A sua vontade de ser branco era imensa. Tanto que torcia por um time notadamente composto de brancos e de racistas. Sua contrariedade era de grande monta. Tinha sido abandonado pela mãe, na companhia do pai, que era alcoólatra, apesar de afetuoso. Sua relação afetiva com o pai era tumultuada, havia ruídos e acusações implícitas. Não queria ser negro. Não queria ser do "povão".
Queria participar de uma elite, nem que fosse a pseudoelite. O mais grave foi que só percebi tudo agora, que você já está morto. Talvez eu não tenha compreendido. Mas, sinceramente, fiz tudo para que fosse feliz e pleno. Mas, como amalgamar tanta carência e rejeição sofridas? Teria que ser uma heroína, enquanto que era uma reles mortal também carregando minhas peculiares chagas. Rezei por você, pus seu dinheiro como doação à Igreja. E, sinceramente espero que seu espírito conheça a luz e a evolução.
Há um híbrido de misericórdia e melancolia ao lembrar de seu perfil e de seus sofrimentos. Pensei ter acrescentado bons momentos. Pensei lhe apresentar um mundo melhor e até capaz de lhe aceitar. Mas, o maior problema era em você mesmo, pois você não se aceitava... E, nada que eu fizesse, poderia alterar a irremediável essência contida.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/08/2019
Reeditado em 15/08/2019
Código do texto: T6711589
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