OLHAR FRANCO-BRASÍLICO - PARTE II

Na França, jovens se insurgiam contra uma democracia conservadora; no Brasil, estudantes militantes e artistas enfrentaram uma ditadura militar às vésperas da maior repressão do regime. Em Paris, BRUNO BARBEY deslocava-se com sua câmara entre estudantes e policiais, acompanhando a evolução das manifestações ao longo da madrugada e construindo uma narrativa cinematográfica que correu o mundo. No Rio, PEDRO DE MORAES (filho do VINÍCIUS) atuava em espaços rigidamente monitorados pelos militares. Integrante de uma organização de esquerda, registrava para denunciar no exterior os abusos do regime. As imagens parisiense e carioca se assemelham, surgem os líderes estudantis DANIEL COHEN-BENDIT e VLADIMIR PALMEIRA, planos abertos unem Quartien Latin e Cinelândia, o gás lacrimogêneo lançado no boulevard Saint Germain "chegando" à Avenida Rio Branco...

2---RIO DE JANEIRO - TRÊS FOTOS - "Caminhando e cantando" - fotógrafos se posicionando sobre banca de jornal para registrar manifestação / manifestantes fazem corredor para passagem de líderes estudantis na Cinelândia / jovens se manifestam com cartazes e pichações em prédio do Centro do Rio. --- Resumo: "Verdadeira multidão acompanhou o caixão do estudante EDSON LUÍS do Centro ao cemitério em Botafogo e durante o trajeto espocavam reações, revoltas, gritos, palavras de ordem; em frente ao prédio da UNE, estudantes subiram à janela, queimaram a bandeira dos Estados Unidos - no sepultamento, 50 mil pessoas entoavam o hino nacional. Missa de sétimo dia na Igreja da Candelária, medo da reação dos militares; fotografei parte do culto, sensação de insegurança confirmada: na saída, a cavalaria da polícia cercou a igreja e agrediu fortemente com cassetete e sabres quem deixava o local. Protestos tomaram as ruas com mais força e no meio da aglomeração, de repente, alguém subia em um poste ou em cima de um carro e fazia um comício relâmpago, propagando ideias, denunciando a ditadura e

chamando à luta. Ações espontâneas, mas sempre havia alguém à espreita e toda conversa acima de 3 pessoas na rua era interpretada como ato subversivo" (PEDRO DE MORAES).

FONTE:

"Um conto de duas cidades", reportagem de BRUNO BARBEY (francês) e PEDRO DE MORAES,

fotos e fragmentos do livro "Paris 1968 Rio" (1968, 50 anos depois: "o ano que não terminou") - Rio, jornal O GLOBO, 5/5/2018.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 22/06/2020
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