Francisco e as armações fascistas

ERA UMA MULHER MUITO distinta e religiosa, mas também muito positiva, combatente da liberdade e defensor veemente dos direitos humanos. Fazia parte de alguns grupos religiosos da sua paróquia. E sempre questionava os religiosos, inclusive os de patente. Ela reclamava o porquê deles nunca debaterem os escritos, discursos e pronunciamentos sociais do papa Francisco. Sempre havia uma desculpa esfarrapada, que era preciso ficar mais na evangelização, campanha para angariar fundos, cuidar dos prédios, enfim, evitavam os pronunciamentos do papa.

Certo dia numa dessas reuniões um desses religiosos de patente, conservador e muito reacionário, estava revoltado co os protestos que estavam havendo contra julgamentos da justiça. O religioso fazia até cabriolas e em certo momento chegou a derramar uma baba amarelecida, de tanta raiva dos protestos. Não prestou, a religiosa abriu a bolsa e tirou um papelzinho para ler, mas antes disse:

- Acho que você (nem falou na patente do religioso) está cometendo uma leviandade e uma injustiça, até mesmo em relação ao papa Francisco. Vou ler pra você o que ele acha desses julgamentos armados pelo fascismo e pela mídia sem-vergonha. E leu um trecho de um pronunciamento do papa feito num congresso de juízes, quando denunciou o Lawafare:

"Aproveito esta oportunidade para manifestar a minha preocupação com a nova forma de intervenção externa em cenários políticos dos países através do uso indevido de procedimentos legais e tipificações judiciais. O LAWFARE, além de colocar a democracia dos países em sério risco, é utilizado para minar processos políticos emergentes e incentivar a violação sistemática dos direitos sociais. A fim de garantir a qualidade institucional dos Estados, é fundamental detectar e neutralizar esse tipo de prática que resulta de uma atividade judicial e imprópria em combinação com operações mediáticas paralelas. E todos estamos familiarizados com o julgamento antecipado da mídia".

O religioso ficou amarelo, piongo, não deu mais um pio na reunião. Agora estão debatendo os pronunciamentos do papa. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 19/12/2019
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