A garota da fotografia ou O cobrador.
Ali, naquele banco sentado, entregaram-lhe uma fotografia, que alguém deixara cair.
Ele olhou-a minuciosamente por uns dois ou três minutos somente, porém o tempo suficiente para percebe-lhe os longos fios loiros, seu grande par de olhos azuis e sua pele, que de tão alva contrastava com a dele.
Subiram mais dois passageiros, ele rapidamente guardou a foto em seu bolso e recebeu as passagens. Aquele foi o melhor dia de trabalho que ele tivera em três anos. Não era do tipo que se apaixona, mas, aquele retrato e aquele rosto, despertaram sentimentos em quem quase não os possuía.
Exausto, ele apenas pensava na garota da fotografia, mas não via a hora de chegar em casa, tomar um banho e cair na cama de tanto sono. Porém seus olhos não fechavam. Levantou, abriu a gaveta e retirou de lá o retrato da menina loira, e antes de adormecer não pensou em outra coisa se não possuí-la em seus longos e fortes braços.
Na manhã seguinte e nas outras, saía para trabalhar sempre com o mesmo retrato, na esperança de encontrar aquela que há muito tirava-lhe o sono, e fazia questão de olhar bem nos olhos de todas as mulheres que subiam o lotação.
Três meses depois, o que era desejo se esvaía, e o oco espaço de antes começava a aparecer-lhe; e agora ali, mudado, na estação, as chances de encontrá-la era quase nenhuma, se não fosse pelo caderno que alguém deixara cair... e ao levantar os olhos e fitar-lhe de cabelos negros, não teve dúvida daqueles olhos azuis cintilantes, tirou-lhe o retrato do bolso e entregou a garota, que olhava largamente para o seu sorriso branco prateado...
Ele a levou para sua casa, contou-lhe pequenas histórias e no fim da noite dormiam sob os mesmos lençóis.
Na manhã seguinte, ela saíra só do apartamento e carregava tudo o que ele possuía de valor. Trancou a porta e ligou para a polícia... Acharam um cadáver.
No outro lotação, alguém entrega uma foto ao cobrador...