levado aos secadores rotativos antes de ser ensacado.

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LEIAM meu trabalho "O AÇÚCAR - PARTE II: poesia social", de FERREIRA GULLAR.

FONTE:

Rio, revista NOVA ESCOLA, n. 1, março/86.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 21/06/2019
Reeditado em 21/06/2019
Código do texto: T6678285
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