Os amores aquietados são sempiternos

Abandonado, exilado, vexado, abatido, esquálido, vencido, demovia seu vendaval indo ao encontro da venta do finado boi à forânea porteira. Ao abri-la, a densidão brava d’dentro do menino abismal vituperou as chuvas mais avernais, aurorais, invernais, outonais, precipitadas e rebeladas em ir à escola.

Ao que tudo lhe indicava a desventura escolar era a mixórdia de todos os seus estados evitados com estações desconhecidas. Concomitantemente, aglutinavam-se as álgidas nebulosas com as caliginosas eclípticas, tais quais as lágrimas trasladadas dos seus geoides oculares ensimesmados naquela terra dura que não queria partir. Pela superfície árida se refletia na poça do interminável lacrimal corporal cortado pelas suas próprias pálpebras contristadas. Dilacerado, parecia ao matadouro ou partido deste; Desfigurado e restituído, chorava carcaças;

Nunca saiu efetivamente da barra das saias das copas das árvores, nem do refúgio dos colonhões, nem da varanda aonde zunia o sopro dos campos tão labregos, donde reboavam os berros do curral e desembocavam no rebordo do seu ouvido boquiaberto. Quando [e se] o fizer, não o quisera. Sensorialmente, jamais arredou os pés para fora;

Sua mãe o exortava para seguir os passos fundamentais. Fustigava a vara ao ar na simulação do açoite, caso ele teimasse, mais uma vez, em voltar. Dados os incentivos certeiros, não tinha escolha. Por puro contragosto aplicou uma força desnecessária à maçaneta ominosa. Embarcou emburrado, turrão, com o ar tétrico da face boi, na perua rumo à cidade.

O esburacado sendeiro percorrido findou a imagem ruralista, a possibilidade da re volta ao desconhecido. A indiferença dos outros meninos à sua dor, principalmente a do perueiro, fizeram com que ele diminuísse a birra. Ninguém o acudiria. Impessoal, quase cessaram as suas lágrimas transverdes, as quais ainda persistiam porejadas, despencadas vez doutra, acompanhadas de soluços e reforçadas pelas bacadas.

Desembarcara próximo ao imenso portão da escola, isento de qualquer alegoria familiar, por isso o presságio medonho (nada o representava, nada conhecia, um nada se sentia). Encarara-o, relembrara do brilho dos pregos da porteira expostos aquele mesmo febo, lamuriou da mesma forma dantes, só substituindo o desconjuro pela saudade.

Estático, em meio à micromultidão, com vieses lenientes, egrégios, alciôneos, a divindade da salvação escutara o referido choramingo epônimo, com as digitais das palmas das suas mãos as afogou na face do sofrido, tirando-o da sua inundação. O menino a admirara de maneira tão rutilante, que seus desagues secaram de vez, feito riacho seco alumiado pelo sol do estio profuso. Ele riacho, ela sol.

A menina fanal refulgia tanto que ele se norteou à sala correta, mesmo sem nunca tem pisado naquele domo. Deixara o sítio, o conhecimento pouco, tudo tão irreconhecível para trás. Agora, consentido pelo deslumbre, transpunha através das suas águas um micromar novíssimo, estranhíssimo, carinhosíssimo, tudo tão afeiçoado pelo vislumbre;

Ela o garrou pelo braço levando-o à carteira, à espera da debutante aula. Taciturno no durante – o silêncio adequado à contemplação paisagística –, desvaneceu-se pela parnasa menina morada. Sentaram um ao lado doutro, o menino, boquiaberto, prestava atenção em tudo que as retinas dela tomavam nota. Enquanto todos só tinham uma lousa para botar reparo: ele duas; Em vez de plana: orbiculares; Em vez de gizes: caixas de lápis de cores com todos os azuis, dependendo do relance todos os verdes também; Em vez de apagadores: o leve peso dos cílios, as quais ponderavam seu aprendizado; Em vez das vogais: vogava;

Ao toque das horas, do remissivo sinal escolar, a despedida se dera ao desespero acima do sibilante: ele berrou ensurdecimentos; Ela, novamente, usou seu poder de deusa das lições, acalmando-o aos sussurros do amanhã. O garoto libação a seguiu pelo corredor descascado, pelas árvores ainda não esculpidas com seus nomes de casal, até chegar ao transposto portão aberto em até logo. Por ela, a assiduidade acompanhava o profuso batimento cardíaco pela sempiterna vereda do reencontro.

No dia seguinte, antes da perua buzinar, ele olvidara a porteira, deixara o sítio tergiverso, o choro pelo sorriso, o perueiro com um bom dia, a senda aos assovios, para quando ribombar o portão escolar, o sinal anunciar o encontro com a sua absconsa. À medida que encurtava a distância, sua face resplandecia. Dessa forma, deixava de vez, o obnubilado para trás;

Na sala de aula ela tomava nota das alíneas letras, ele rabiscava a carteira com corações com o antropônimo do matrimônio predicado, escrevinhados nos raios. Crente que se declarava entre retas quebradas e curvas tremelicadas, sem o menor significado aparente, só de significantes adentro, donde o epônimo dela eternizar-se-ia.

O menino cada vez mais empolgado, cada vez mais escritor, cada vez mais apaixonado, cada vez mais analfabeto. Na primeira prova nem um ‘a’ soubera escrever. Os pais foram chamados na averiguação do possível retardo do filho. Dispuseram os exames, denotaram o reflexo do conhecimento em perfeito estado. Sem avaliação para o afetivo, se a tivesse, constaria o quanto babava perante a menina solstício.

A causa era a barda, certamente! Alguma birra disfarçada de penitência ao forço escolar imposto outrora. Nunca tive nem chance de estudar, agora esse peste que tem de tudo não o faz! Merece apanhar e como merece! Sentenciou o pai no melindre da retidão.

O ralho do cinto se sobressaiu à voz do seu amor coonestado. Coagido, arquitetou plano silente do desamor e, sem querer, da perene supressão. Se houvesse aproximação: emudeceria, semicerraria os -lh-s para não admirá-la mais, tatearia de soslaio as paredes e sumiria em si; Se ninguém o visse, com a ponta do punhalzinho taparia todos os chamarizes homônimos denunciativos do seu albor amoroso;

Afastara-se dela, sentara distante, estarrecera a abnegação do’lhar estelífero, mirando-o ao quadro negro, idêntico à carcaça ausente de boi. Nele, encontrou o conforto enegrecido que precisava e, nessa medida, a menina heliotrópica entardecia.

Assim, não aprendeu mais nada sobre os sentimentos, restando-lhe apenas o alfabeto;

Euler dEugênia
Enviado por Euler dEugênia em 14/11/2020
Reeditado em 21/02/2024
Código do texto: T7111464
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