Escatologia

É como dizem, um tempo feio, pois chove a ponto de não se ver nada a frente. E a simples tentativa de se atravessar a rua, se faz impossível. Chove, a grosso modo, toda a água do mundo...

E parece assim:

Casas sendo varridas, calçadas levantadas, o esgoto vindo a tona.
É de uma força única o poder das águas.
É físico e sobrenatural ao mesmo tempo.
É água vindo...

Chuva de não acabar... chuva engolindo chuva, para sempre chuva. Tanto que a farta lembrança de um dia de sol, já é esquecida. A chuva não permite esse acontecimento a memória. É chuva eterna aonde quer que haja céu.
Tanta água... e para onde?

Gritos se fazem confundir com os trovões... e esses são os únicos que conseguem rasgar a forte camada de água, com seus raios.
É uma chuva grosseira, uma muralha líquida, um inferno aquático... chuvas torrenciais, deixando o próprio mundo, náufrago.

Dias de chuva já dão a ideia de fim de mundo... e quase já não há altura suficiente para que dela possa escapar.
É só contar os dias... é fácil imaginar o fim. É água vindo, não respeitando obstáculos... é como já dito: tudo ao chão.
É água vindo...

Tanta água que nem se sabe mais o que é chuva e o que é lágrima... Espere! Não é lágrima, e sim suor. Era sonho!... sonho de dilúvio. Porém, acordar não foi o melhor... o mundo é todo um deserto, e não há, sequer, uma única gota d'água potável. A sede é o fim real.
A água não está vindo...


08-08-2014
23h01min

Foto de minha autoria. 
Murillo diMattos
Enviado por Murillo diMattos em 19/01/2021
Reeditado em 19/01/2021
Código do texto: T7163607
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