A REVIRAVOLTA DE UM DOMINGO

Sabe quando o cérebro acorda antes do corpo? E o estado consciente é desesperador? Foi assim que Lorena começou seu Domingo. Ainda deitada, e agora desperta, sentiu um aperto no peito. Coisa estranha, uma sensação de que algo não muito bom aconteceria aquele dia. E em sua cabeça, martelava  uma intuição e muitas vezes notava que fabricava intuições, e isso não dava dinheiro nenhum! Precisava de um café quente, era isso! Um café sempre a salvava de  todas tragédias. Queria um café pretinho, forte, estilo cubano, fumegante, para tirar aquela sensação do peito, aquele estado de coma de premonição. Sentou-se a mesa da sala, em frente a grande janela de vidro, olhando o dia cinzento que começava. E aquela vibração cinzenta continuava, como se não fosse ela, mas, sim, outra pessoa com outros pensamentos. Afinal, ela sempre fora tão positiva com tudo, e era considerada a líder do grupo pela alegria de viver. Com o café em sua mão, foi para o quarto. Dizem que arrumar a cama é o primeiro incentivo para começar o dia, trazendo uma sensação de bem estar  para realizar outras tarefas, criando um ciclo positivo. Esticou quele acolchoado todo colorido,  colocando a ultima almofada que dizia “HAPPINESS”. Sentou-se a beira da cama com o café na mão, olhando para aquela palavra, e, percebendo que  a sensação era a mesma - aquele aperto no peito - um certo pânico, e embora ainda de manhã, acendeu as luzes da arvore de natal. Talvez precisasse voltar ao quarto para olhar de novo aquela almofada e interiorizar aquela palavra dentro dela: HAPPINESS.  Repetiu baixinho que nada iria acontecer de diferente aquele dia, e molhando suas plantas,  rezou seus mantras;  estava cansada de culpar a pandemia, as noticias online, os ataques de nervos de quem nao queria tomar a vacina, a maldade politica,  a tempestade de neve em Nova York.  Resolveu entrar no chuveiro, e depois de um bom banho quentinho, arriscou cantarolar baixinho enquanto  encaracolava seus cabelos, como a Farrah Fawcett. Como todos os dias, passou o delicioso crème Loccitane no corpo. Escolheu uma roupinha básica, a famosa leggings, e puxou do cabide a blusa azul, que de acordo com Bruna Lombardi tem efeito, terapeutico. Ajeitou um lenço colorido no pescoço. Não! Não iria deixar que um simples cérebro acordando antes de seu corpo, paralisando-a,  pudesse tê-la deixado nessa agonia toda. Lorena respirou fundo e sorriu para o espelho. E, num ímpeto de loucura, ensaiou uns passos de dança e numa guinada, voltou  a si mesma!



Tema: Conto "A Volta"
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 22/12/2020
Reeditado em 14/07/2021
Código do texto: T7141620
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